segunda-feira, 20 de agosto de 2012

As Cidades de Chico Buarque

         Dimas  Macedo

                                             
                Chico Buarque de Holanda pertence a uma elite de intelectuais brasileiros que, em face de sua competência e militância, alcançaram ressonância internacional. A essa elite pertencem Vinícius de Moraes e Tom Jobim, Celso Furtado e João Cabral, Augusto Boal e Gilberto Gil.
                As raízes do samba e a malandragem carioca, o nacionalismo político de Getúlio, a aventura musical da Bossa Nova e a repressão militar da década de 1960 jogaram o destino do Brasil nas mãos de Chico Buarque de Holanda: misto de compositor e teatrólogo, romancista e intérprete da contextura lírica do Brasil.

             O poeta, o cronista, o militante político, o intelectual e o letrista estão em Chico Buarque como em nenhum outro representante da nossa estética cultural e política.

             Sempre carregou na alma os estigmas da herança paterna, provinda do refinamento e da reflexão de Sérgio Buarque de Holanda, que pôs em questionamento os sentidos da brasilidade e o chamado jeitinho brasileiro.

               As Raízes do Brasil de Sérgio Buarque de Holanda são as raízes que sempre alimentaram a escansão poemática de Chico Buarque, quer do ponto de vista da nossa formação social, ou ainda quando tomada a musicalidade das suas letras a partir da nossa urbanidade e da nossa memória coletiva.

Chico Buarque de Holanda é uma espécie de síntese do Brasil profundo, da nação que nunca se curvou diante do arbítrio. A sua voz e a sua sensibilidade serviram, durante muito tempo, de esteio do povo brasileiro, porque um intelectual, comprometido com a sua consciência, constitui uma força social que se eleva muito acima da norma do Estado.
            Neste texto, contudo, não pretendo falar da personalidade de Chico Buarque de Holanda, sequer do seu perfil de intérprete da nossa música popular. Sobre ele muito já se disse, mas é certo também o afirmar-se que muita coisa ainda resta a dizer.

E entre as coisas que ainda resta a dizer, sobre o discurso e a prática musical de Buarque, eu queria destacar as suas relações com as cidades, ou com a problemática do espaço urbano, especialmente porque não existe apenas uma, porém diversas personas por trás desse grande artista brasileiro.
                Sei que existem livros seminais sobre Chico Buarque de Holanda, tais os de Adélia Bezerra de Menezes (Poesia e Política em Chico Buarque de Holanda), Rinaldo de Fernandes (Chico Buarque do Brasil) e Wagner Homem (Histórias de Canções – Chico Buarque), mas o texto de Cristina de Almeida Couto - As Cidades de Chico Buarque (Fortaleza, Edições Poetaria, 2010) é um livro que, de plano, nos chama a atenção.

               A autora, jornalista e publicitária de talento, reveste o seu discurso com as cores da comunicação e com os recortes da estrutura lírica da linguagem, pois que no livro uma escrita sensível parece nos trazer de volta a emoção e os olhares de Buarque acerca da estética das urbes.

                 O livro é resultado de uma pesquisa acadêmica da autora, feita com o rigor da síntese e da retificação das fontes, o que mostra a seriedade com que Cristina abordou o seu objeto de trabalho.

    A abertura do sumário entremostra o viés analítico da autora, as suas linhas de força, a sua precisão semântica e imagética, pois que de imagens são feitas a perspectiva e o tecido maduro do ensaio.

              Claro que se trata de um livro de estreia, onde a indecisão parece pontuar a travessia do texto, mas o que se constrói no livro como lição de amor a um ícone da música popular parece ser a chave com que Cristina revela todas as cidades de Buarque.

            Por último, registro que Cristina Couto é uma pessoa extremamente ética e cativante, pois que nos toca o coração com a sua verdade. A ela muito devem a cidadania ativa e as discussões sobre o meio ambiente e o patrimônio histórico de Lavras da Mangabeira.

           Amante da cultura lusófona, tem sido, no Ceará, uma irrequieta promotora de eventos e encontros que colocam a lusofonia e a lusofilia como pontos de observação.

         Honra-me a condição de ser seu conterrâneo, e orgulho-me, por igual, de ter lido de primeiro a escritura sensível deste livro.

Um comentário:

  1. Dimas, fazer parte do seu blogger e do seu grupo de amigos me honra e me orgulha muito. Sou muito pequena diante de uma pessoa tão grande.
    Cheiro.
    Te amo.
    Cristina Couto.

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