Concebido
a partir de uma dissertação de mestrado, no Programa de Pós-Graduação em
Sociologia na UNB, o livro de Fernando Barros – Confrontos e Contrastes Regionais da Ciência e Tecnologia no Brasil
(Brasília: Paralelo 15/Editora Universidade de Brasília, 1999) – toca numa
dessas feridas brasileiras que, de moda na década de 1970, passou a ser tema
pouco lembrado como causa do atraso do nosso País, em relação às nações
desenvolvidas.
O que o
livro de Fernando Barros questiona são as desigualdades regionais pertinentes
ao nosso desenvolvimento científico e tecnológico, analisando-as fora da vala
comum na qual o tema é questionado, sempre de forma superficial ou sem maiores
profundidades.
Segundo Fernanda Sobral, doutora do
Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília e apresentadora do
volume, “trata-se de uma análise que não recai em raciocínios simplistas como o
de demonstrar mais uma vez que as desigualdades constituem um reflexo da lógica
capitalista”.
Partindo da discussão acerca do caráter
polissêmico do conceito de região, o autor traça um esboço das diferenças
regionais da nossa base técnico-científica, denunciando a sua excessiva
concentração no Sul e Sudeste do País. A constatação e essa denúncia, que soam
fácil aos nossos ouvidos, somente nas últimas décadas vem despertando a
preocupação dos nossos gestores.
Infelizmente, ainda somos testemunhas do descaso
político brasileiro para com o incremento das atividades científicas e
tecnológicas em Estados estranhos às regiões Sul e Sudeste.
Nessa sua
instigante pesquisa, Fernando Barros opõe-se a essa visão perfunctória, eivada
de preconceitos seculares e, principalmente, de alta dose de egocentrismo, que
parte do falso pressuposto de que devemos deixar a massa do bolo crescer, para
só depois dividi-lo.
Além
de trazer tabelas explicativas com dados que ratificam a existência do problema,
a obra leva o leitor a questionamentos que não são inteiramente resolvidos, nem
facilmente solucionáveis, tais como: não seria o planejamento do
desenvolvimento científico e tecnológico, em nível local, mais adequado ao
atendimento das necessidades sociais e econômicas regionais?
Teria o planejamento mais condições de
incentivar a participação do setor produtivo? E a articulação do governo federal
com os estados-membros, não seria essencial para conter as desigualdades
regionais, no plano do desenvolvimento tecnológico, e não seria, também, um
incentivo à produção de conhecimento científico?
Por último,
o autor confronta o caso brasileiro com o tratamento dado à questão regional
pela União Europeia e pela França, que conseguiu transformar-se em modelo de
Estado descentralizado, no qual a instância regional desempenha papel
estratégico para a organização e o desenvolvimento harmônico de todo o seu
território, por meio de 21 regiões, com conselhos eleitos, com poder de decisão
e de alocação de recursos financeiros próprios, concorrendo todos para a
unidade e solidariedade nacionais.
Provocações intelectuais extremamente válidas as suas, professor. É salutar lembrar que mestre é mais do que aquele que ensina, e o senhor propõe debates sempre interessantes!
ResponderExcluirAtenciosamente,
Davi Guimarães Mendes
Davi Guimarães Mendes, grato
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