A poesia popular do Nordeste é uma
das grandes expressões da cultura brasileira. Se diferencia da poesia erudita
pelo acento melódico da sua sonoridade. Destaca-se por ser uma poesia rematada
e escandida, e por ser uma forma de criação literária que se vale da estrofação
e da rima, da metrificação e da riqueza do vocabulário.
Pertence a Poesia Popular ao
gênero do Cancioneiro e das Cantigas de Gesta que exaltavam os guerreiros na
Idade Média. Daí o seu apelo heroico, a sua construção ritmada e a sua
aproximação com o armorial, que é a cultura popular elevada ao plano da
erudição.
O folheto de cordel e a Cantoria
distinguem-se na área da poesia popular: o primeiro, caracteriza-se pela
reportagem, o resgate da memória e a glorificação dos feitos e personagens de
valor histórico; já a Cantoria possui no Repente e no Improviso os elementos da
sua força criadora.
Geraldo Amâncio, o autor do livro O Beato Zé Lourenço, O Caldeirão e Matnça dos Romeiros (Fortaleza: Premius,
2017), tem se destacado como um dos nossos melhores cantadores e como um dos
pesquisadores mais respeitados da nossa poesia popular.
Viajou pelo Brasil e o mundo em
busca de um mesmo sentido: o som das cantorias, as suas formas armoriais e os
traços essenciais da sua expressão em diversos países. Mas eis que sempre
retorna ao seu velho torrão – o Ceará.
Geraldo tem dezesseis discos gravados, incluindo várias parcerias, e
alguns livros publicados, dentre eles, enumerando-se os seguintes: De Repente Cantoria, A História de Antônio Conselheiro, Cantigas que Vêm da Terra, Gênios da Cantoria e Assim Viveu e Morreu Lampião, Rei do Cangaço.
No seu livro O Beato Zé Lourenço, o Caldeirão e a Matança dos Romeiros, Geraldo Amâncio resgata
um dos episódios mais desumanos
da história do Nordeste, que foi a destruição da comunidade do Caldeirão pelas
forças reacionárias da nossa elite política e do nosso aparato militar.
O crime executado contra o
Caldeirão, encravado em terras do Cariri cearense, foi tão brutal e revoltante
quanto aquele cometido pelo governo na comunidade de Canudos. Em Os Sertões, Euclides da Cunha verberou
contra a destruição de Canudos; no seu livro, Geraldo Amâncio levanta a sua voz
em defesa do Caldeirão.
O Caldeirão da Santa Cruz do Deserto, para aqui me valer da
expressão de Rosemberg Cariry, encontra agora em Geraldo Amâncio o seu poeta
definitivo e o seu porta-voz, porque o ritmo e a expressão com que o autor
lavrou as páginas do seu livro são testemunhos de uma escansão cultural e
melódica que prima pela poesia de alta qualidade.
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