sábado, 13 de dezembro de 2014

Poema de Natal

             Dimas Macedo




                                      


Os Sinos de Natal
são cristalinos
testemunhos de Deus
e fazem bem.

Os Sinos de Natal
nas Torres de Belém
tocam matinas de luz
para um menino.

Nos Sinos de Natal
bronzes divinos
se fundem
e fazem hinos de amor
ao Santo Graal.

Nos Sinos de Natal
a minha infância adolesce
e em seus badalos de ouro
eu ponho a minha prece.

Ouço Jesus falando
em suas partituras.
Teço escrituras de luz
às notas musicais
dos Sinos de Belém.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Caderno de Loucuras

         Dimas Macedo

 


          Não cabe ao historiador imaginar o fato ou caracterizar o contexto histórico sobre o qual se debruça, utilizando apenas a imaginação. A verificação apodítica e o estabelecimento da verdade histórica são os seus instrumentos de trabalho. E não existe liberdade para criação no campo da historiografia.

          Os historiadores não imaginam os fatos; mas quando são, igualmente, criadores, aí, sim, lhes é permitido imaginar a sua obra literária. Coisa rara, na história, tem sido a existência de historiadores que foram também criadores. Joaryvar Macedo é um deles. Não à toa, esse grande escritor cearense figura em três antologias que tratam da nossa poesia.

         No meu livro Lavras da Mangabeira – Roteiros e Evocações (Fortaleza: Secult, 1986) recolhi três poemas de Joaryvar Macedo, todos, a meu juízo, de excelente feitura. Os textos foram extraídos do seu livro de estreia Caderno de Loucuras (Crato: Empresa Gráfica Ltda, 1965), cujo cinquentenário acorreu em 2015.

        Caderno de Loucuras não teve a sorte dos demais livros de Joaryvar, em face de uma circunstância, tão somente: o autor foi impiedoso em localizar e destruir os exemplares que pertenceram a pessoas de sua família, não restando, sequer, os volumes guardados por sua mulher e pelas suas irmãs.

         Também não consegui encontrar aquele que ele destinou ao meu pai, seu irmão e padrinho, a despeito de meu pai possuir todos os primeiros livros do meu tio Joaryvar. Alguma coisa, neste livro, o teria deixado insatisfeito. Mas o que o teria incomodado, de verdade, seria o fato de que o livro representou para ele uma estreia imatura.

         Seria isso mesmo? Eis um enigma que dificilmente será revelado. Quando lhe solicitei consultar esse livrinho, por volta de 1985, almejando copiar os seus poemas referentes ao cancioneiro de Lavras, ele se antecipou e me remeteu os seus poemas que versam sobre essa temática, fazendo o mesmo com o escritor Raimundo Araújo, autor do livro Poetas do Ceará (Fortaleza: Ed. Henriqueta Galeno, 1983).

          Curiosamente, Joaryvar Macedo nunca eliminou este livrinho da sua bibliografia. Fiz um rastreamento em todas as listas de seus livros por ele divulgadas, e em todas, o Caderno de Loucuras aparece. O livro nunca foi rejeitado pelo seu autor, mas o seu conteúdo, sim, e nisso reside uma curiosidade que chama a atenção.

           Murilo Martins, que sucedeu Joaryvar Macedo na Academia Cearense de Letras, e que foi seu médico particular no período que antecedeu à sua morte, nunca conseguiu pôr os olhos neste livrinho e, quando preparava o seu livro Poetas da Academia Cearense de Letras (Fortaleza: Expressão Gráfica, 2014), chegou a duvidar da sua existência. 

          Contudo, eu nunca perdi a esperança de pôr as mãos nesse indigitado caderno de poemas. Em 2013, acreditei que teria um exemplar do livro, não apenas para consulta, mas para a minha propriedade. Foi o que me prometeu Renato Casimiro, um dos grandes amigos de Joaryvar Macedo, mas o volume do Renato, não foi localizado, e não existe nada a respeito desse livro catalogado em bibliotecas do Ceará. 

          Em 2014, banhei-me de um susto, quando, depois de várias décadas, reencontrei-me com o bibliófilo e intelectual, nascido em Lavras da Mangabeira, Anchieta Mont’alverne, que invocou o nome de Joaryvar Macedo, dizendo que possuía um exemplar do seu livro de estreia.

         No início, não acreditei, mas em pouco tempo (por meio de um portador de confiança), Anchieta fez o volume vir de Juazeiro do Norte até Fortaleza, para o meu regalo. Pedi para fazer uma cópia, no que fui atendido. Confiei a operação a Geraldo Jesuíno e o resultado de tudo é esta segunda edição, tirada pelas Edições Poetaria, em 2015. 

