quarta-feira, 21 de maio de 2014

Joaryvar Macedo: Ensaios e Perfis

           Dimas Macedo

  

          Ensaios e Perfis, de Joaryvar Macedo (Fortaleza: Casa de José de Alencar / UFC, 2001), de alguma forma, já havia sido por ele planejado, pouco antes da doença que o levou à morte prematura, aos 29 de janeiro de 1991. Conversamos sobre isso em mais de uma oportunidade e ele pensava mesmo em editar um livro com os seus escritos mais significativos.


         Eu lhe propus, certa feita, a organização de um volume reunindo, unicamente, os seus melhores estudos literários, publicados e inéditos. Joaryvar gostou da proposta, entusiasmou-se um pouco com a ideia, porém fixou-se no projeto de Ensaios e Perfis, o qual, lamentavelmente, não foi concretizado, mesmo tendo ele se esforçado para reunir os dispersos que lhe diziam de perto à sensibilidade. 


        Império do Bacamarte (Fortaleza, 1990), sua obra-prima e seu último livro, foi por ele pensado logo após a conclusão de A Estirpe da Santa Teresa (1976), a sua pesquisa genealógica de maior expressão. A sua redação, no entanto, somente ocorreu no segundo semestre de 1989, sendo publicado no ano seguinte, pela Casa de José de Alencar, por decisão do Professor Antônio Martins Filho. 


       Convertido em clássico do coronelismo nordestino, esse livro de Joaryvar Macedo foi reeditado em duas oportunidades. Trata-se do seu supremo monumento estético e literário. 


        Os seus arquivos pessoais, que andaram, inicialmente, desaparecidos, foram encontrados pelos seus amigos, professores Melquíades Pinto Paiva e Antônio Renato Soares Casimiro, em 1999. Eles trouxeram à tona um volume inédito de Joaryvar Macedo, Na Esfera das Letras, contendo resenhas de crítica literária e cuja edição formatei e revi, a pedido da Secretaria de Cultura do Estado, por onde foi publicado, em 2010. 


         Se a saúde lhe tivesse permitido, em julho de 1990, Joaryvar Macedo teria ido a Princesa, na Paraíba, para examinar os autos do processo-crime referente à morte do Dr. Ildefonso Augusto Lacerda Leite, primeiro neto de Dona Fideralina  a doutorar-se em Medicina, cujo assassinato, aos 6 de janeiro de 1902, desencadeou a primeira importante decisão da grande coronela lavrense, sobre quem o autor de Os Augustos pensava em escrever uma biografia. 


        Somente dessa forma, para um historiador da sua envergadura, examinando in loco as fontes primárias de pesquisa, fazia-se possível completar a redação desse livro, que era um dos seus projetos, mas que ele não pôde concluir como desejava.


        Joaryvar deve ter parado o seu trabalho de pesquisa possivelmente aí, não podendo sequer comparecer ao lançamento de Império do Bacamarte, em Lavras da Mangabeira, aos 26 de julho de 1990, cabendo-me fazer a apresentação do livro, por sua indicação aos organizadores do evento. 


        Ensaios e Perfis não reúne o conjunto de todos os ensaios inéditos de Joaryvar Macedo. Por recomendação do seu editor, o livro cuja organização e prefácio me foram confiados, não podia ter acima de trezentas páginas. Impunha-se uma seleção dos escritos, em consonância com o que parecesse mais representativo do pensamento de autor.

 

        Assim procedi, depositando o que restou do trabalho, nos arquivos do Instituto do Ceará, em harmonia com o editor de Joaryvar Macedo. O Professor Antônio Martins Filho o tinha quase como um filho, chamando-o de seu grande amigo, em artigo publicado no jornal O Povo, após a sua morte.


        Joaryvar Macedo para mim é um Mestre, e eu me orgulho, também, de ser sou sobrinho. Foi ele o primeiro escritor que procurei imitar e aquele que exerceu sobre mim a maior de todas as influências.

 

                                                                                                                                                                              Fortaleza, 2001  




4 comentários:

  1. Compareço apenas para dizer que li também mais este valioso artigo sobre Joaryvar.

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    1. Escrivão Joaquim Furtado, grato pela leitura do meu artigo sobre Joaryvar Macedo

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  2. "Se a saúde lhe tivesse permitido, ele teria, em julho de 1990, ido ao Município de Princesa, na Paraíba, para examinar os autos do processo-crime referente ao assassinato do Dr. Ildefonso Augusto Lacerda Leite" (extraí).

    Caro Dimas, por essa época eu residia na Capital paraibana e é até possível que me encontrasse em Princesa Isabel/PB, ou nas proximidades (Tavares, Juru, Teixeira, Patos...) pelo mês de Julho de 1990. Sei com certeza que estive em Princesa no início daquele ano em que Joaryvar pretendia visitar a terra do Coronel Zé Pereira.

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