Dimas Macedo
Beatriz Alcântara, Regina Fiúza e F. Quinderé
Fernanda Quinderé
possui um traço distintivo na sua postura literária: permite que a sua obra se
faça a expressão de sua vida. E a sua criação, não raro, se resume a este
postulado: a dignidade do intelectual e o ponto de vista do poeta se perfazem
com a expansão do seu conhecimento, a concretização da sua segurança e a
fragmentação do seu imaginário.
A paixão
criativa, em Fernanda Quinderé, me parece a coisa mais espontânea possível, no
sentido de que a fanopeia e o palco se possam construir enquanto cenários da
sua consciência.
Transmuta-se
Fernanda Quinderé em jornalista e atriz, criando-se aí o entorno das suas
diversas personas, pintadas em retratos líquidos e plurais, que apontam para o
movimento e a viagem, mas é a escritura literária e a leveza do texto aquilo
que garante a sobrevida da sua produção.
Fernanda é dona
de um alfabeto literário próprio e de um estilo pessoal e particularíssimo. E é
justamente disto que um artista de talento precisa: ser desigual em relação a
seus contemporâneos; ser original no processo de montagem do seu objeto
criativo.
O drama e o
tecido com os quais se mostra a boca de cena de um romance seriam, para mim,
pontos de partida da sua produção. Falei sobre isto quando li os livros de
Fernanda Quinderé – Calabouço Para os Reis (2005) e Papos de Mulher
(2001) ou quando entendi que os poemas de Mulher Azul (2002) podiam
ser vistos como alegorias da sua personalidade.
Diferente não é o
meu juízo a respeito do seu livro de memórias – Bodas da Solidão (Fortaleza: Livro Técnico, 2007), romance que nos
conta uma possível solidão a dois, vivida pela autora em sua relação com
Luizinho Eça, o gênio máximo do piano e da partitura musicalizada.
Nesse livro de
Fernanda Quinderé o que se reinventa é um mito e o que se conta é uma escritura
literária de boa qualidade. As personagens e o tecido da trama, podem,
inesperadamente, parecer ficção, mas não é este o melhor enquadramento do
texto, pois firmam-se também nas suas entrelinhas, o prazer que podemos retirar
dos seus códigos semânticos.
A plenitude do
ato criativo, a epifania do texto, a dramaturgia e a memória e, acima de tudo,
o ritual do corpo e da entrega dão a esse livro de Fernanda Quinderé um estatuto
de monta entre os criadores da arte dramática do Brasil.
Não é, no
entanto, de arte dramática que cuida a autora de Mulher Azul. A sua
narrativa é límpida quando se trata de perquirir o drama que se esconde no
subtexto do livro, porque aí Fernanda Quinderé conquista a sua partitura de
poeta, de musa e de atriz.
in
Bodas da Solidão.
Fortaleza: Livro Técnico, 2007.
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