        O exemplar que serviu de base a esta tiragem do Caderno, curiosamente, traz o autógrafo do Dr. Aloysio Férrer, ex-Prefeito de Lavras da Mangabeira, a quem o livro foi dedicado. No entanto, nenhum dos possíveis volumes que teriam ficado com o Dr. Aloysio, foi localizado entre os seus papéis.
        Mais um enigma a ser desvendado, pensei. E digo que ganhará um prêmio quem vier a encontrar o volume pertencente ao próprio Joaryvar.
  
                                                                                                                           Caderno de Loucuras, 2ª ed.
                                                                                                                          Fortaleza: Edições Poetaria, 2015


quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Lavras da Mangabeira - Roteiros e Evocações


            Dimas Macedo


     Com Lavras da Mangabeira – Roteiros e Evocações (Fortaleza: Secult, 1986) procuro documentar a face de um projeto cuja realização não se concretizou. Concebido, possivelmente, entre 1978 e 1979, confesso que ainda não o considero maduro para satisfazer às minhas exigências.

           Publico-o mais para atender à uma decisão que, no futuro, considero difícil de ser proferida, do que, propriamente, para satisfazer a uma vaidade pessoal que, com relação a esse livro, confesso já não existir.

   Essa coletânea reúne fragmentos do Cancioneiro de Lavras da Mangabeira, que ora se publica em reduzidas proporções, assim como em diminutas proporções se apresentam as citações em prosa que a antecedem.

    O trabalho de dimensões maiores a que me refiro, antecedido de breve introdução, acerca da literatura lavrense, foi organizado em 1981, quando reuni quase uma centena de poemas cuja temática tinha como motivos Lavras da Mangabeira e sua comunhão com o Rio Salgado.

     Esse pequeno caderno de poemas, intitulado: Lavras da Mangabeira – Roteiro e Evocações, eu o ofereço à sensibilidade dos lavrenses, a quem o conteúdo dos seus textos parece destinado, em primeiro lugar.

     O livro encontra-se dividido em três segmentos: a) uma parte introdutória, com textos em prosa; b) uma sequência enfeixando cantares à cidade de Lavras; c) um conjunto de poemas cuja motivação maior é o Rio Salgado.

      Registro, por fim, que não é a mim que este livro deve prestar homenagens. Sendo os poemas enfeixados patrimônio da cultura lavrense, é ao povo de Lavras que pertencem estas lições de amor à terra de berço.

                                                                Fortaleza, 31 de outubro de 1986

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

A Letra e o Discurso de Dimas Macedo (DN)

            Diário do Nordeste – 19/08/2014       


             A arte do pensamento por imagens, os assomos da intuição, a busca de um sistema de objetos indissociados, os domínios expressionais de afinidades, o movimento e a oscilação da escrita, entre a ficção e a reflexão. É a partir dessa síntese conceitual apertada e, ao mesmo tempo, profunda, que o escritor cearense Dimas Macedo procura definir os textos ensaísticos que permeiam a nova edição do seu livro A Letra e o Discurso: ensaios e perfis literários (Fortaleza: Editora UFC, 2014).
          "O ensaio é tudo o que importa e é tudo que empresta sentido e unidade aos acertos da minha produção", define. E, dentro dessa perspectiva, reúne nesta edição um conjunto de prefácios, resenhas e perfis, escritos entre 2003 e 2013 e que se enquadram perfeitamente na proposta desse gênero literário.
             A bagagem de 25 livros publicados, dentre os quais oito de poesia, sete de crítica e dez de ensaios, conferem ao autor a experiência necessária para apostar em textos aparentemente díspares ou desconectados, porém sintonizados com a estética do desejo e da recepção, tal como ele mesmo apresenta.
             É bebendo da fonte de Sainte-Beuve, Hume, Emerson, Montaigne, Barthes, Cioran, Octavio Paz e Albert Camus (no plano do sistema literário), e Gustav Jung (no campo da escritura do inconsciente), que Dimas desvela a cultura do ensaio a qual vincula boa parte de sua obra.
             Ciente de que enfrenta um objeto cultural maior do que ele, visto que o conhecimento sobre o mundo e a realidade é sempre opaco e superficial, o ensaísta aproveita da liberdade de criação autoral proposta pelo gênero e coloca-se entre a ficção e a investigação de ordem filosófica como forma de se autoapresentar. E consegue.
             Ao folhear os textos presentes em A Letra e o Discurso, o leitor poderá dialogar não só com os autores sobre os quais Dimas tece suas críticas, como também debruçar-se na produção de conhecimento do próprio crítico.
             Faz-se, portanto, um mergulho em direção ao testemunho pessoal e à reflexão obsessiva de um escritor em constante ebulição e disposto a construir com leveza, e munido de uma objetividade subjetiva, os caminhos que levam à produção do saber.
            Nesse sentido, ele busca em seu livro, estabelecer a ponte entre esse conhecimento e a comunicação com o futuro, desprendendo-se do sistema de ideias no qual se encontram inseridos seus objetos de reflexão.

