quarta-feira, 24 de setembro de 2014

A Poesia de Artur Eduardo Benevides

              Dimas Macedo


           O nome de Artur Eduardo Benevides representa um dos momentos mais expressivos da história literária do Ceará. E mais, muito mais do que isso: pela transcendência metafórica da sua alocução criativa e pelo domínio quase absoluto da linguagem e dos ingredientes formais do poema, esse grande escritor cearense não deixa de se revelar como um dos mais importantes poetas do Brasil.

            E se faço esta afirmação inicial, esclareça-se, é para testemunhar não propriamente a minha admiração pela luminosidade da sua produção, mas para ratificar um juízo crítico que, como estudioso do fenômeno literário, trago dentro de mim. Não é, pois, produto de uma inspiração momentânea, posta em discussão para fazer efeito ou impressionar.

            Quem, aliás, com a argúcia de crítico, se der ao trabalho de examinar a sua produção, constatará, por exemplo, que da estreia de Artur Eduardo Benevides, em 1944, com Navio da Noite, até a publicação de Os Deltas do Sonho­ (Prêmio Bienal Nestlé de Literatura – 1988) uma ascendente trajetória literária foi conscientemente executada, através da feitura de poemas tocados pela sensibilidade e pelo traço original e genuíno de um refinado escritor.

              É claro e de conhecimento notório que da poesia de Artur Eduardo Benevides alguns setores da literatura cearense têm cobrado um mais decidido engajamento e um mais contundente discurso social.

              A falácia do engajamento, entretanto, pelo menos para a minha visão de produtor de cultura, é um dilema que somente as pequenas províncias literárias ousam discutir. Contra ele são incisivos tanto os pronunciamentos de Engels ou de Marx, quanto os de Lucien Goldman e, especialmente, os de Georg Lucáks, para quem a literatura consiste na tipificação figurativa da realidade com vistas à transfiguração metafórica do concreto real.

          Neste sentido é que Homero e que Dante, é que Camões ou Petrarca se propuseram ficar, metamorfoseando a realidade que as circunstâncias históricas os induziram a experimentar. É nesse universo misterioso, igualmente, que Artur Eduardo Benevides, mapeando os espaços imaginários e a solidão coletiva do homem de hoje também se autoriza inserir.

             Sua construção literária parece toda ela recortada por um sopro da mais sublime iluminação. Em livros como A Rosa do Tempo e A Rosa do Caos, principalmente, dividindo-se entre o intérmino partir e o quase amanhecer, Artur Eduardo Benevides expõe a face mais decisivamente madura da sua produção.

             Em Os Deltas do Sonho (São Paulo, Editora Scipione, 1988), Artur Eduardo Benevides convence-nos de que é um poeta que experimenta o seu voo maior, num percurso que somente os mistérios da linguagem e as exigências estéticas da sua intuição um dia saberão integralmente avaliar.

            Eleva-se, pois, nesse novo inventário de Artur Eduardo Benevides, a face criativa de um poeta comprometido com as possibilidades do seu engajamento e com a consciência da sua dimensão de produtor cultural. Imensa a sua grandeza de poeta universal e sincero e, por isto mesmo, perdidamente humano e social.