Entre os primeiros livros de
Joaryvar Macedo, tenho preferência por um deles: Fagundes Varela e Outros Rabiscos (Crato: Empresa Gráfica Ltda,
1978). Trata-se da reunião de vários escritos literários, e aí encontrará o
leitor alguns perfis de escritores que exerceram, sobre ele, no início da sua
formação, uma influência memorável.
Nesse seu conjunto de ensaios,
além do perfil de Fagundes Varela, destaca-se uma síntese da sua monografia de
pós-graduação, na Universidade Católica de Salvador, sobre a obra de Irineu
Pinheiro e seu significado para a historiografia cearense.
Nesse historiador caririense,
descobriu Joaryvar Macedo a metodologia e os aportes da nova historiografia,
sendo Irineu Pinheiro, indiscutivelmente, o seu grande Mestre na área da
pesquisa histórica regional.
Como poeta, Joaryvar Macedo foi um
grande nostálgico e um apologista do sentimentalismo romântico vinculado à
tradição literária, porém, nenhum escritor brasileiro do passado, exerceu tanta
sedução sobre ele quanto o autor de “Cântico do Calvário”.
Quem leu os seus sonetos à antiga,
recolhidos no livro de estreia – Caderno
de Loucuras (Crato: Empresa Gráfica Ltda, 1965) –, deve ter percebido
porque Fagundes Varela passou a ser o poeta preferido de Joaryvar Macedo, que
pranteou, como poucos poetas que conheço, a sua emoção de místico e de esteta e
a sua solidão amorosa.
Fagundes Varela, contudo, não foi
o único escritor da fase romântica a despertar a curiosidade de Joaryvar
Macedo. José de Alencar também chamou à sua atenção, como ficaria patente, seis
anos depois, quando o autor de Os
Augustos (1971) publicou – O Talento
Poético de Alencar e Outros Estudos (Fortaleza: Secretaria de Cultura e
Desporto, 1984).
Em Fagundes Varela e Outros Rabiscos, Joaryvar apresenta o primeiro
desdobramento das suas pesquisas sobre a produção literária do seu pai, o
grande poeta popular lavrense, Antônio Lobo de Macedo, reconhecendo a minha
participação no processo de resgate desse cordelista.
Dissertando sobre a obra do poeta
juazeirense Manuel Ludgero, Joaryvar revela-nos os primórdios da literatura caririense,
mostrando-nos as raízes da sua formação e a ressonância da poesia de Ludgero na
vida social daquela comunidade, nos albores do século dezenove.
Ao lado dos poetas Lobo Manso e
Manuel Ludgero, Joaryvar Macedo põe em relevo, nesse seu livro, a poesia de
Maria Arnaldina de Alencar, natural de Araripe, a qual cantou as belezas do
Cariri cearense como poucos escritores dessa região.
Outro capítulo que ponho em
destaque nesta resenha, é aquele relativo à contribuição de Soriano Albuquerque
para a cultura e as letras caririenses, no qual o autor mostra-nos a sua
erudição e o seu talento de pesquisador e sociólogo, ao examinar a obra daquele
que é considerado o Pioneiro da Sociologia do Brasil.
O ensaio dedicado ao médico e
jornalista Otacílio Macedo constitui o mais refinado entre os textos que compõe
esse pequeno livro. Otacílio Macedo, enquanto jornalista, destacou-se pela sua
entrevista com o Rei do Cangaço, porem antes desse texto de Joaryvar, poucos
conheciam a sua dimensão intelectual e a sua cultura científica.
Pesquisador da literatura
cearense, e não apenas da cultura da sua região, no capítulo final do seu
livro, Joaryvar revela-nos a autoria de uma das letras mais conhecidas do nosso
cancioneiro: “A Pequenina Cruz do Teu Rosário”, atribuindo-a ao poeta Fernando
Weyne, com argumentos e verificação apodítica que chamam de plano a atenção.
Publicado após o seu triunfo de
genealogista, em meados da década de 1970, esse conjunto de ensaios de Joaryvar
Macedo, sempre me tocou de uma forma muito especial. Poucos perceberam, na
época, que o autor de Império do
Bacamarte (1990) havia mudado de tom, e que ali estava nascendo um dos
maiores ensaístas do Ceará.
Fagundes Varela e Outros Rabiscos (1978), ao lado das coletâneas: O Talento Poético de Alencar e Outros
Estudos (1984) e Na Esfera das Letras
(2010), compõe o terceto de livros de ensaios literários de maior destaque na
produção de Joaryvar Macedo.
É livro, portanto, que merece
reedição e que precisa ser conhecido pelas novas gerações, especialmente pelos
que pensam que Joaryvar Macedo foi apenas um historiador, e esquecem que ele
foi um dos nossos melhores escritores e o genealogista nordestino de maior
destaque em todo o Brasil.
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