              Seleção

              Em 173 páginas e trinta textos, Dimas Macedo apresenta uma infinidade de obras teóricas e literárias reunidas a partir de uma conversa estabelecida entre leituras diversas. As referências a autores nacionais e internacionais, bem como a valorização dos expoentes locais se fazem presentes em grande escala nos ensaios produzidos por ele.
              O texto de abertura, por exemplo, condensa a visão do autor sobre a obra do contista Samuel Rawet a partir da análise feita por Vládia Mourão em seu livro – Escritura do tempo no conto de Samuel Rawet (Fortaleza: Edições Poetaria, 2007). Assim como nos ensaios subsequentes a este, Dimas, não só faz referência à vida e ao trabalho do escritor estudado, como também, busca explicitar o caminho percorrido por quem dedica sua pesquisa a ele.
              Com esta intenção, ele vai traçando perfis literários diversos, não se abstendo de apresentar, por entre as análises, um pouco do que ele mesmo representa como poeta, crítico e historiador.

            Enciclopédia

             Assim, com textos profundos, ainda que leves e curtos, o leitor ganha, aos poucos, uma série de referências e indicações de leitura, fazendo do livro de Dimas uma enciclopédia flutuante.
            Flutua-se, diga-se de passagem, pelos mais diversos gêneros. Conto, crônica, prosa, poesia. Tudo tem vez na análise crítica do escritor, que faz do próprio trabalho um instrumento de divulgação de outros tantos estreantes na cena nacional.
            Giselda Medeiros, João Clímaco Bezerra, Aíla Sampaio, Ronaldo Brito, Sânzio de Azevedo, Patativa do Assaré, Chico Buarque, Mano Alencar e Pablo Neruda são apenas alguns dos nomes contemplados no livro.
             Direta ou indiretamente, seja por meio de livros escritos por eles ou de análises das suas obras, cada um deixa a contribuição no todo costurado com sensibilidade por Dimas. Entre os movimentos e as oscilações da escrita, o autor firma, portanto, um pensamento coletivo e, acima de tudo, transformador.

O Poeta do Salgado



                  Rosa Firmo


                 

                         A perfeição é atingida não quando há nada a acrescentar;
                                    mas quando não há mais  nada a tirar”(Saint–Exupéry).

