Sertão Ser Tão Sertão (Bassano Del Grappa – Itália, 2011), de Bruno
Pedro, é um livro de texto exuberante e de estilo inconfundível, no qual
aparece visível o domínio estético, literário, linguístico e semântico das
palavras. Fílmica a claridade das suas reminiscências. Densa, real e humana a caracterização
das suas personagens.
Um livro que pode ser lido como um
romance ou como um manual de psicologia e sociologia de uma civilização no
sertão do Nordeste, no qual as taras e virtudes atávicas de uma família são
tangidas à superfície da linguagem por uma voz interior, ditada pela impostação
do ambiente e pelos escaninhos da memória.
Trata-se de um dos melhores livros
sobre a formação social da região Sul do Ceará, fazendo lembrar, talvez, os
estudos magistrais de Joaryvar Macedo ou a saga dos nossos colonizadores,
descritas por Irineu Pinheiro, João Brígido dos Santos ou Gerardo de Mello
Mourão.
Recomendo a todos a sua leitura
saborosa, a arquitetura da sua montagem a partir do filtro da memória, a
transparência dos seus quadros, a riqueza de detalhes com que o autor constrói
o seu universo.
É lamentável que esse livro não
tenha sido publicado por uma grande editora, e que ainda não seja conhecido
pelo público. Nas suas páginas, a erudição funciona com um gosto de leveza e
claridade, especialmente porque tecida pelo sentimento e pelos rigores da verdade.
Não é um livro pedante, mas
rascante, marcado pelas vozes de homens e mulheres a quem não foi reconhecido o
direito de falar, mas de mourejar debaixo do sol inclemente ou na sombra dos
velhos alpendres, ouvindo as sentenças de vida e de morte, ditadas pela Casa
Grande e pelos seus ocupantes.
Os conhecimentos teológicos,
culturais e artísticos de Bruno Pedrosa, e os traços essenciais da sua formação
antropológica, exsurgem, a cada passo desse livro, na proporção em que o leitor
vai penetrando no seu universo literário e desvendo os símbolos verbais e as reminiscências
que autor vai arquitetando.
O Riacho do Machado aparece, nesse
livro, não apenas como um leito pelo qual correm as águas que descem das
Almacegas ou da Serra Negra, mas como uma medida pela qual a constância e a
história dos homens e mulheres são aferidas, a partir da casa grande da Fazenda
Catingueira.
Sertão Ser Tão Sertão me parece um livro propositadamente alojado
entre a História e a Literatura, entre a Razão e o Sentimento, entre a Verdade
Pessoal e a Consciência Social de um artista, em cuja formação encontramos o Humanismo e o
Ceticismo, a Tradição e o Memorialismo.
Artista plástico de renome
internacional, Bruno Pedrosa é um dos intelectuais brasileiros de maior
projeção no exterior. Tendo passado pela experiência da clausura, como monge
beneditino, e por uma sólida formação cultural, nos domínios da Filosofia e das
Belas Artes, Bruno é original e soberano na produção da sua arte, sem a
necessidade de pagar tributo às vanguardas ou à moda que necessita ser exibida.
Como consigo este livro?
ResponderExcluirAOCTÁVIO, esse livro foi editado na Itália e ainda não chegou ao Brasil.
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