terça-feira, 15 de julho de 2014

Oitavas Para um Plantador de Sonhos

                                      Barros Alves

  Aquarela de Rosa Firmo

Meu caro Dimas Macedo

O teu livro é um torpedo,

Eis um poeta sem medo

De enfrentar a solidão,

Qual o Homero da Odisseia

O teu verso é epopeia,

És zelota da Judeia

Fazendo a revolução.


Tu me deste uma “Lavoura...”

Que já não é mais caloura

Onde a Poesia estoura

Numa sublime explosão!

E eu colhi com alegria

Esta magna cantoria,

Digo que há muito eu não via

Tão poética “plantação”.


Lavoura Úmida de rimas,

De fantasias opimas,

Meu caro poeta Dimas,

Teu verso tem perfeição;

Enleva a tua escritura,

Que é tempestade e ternura,

Tua poesia pura

É lucidez e paixão.


Este teu cantar alado,

Majestoso e ritmado,

Do coração libertado,

É sonho, grito, ilusão...

São vagas encapeladas,

São as orações rezadas

Por gentes nordestinadas

Carregadas de emoção.


As solidões dos momentos,

Do povo pobre os lamentos,

Dos heróis os sofrimentos

Tu cantas com precisão.

E a vastidão do poema,

A imensidão do tema

Transformam teu teorema

Em divina criação.


Dimas, amigo de guerra,

O teu verso não emperra,

Tua poesia encerra

A mais profunda emoção:

É grito desesperado,

É um sorriso pejado,

Sonho peito encravado

Qual punhal de Lampião.


É Quixote, é Sancho Pança,

Os Doze Pares de França,

É tempestade é bonança,

É o mais fero furacão.

É mito, é rito, é edito,

É hino, é reza, é bendito

E é balido de cabrito

Nas quebradas do sertão.


Lusa lira de Camões,

De Vieira é Os Sermões,

Cantoria dos sertões

Sem perder a erudição,

Tua inspiração não falha,

É fragrância que espalha;

Teu verso é como navalha

Penetrando o coração.


No verso encontraste a meta,

Se por um lado és esteta

Por outro lado és profeta,

Das musas tens a unção.

O teu verso é mais bonito,

É riso, é lamento, é grito

Subindo pelo infinito,

Se espargindo na amplidão.


Lavoura Úmida, de fato,

Prova que és poeta nato,

Pois trazes no peito intacto

O delírio da ilusão.

Os frágeis versos que faço

E o perfil que agora traço

Mando-te com o meu abraço

Cheio de admiração.

                                                                                   Fortaleza, 1990
        

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Rui Facó - O Homem e Sua Missão

                 Dimas Macedo


                Terminei a leitura de Rui Facó – O Homem e Sua Missão (Fortaleza: Omni, 2014), de Luís-Sérgio Santos. A pesquisa foi publicada em convênio com o Inesp, no âmbito da coleção Biografias, e traz a marca editorial da Fundação Astrojildo Pereira, de Brasília.

               O que propõe esse livro? Uma abordagem acerca da vida e da obra de um dos nossos maiores intelectuais – Rui Facó –, natural de Beberibe (Ceará) e autor de livros fundamentais para a compreensão da nossa formação, tais os casos de Brasil – Século XX (traduzido em diversos idiomas) e Cangaceiros e Fanáticos, um dos clássicos da sociologia brasileira, ao lado de Os Sertões, de Euclides da Cunha, e Casa Grande e Senzala, de Gilberto Freire.

               Escrito por um dos nossos melhores jornalistas – Luís-Sérgio Santos –, o livro traz um cheiro bom de reportagem, abrindo um leque que vai da morte de Rui Facó, numa queda de avião, na Cordilheira dos Andes, até o encontro desse personagem com a sua missão de escritor e de aguerrido militante do Partido Comunista Brasileiro.

              O livro de Luís-Sérgio Santos acha-se recheado de vários documentos e traz uma rica e diversificada iconografia, que passa por Beberibe, no Ceará, Salvador, Rio de Janeiro, Moscou e diversos lugares do Brasil e do Mundo por onde passou Rui Facó com o fervor da sua inquietude.

              Livro denso e humano a um só tempo, Rui Facó – O Homem e Sua Missão é uma das melhores pesquisas de caráter biográfico publicadas no Ceará, nos últimos tempos. Li e recomendo a todos a sua leitura, porque diversificada a sua riqueza de detalhes e rico o seu conteúdo, e porque instigantes as suas linhas de montagem e a sua linguagem.

              A leitura de Cangaceiros e Fanáticos, ainda na década de 1970, abriu os meus olhos para a metodologia de corte dialético que preside à sua redação e à análise das estruturas sociais que forjaram o banditismo e o misticismo no Nordeste. Esse livro de Rui Facó foi, portanto, a minha primeira forma de aproximação com a visão marxista de compreensão da existência social.

              Luís-Sérgio Santos, o autor desse livro sobre Rui Facó, foi meu editor no suplemento de cultura do Diário do Nordeste, no início da década de 1980, e a sua formação, acerca dos meios de comunicação, ajudou a transformar a concepção do jornalismo e da informação entre nós.

              Rui Facó não foi apenas um cientista social e um conhecedor da cena política brasileira. Passou para a história, também, como jornalista e intelectual, dos maiores que o Brasil conheceu, não apenas no transcurso do século passado, justificando, com certeza, a biografia que agora lhe foi dedicada.