quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Lembranças de Moreira Campos

                  Dimas Macedo
 
 
                       
                  Não posso precisar quando vi Moreira Campos pela primeira vez. Sei, no entanto, que vim de Lavras da Mangabeira para morar em Fortaleza em novembro de 1972, e que nesse momento eu já o trazia comigo na bagagem, pois ele era um dos mitos literários da minha cidade natal, ao lado de Filgueiras Lima e João Clímaco Bezerra.
 
                 Lembro-me que, em janeiro de 1978, estive com ele no seu Gabinete de Pró-Reitor na UFC, pedindo-lhe uma apresentação para o jornalzinho O Boqueirão, que eu tinha fundado, com alguns colegas, em Lavras da Mangabeira, e do qual eu era o redator. Ele nos atendeu com a maior presteza, e o seu texto foi publicado em toda a extensão da primeira página do jornal.
 
               Tenho uma foto com ele, o Alcides Pinto, o Girão Barroso, o Caetano Ximenes Aragão e o maestro Alvarus Moreno que data de setembro de 1983. Ali, eu me destacando como o único jovem entre eles, com apenas 27 anos. Isto na casa do Alcides Pinto, na Rua Rodrigues Júnior.
 
               Sempre convivemos de forma fraterna e bastante próxima, ele me contando a origem de muitos personagens e cenários dos seus contos, como se a ficção fosse o desdobramento de suas vivências na infância, nas margens do Rio Salgado, e como se eu tivesse sido seu contemporâneo.
 
              Dele sempre recebi as maiores atenções e os melhores incentivos. Quando entrei na Academia Cearense de Letras, em agosto de 1989, aos 32 anos, ele se antecipou e pediu para ser o redator do parecer pertinente à minha admissão, fazendo, na oportunidade, um texto bastante acolhedor e afetivo.
 
             Não conto as vezes que lhe dei carona no meu carro, levando-o de volta para casa, nem quantas vezes nós nos encontramos para conversar sobre literatura ou para discutirmos sobre as minhas observações sobre os seus contos.
 
              Sempre li e reli a maioria dos seus contos, deliciando-me com a sutilidade, a precisão semântica e o achado estilístico com que ele recorta as suas ironias e o tecido de todos os seus contos, entre os quais destaco: “O Preso”, “Lamas e Folhas”, “A Gota Delirante”, “Os Dozes Parafusos” e “Irmã Cibele e a Menina”.
 
              Moreira Campos, de forma induvidosa, é um dos melhores escritores do Brasil. Não pertence somente ao Ceará ou ao Nordeste. É universal. A sua escritura literária tem o gosto da permanência e da concisão. É sutil, libidinosa e envolvente. E esteticamente muito bem realizada.
               Especialmente como contista, o autor de Cantos Escolhidos pode ser comparado a Machado de Assis, pertencendo, portanto, à linhagem dos grandes arquitetos da estória curta, a exemplo de Rulfo, Júlio Cortázar e Guy de Maupassant.
 
               Vale a pena, portanto, relembrar a vida e a obra desse grande contista cearense, assim como o fez o escritor Waldir Sombra, com o seu imprescindível – Moreira Campos: Professor de Histórias e de Amizade (Fortaleza, Editora Prêmius, 2011).

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