            Descerro as cortinas do vasto celeiro literário cearense com muita delicadeza, na tentativa de discorrer sobre o poeta, escritor, crítico literário e jurista, Dimas Macedo.
            Para escalar essa jornada, com a permissão das deusas que habitam em mim, aspergirei com ramos de rosas do mato as colinas de Lavras da Mangabeira e assim impregnarei de aromas o rio de sua infância, o Salgado; para assim emergir o poeta de lirismo inquieto, povoado por musas, personagens, lugares e tempo. Nesse desafio tentarei discorrer resumidamente alguns detalhes sobre o autor e sua obra.
            Nasceu Dimas Macedo na cidade de Lavras da Mangabeira, Ceará, Brasil, 14 de setembro de 1956, às margens do Salgado, rio que ele canta com derramamento, sentimentos, telurismo e com seu imensurável amor à sua Pátria Amada. Podemos conferir no seu poema Lavras:
            Longe daqui do tumulto, / lá no meio das coisas, / prostrada para o universo, / posto que existe, / Lavras é a cidade mais bela do mundo, pois em cada rua / nasce uma saudade / que termina em meu corpo.
            Dimas Macedo é um ser humano de personalidade multifacetada e de extensa obra. Por isso, falar sobre ele é para mim um exercício de ousadia, pois sua dimensão intelectual vai afora do mundo real. Sua produção é pontuada pelo rigor estético. O seu humanismo explora o enigma do ser humano...
            Sua densa formação literária deve-se, sobretudo, às suas vastas leituras. Conheci o Dimas Macedo nas livrarias do centro da cidade de Fortaleza, especificamente na livraria Livro Técnico. Ele sempre à procura de adquirir livros, na sua inquietude pelo saber. Afirma que leu muito Dostoievski, Fernando Pessoa, Manuel Bandeira, Cecília Meireles, Clarice Lispector, Augusto dos Anjos, Machado de Assis, Graciliano Ramos e outros.
            Pode-se afirmar que ele é homem de múltiplos talentos; serve ao mesmo tempo à arte literária e ao exercício de professor e jurista. Demonstra, em primeira mão, seu amor pela poesia, daí preferir ser chamado de poeta, a despeito de jurista. Pode-se conferir, através de seus primorosos livros de poemas, a sua forma especial de lidar com as palavras, seu pensamento reflexivo e filosófico.  Vejamos em: “Estrofes”:
            Talvez tenha dito o Eclesiastes / que nada existe sobre o Sol, / mas pouco disse da Lua e quase não falou / do sonho que reside m cada um de nós. / A tarde preguiçosa também se levanta e dengosa é a canção do vento que remove / o lixo da história e a torre de Babel. / O sal do tempo se renova e passa, / assim as escrituras todas passaram, / deixando sobre a terra a crença na expressão / e sob os raios do sol a arte da palavra.
            Poemas e textos de sua autoria foram vertidos para o inglês e o espanhol e publicados em Portugal, Espanha e Inglaterra, Argentina, Estados Unidos, tendo igualmente trabalhos de sua autoria divulgados nos principais jornais e revistas do Ceará e do Brasil.
            Como artesão da arte literária, Dimas Macedo conta com uma extensa obra. Tem diversos livros de poemas publicados, a saber: A Distância de Todas as Coisas (Fortaleza: Secult, 1980; 2a ed.: Fortaleza: Livraria Gabriel, 1987; 3a ed.: Fortaleza: Imprensa Universitária, 2001, 80 p); Lavoura Úmida (Fortaleza: Editora Oficina, 1990; 2a ed.: Salvador: Editorial Seges, 1996; 3ª ed.: Fortaleza: Edições Poetaria, 2010, 80 p.); Estrela de Pedra (Brasília: Editora Códice, 1994; 2ª ed.: Teresina: Oficina da Palavra, 2005, 72 p.); Liturgia do Caos (Brasília: Editora Códice, 1996, 48 p.); Vozes do Silêncio (Fortaleza: Imprensa Universitária, 2003, 92 p.); Sintaxe do Desejo (Fortaleza: Edições Poetaria, 2006, 132 p.); O Rumor e a Concha (Fortaleza: Edições Poetaria, 2009, 94 p.); {Guadalupe} (Fortaleza: Edições Poetaria, 2012, 60 p.).  Sua vasta obra ainda inclui: seis livros de Crítica, cinco de ensaios, cinco de pesquisas, sete na área do direito, oito opúsculos, dois de Separata, dois de parceria, três livros organizados, cinco livros organizados de outros escritores, seis na área da Discografia, treze Audiovisuais.
            É membro da Academia Cearense de Letras. Integra o Conselho Editorial de vários jornais e revistas culturais, a saber: revistas Espiral e Literapia (Fortaleza); revista Literatura (Brasília); revista Morcego Cego (Santa Catarina), entre outras. Compõe também o Conselho Editorial das Edições UFC, o conselho de publicações da Editora Códice, o Conselho Editorial das Edições Livro-Técnico e o Conselho Editorial do Museu – Arquivo da Poesia Manuscrita. 
            Assim, consolidando sua carreira de exímio artista, Dimas é um poeta veterano com larga experiência na crítica literária e nos fenômenos interiores da poética. É um dos bardos que figura na seara literária cearense, na fileira de outros nomes, como Virgílio Maia, Giselda Medeiros, Roberto Pontes, Floriano Martins, Adriano Espínola.          Dimas incursiona no campo da poesia com sucesso e maestria, bem como nos domínios da prosa, com crítica literária, biografias, pesquisas, ensaios e outros.
            Na Academia Cearense de Letras, Dimas é considerado o benjamim, uma vez que, ao ser eleito para a Academia, contava apenas trinta e dois anos de idade, e continua sendo, nos dias atuais, o mais jovem entre seus confrades. Em entrevista a Barros Pinho, ele afirmou que foi eleito para a mesma pelo seu valor literário, mas por força maior do amigo Claudio Martins.
             Nas sendas dessa gloriosa militância no campo das letras, em nosso meio, com uma intensa atividade literária artístico-cultural, Dimas Macedo fundou a Academia Lavrense de Letras – ALL, da qual é presidente; para assim privilegiar sua terra natal, celeiro de grandes intelectuais, escritores, poetas populares, artistas e poetas de grande porte como Filgueiras Lima, Linhares Filho, Batista de Lima, entre outros.
           Na sua jornada literária, realizou, nos últimos meses deste ano, um trabalho inaugural, o projeto, “Literatura nas escolas”, percorrendo diversas escolas do município de Lavras da Mangabeira com palestras e entrevistas. Considero dignificante esse trabalho, porquanto o escritor vai onde os leitores estão; vai até as escolas. Nossa sociedade cearense precisa de elegância.
            Da obra de Dimas Macedo, o que mais me encanta e que considero uma oração é o texto “Confissão de Fé e Transcendência” (Crítica Dispersa, página 159-2003). Dimas como gênio e sábio deve ser coroado pelos louros colhidos nos arvoredos lavrenses.
                                                                                                                                        Fortaleza, 19 de outubro de 2014

