Cristina Couto
O prazer de ler, pensar e filosofar potencializou o homem Afonso Banhos
e o colocou no mais alto patamar da intelectualidade cearense do seu
tempo. Ler melhora nosso pensamento, alimenta nossa alma e nutre nosso
intelecto. Filosofar é pensar, é também fazer uma leitura do mundo. Foi assim
que Afonso Banhos equacionou seus artigos e seus escritos, em uma obra preciosa
e, acima de tudo, filósofica. Obra, hoje atualizada e ampliada em um livro,
escrito pelo nosso conterrâneo, intelectual e, acima de tudo, amigo, Dimas
Macedo, que com muita maestria expressou e registrou os escritos do filósofo
lavrense Afonso Banhos.
No livro – Afonso Banhos: Ensaios
de Filosofia (Fortaleza: LCR, 2013) – , Dimas nos propõe, não só analisar
os fundamentos lógicos do conhecimento, mas fazer a reconstrução da filosofia
da qual Afonso Banhos mergulhou. A história e sua análise de significação
colecionaram inúmeros argumentos que nos trazem a sua verdadeira clareza, e nos
fazem ver que o material histórico não possui a inercia estabilidade, mas a
plasticidade fluida dos impulsos do espírito que, graças à sua sensibilidade,
pode chegar a uma análise de
significação, com o objetivo de alcançar uma visão global do histórico, de um
espetáculo de momentos, e não apenas de fatos. A história cronológica é apenas
uma sucessão de acontecimentos datados, desordenados e arranjados que para o
filósofo da cultura nada mais interessa a não ser os instantes promovidos pela
significação de dado momento ou de dada cultura.
Como um bom filósofo, Afonso Banhos debruçou seus pensamentos e
reflexões sobre a morfologia da história brasileira, e com a astúcia de uma
águia e a sabedoria de uma coruja, observou que a falta de ligação entre os
fatos, e o otimismo aparente dos acontecimentos causaram incertezas nos fenômenos
sócio-históricos brasileiros.
Notas muito pertinentes para o mundo acadêmico dos nossos dias, pois estamos
passando a história do Brasil a limpo.
Conhecer
os escritos de Afonso Banhos é mergulhar no poço da filosofia de onde se bebe
do saber dos mais conceituados filósofos da era moderna, como Kant e Hegel,
estes foram os primeiros filósofos por ele consultado. A máquina produtiva que
foi esse filósofo lavrense lhe rendeu o protagonismo e o destaque na cena
cultural de Fortaleza, frequentador que foi Afonso Banhos das rodas literárias,
dos cafés e dos points de grande
efervescência.
Afonso foi um dos criadores da secção
cearense do Instituto Brasileiro de Filosofia, onde integrou a primeira
diretoria como secretário-geral. Deu tanta ênfase no que fez que o próprio
Nietzsche poderia muito bem defini-lo: “se a tudo o que fazemos o fazemos com
ênfase, todo dia será o eterno retorno de um prazer.”
Pensar e filosofar para Afonso Banhos era um prazer; descobrir lavrenses
e revela-los tem sido a missão de Dimas Macedo, e o que tornam esses dois
homens especiais são o estado de ser do filósofo e a sagacidade do poeta, ou
seja: assim como Afonso Banhos nos presenteou com seus fragmentos filosóficos,
o nosso querido Dimas Macedo teve o cuidado e a competência de organizar e o
compromisso de publicar os seus escritos, descortinando nas suas páginas nesse
livro o talento de um homem há muito esquecido.
Ler é uma forma de pensar. E pensar é uma forma de ver o mundo. Foi lendo,
pensando e filosofando que se deu o encontro poético-filosófico de Dimas Macedo
com Afonso Banhos. Dois gigantes lavrenses que elevam o nome de nossa terra aos
mais altos níveis do conhecimento e da intelectualidade cearense.
Fortaleza,
06 de novembro de 2014
Nenhum comentário:
Postar um comentário