sexta-feira, 31 de agosto de 2012

A Arte de Mano Alencar

            Dimas Macedo

    
                                                           
          No seu tratado sobre a doutrina das cores, Goethe mostra-nos o quanto é ilusório pensar que as cores existem para além do ponto de vista do sujeito. Por outro lado, a partir da estética de Hegel, ganhou notoriedade o fato de que a beleza, tanto da arte quanto da vida, passa, necessariamente, pelo crivo da nossa visão interior.

         As cores são polares, isto é, transmutam-se umas nas outras e reinam umas sobre as outras dependendo da ótica com a qual observamos a policromia das artes ou da natureza, com o passar do tempo.

        Vivemos um momento em que o branco e o preto passaram a ganhar uma austeridade toda especial, assumindo o seu lugar no banco de reserva das cores. Dizemos que o mundo ficou mais colorido, simplesmente porque o preto e o branco deixaram de ser as cores que predominam no tecido social histórico pós-moderno, mas não nos arriscamos a dizer que isto acontece porque o branco e o preto saíram de circulação exatamente para matizar as camadas de luz que devem orientar o déficit de atenção em que vivemos.

         Como artista genial que é, Mano Alencar sabe, muito bem, que a confirmação de uma tendência multicolorida pode levar a um desvio, mas que um desvio não é, necessariamente, a confirmação de uma nova tendência.

      Se o branco representa a junção de todas as cores existentes, o preto, a seu turno, constitui a sua negação, de forma que no preto e no branco estão todas as cores que podemos imaginar.

      Na sua série de arranjos artísticos com que empreende uma viagem pelo branco e o preto, Mano realiza o seu percurso criativo não a partir de uma ilusória, mas a partir da imaginação e da lembrança.

      O preto e o branco não se expressam como uma nova fase da obra de Mano Alencar, mas como uma série. Parece-me induvidoso que ele quis mostrar o quanto a cegueira, com relação ao preto e ao branco, é um desvio que precisa ser retomado; e o quanto um artista de talento é livre para inovar, pesquisar ou simplesmente sugerir.

        Essa série nova na obra do artista plástico Mano Alencar, leva-nos a pensar na sua dimensão de músico e de poeta das cores, a oscilar entre o cânon e a fuga das suas partituras criativas.

     Mano Alencar é um artista sensível e, acima de tudo, inquieto e indisciplinado. A sua indisciplina faz-se, fundamentalmente, contra a gramática do mundo, cada vez mais caótica e repleta de chavões e de linguagens ditadas pelo capital e por todas as formas de perversão que ele representa.

     Estou que Mano Alencar atingiu, definitivamente, o seu pedestal e a sua condição de clássico, sem perder o gosto pela lírica e a estética, especialmente pela estética do branco, que contém o preto, onde todas as cores estão refletidas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário