sábado, 31 de maio de 2014

Bruno Pedrosa - Notas Para um Resenha

              Dimas Macedo

             Sertão Ser Tão Sertão (Bassano Del Grappa – Itália, 2011), de Bruno Pedro, é um livro de texto exuberante e de estilo inconfundível, no qual aparece visível o domínio estético, literário, linguístico e semântico das palavras. Fílmica a claridade das suas reminiscências. Densa, real e humana a caracterização das suas personagens.

             Um livro que pode ser lido como um romance ou como um manual de psicologia e sociologia de uma civilização no sertão do Nordeste, no qual as taras e virtudes atávicas de uma família são tangidas à superfície da linguagem por uma voz interior, ditada pela impostação do ambiente e pelos escaninhos da memória.

            Trata-se de um dos melhores livros sobre a formação social da região Sul do Ceará, fazendo lembrar, talvez, os estudos magistrais de Joaryvar Macedo ou a saga dos nossos colonizadores, descritas por Irineu Pinheiro, João Brígido dos Santos ou Gerardo de Mello Mourão.

            Recomendo a todos a sua leitura saborosa, a arquitetura da sua montagem a partir do filtro da memória, a transparência dos seus quadros, a riqueza de detalhes com que o autor constrói o seu universo.

             É lamentável que esse livro não tenha sido publicado por uma grande editora, e que ainda não seja conhecido pelo público. Nas suas páginas, a erudição funciona com um gosto de leveza e claridade, especialmente porque tecida pelo sentimento e pelos rigores da verdade.

             Não é um livro pedante, mas rascante, marcado pelas vozes de homens e mulheres a quem não foi reconhecido o direito de falar, mas de mourejar debaixo do sol inclemente ou na sombra dos velhos alpendres, ouvindo as sentenças de vida e de morte, ditadas pela Casa Grande e pelos seus ocupantes.

              Os conhecimentos teológicos, culturais e artísticos de Bruno Pedrosa, e os traços essenciais da sua formação antropológica, exsurgem, a cada passo desse livro, na proporção em que o leitor vai penetrando no seu universo literário e desvendo os símbolos verbais e as reminiscências que autor vai arquitetando.

             O Riacho do Machado aparece, nesse livro, não apenas como um leito pelo qual correm as águas que descem das Almacegas ou da Serra Negra, mas como uma medida pela qual a constância e a história dos homens e mulheres são aferidas, a partir da casa grande da Fazenda Catingueira.

              Sertão Ser Tão Sertão me parece um livro propositadamente alojado entre a História e a Literatura, entre a Razão e o Sentimento, entre a Verdade Pessoal e a Consciência Social de um artista, em cuja formação encontramos o Humanismo e o Ceticismo, a Tradição e o Memorialismo.

              Artista plástico de renome internacional, Bruno Pedrosa é um dos intelectuais brasileiros de maior projeção no exterior. Tendo passado pela experiência da clausura, como monge beneditino, e por uma sólida formação cultural, nos domínios da Filosofia e das Belas Artes, Bruno é original e soberano na produção da sua arte, sem a necessidade de pagar tributo às vanguardas ou à moda que necessita ser exibida.

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