sábado, 6 de dezembro de 2014

Afonso Banhos - Ensaios de Filosofia



  Cristina Couto



O prazer de ler, pensar e filosofar potencializou o homem Afonso Banhos e o colocou no mais alto patamar da intelectualidade cearense do seu tempo.  Ler melhora nosso pensamento, alimenta nossa alma e nutre nosso intelecto. Filosofar é pensar, é também fazer uma leitura do mundo. Foi assim que Afonso Banhos equacionou seus artigos e seus escritos, em uma obra preciosa e, acima de tudo, filósofica. Obra, hoje atualizada e ampliada em um livro, escrito pelo nosso conterrâneo, intelectual e, acima de tudo, amigo, Dimas Macedo, que com muita maestria expressou e registrou os escritos do filósofo lavrense Afonso Banhos. 

No livro – Afonso Banhos: Ensaios de Filosofia (Fortaleza: LCR, 2013) – , Dimas nos propõe, não só analisar os fundamentos lógicos do conhecimento, mas fazer a reconstrução da filosofia da qual Afonso Banhos mergulhou. A história e sua análise de significação colecionaram inúmeros argumentos que nos trazem a sua verdadeira clareza, e nos fazem ver que o material histórico não possui a inercia estabilidade, mas a plasticidade fluida dos impulsos do espírito que, graças à sua sensibilidade, pode chegar a  uma análise de significação, com o objetivo de alcançar uma visão global do histórico, de um espetáculo de momentos, e não apenas de fatos. A história cronológica é apenas uma sucessão de acontecimentos datados, desordenados e arranjados que para o filósofo da cultura nada mais interessa a não ser os instantes promovidos pela significação de dado momento ou de dada cultura. 

Como um bom filósofo, Afonso Banhos debruçou seus pensamentos e reflexões sobre a morfologia da história brasileira, e com a astúcia de uma águia e a sabedoria de uma coruja, observou que a falta de ligação entre os fatos, e o otimismo aparente dos acontecimentos causaram incertezas nos fenômenos sócio-históricos brasileiros. 

Notas muito pertinentes para o mundo acadêmico dos nossos dias, pois estamos passando a história do Brasil a limpo.

Conhecer os escritos de Afonso Banhos é mergulhar no poço da filosofia de onde se bebe do saber dos mais conceituados filósofos da era moderna, como Kant e Hegel, estes foram os primeiros filósofos por ele consultado. A máquina produtiva que foi esse filósofo lavrense lhe rendeu o protagonismo e o destaque na cena cultural de Fortaleza, frequentador que foi Afonso Banhos das rodas literárias, dos cafés e dos points de grande efervescência. 

  Afonso foi um dos criadores da secção cearense do Instituto Brasileiro de Filosofia, onde integrou a primeira diretoria como secretário-geral. Deu tanta ênfase no que fez que o próprio Nietzsche poderia muito bem defini-lo: “se a tudo o que fazemos o fazemos com ênfase, todo dia será o eterno retorno de um prazer.”

Pensar e filosofar para Afonso Banhos era um prazer; descobrir lavrenses e revela-los tem sido a missão de Dimas Macedo, e o que tornam esses dois homens especiais são o estado de ser do filósofo e a sagacidade do poeta, ou seja: assim como Afonso Banhos nos presenteou com seus fragmentos filosóficos, o nosso querido Dimas Macedo teve o cuidado e a competência de organizar e o compromisso de publicar os seus escritos, descortinando nas suas páginas nesse livro o talento de um homem há muito esquecido.

 Ler é uma forma de pensar. E pensar é uma forma de ver o mundo. Foi lendo, pensando e filosofando que se deu o encontro poético-filosófico de Dimas Macedo com Afonso Banhos. Dois gigantes lavrenses que elevam o nome de nossa terra aos mais altos níveis do conhecimento e da intelectualidade cearense.

                                                             Fortaleza, 06 de novembro de 2014