Dimas Macedo
O ano de 2014 assinala o quadragésimo aniversário de um livro: A
Teoria Literária na Obra Crítica de Araripe Júnior (Rio: Editora Tempo
Brasileiro, 1974), do grande ensaísta cearense Pedro Paulo Montenegro,
ex-professor do Curso de Letras da UFC e um dos luminares da nossa cultura
literária.
Com a divulgação desse livro, destacava-se o mestre Pedro Paulo não
apenas no plano da literatura cearense, pois a teoria crítica de Araripe Júnior
foi por ele de forma tão sutilmente vasculhada e exposta, que a sua referência
ficou como exemplo da nossa evolução no campo literário.
Lançado no bojo de uma coleção que, na época, abrigava as vertentes mais
paradoxais e legítimas do pensamento crítico, nas áreas da Literatura e da
Comunicação, esse livro de Pedro Paulo Montenegro restauraria, no Ceará, a
tradição da crítica literária que vem de Rocha Lima (1855-1878) e culmina com
os conhecimentos amplos e a argúcia de Braga Montenegro.
Esse último foi justamente o prefaciador do livro de estreia de Pedro
Paulo Montenegro: Convivências (Fortaleza: Imprensa Universitária,
1966), livro que já entremostra o aparato crítico e literário desse estudioso
maior da obra de Araripe Júnior.
Especificamente sobre Convivências, o pensamento de Braga
Montenegro faz-se no sentido de que, além do “cabedal teórico” de que se serve
Pedro Paulo, “dispõe ele de uma acentuada predisposição crítica, sem a qual não
seria capaz de formular, sob critérios próprios, os ensaios de que se compõe o
presente livro”.
Na opinião de Francisco Carvalho, o maior de todos os poetas do Brasil,
na atualidade, a produção teórica de Pedro Paulo Montenegro, “destaca-se pela
qualidade, pela riqueza dos enfoques estilísticos, pelo brilho dos conceitos e
das ideias, pela abrangência e verticalidade das exposições”.
E
em outro passo acrescenta Francisco Carvalho: “na cátedra como fora dela,
tem-se distinguido pela determinação e coerência com que se entrega às
reflexões na busca incessante de explicar e compreender toda essa gama de
matizes e de situações subjacentes nos escaninhos mais profundos e secretos da
obra literária”.
Publicado em 1996, pela Casa de José de Alencar/UFC, Situações e
Interpretações Literárias é o terceiro conjunto de ensaios de Pedro Paulo
Montenegro. O livro traz judicioso prefácio de Sânzio de Azevedo, ensaísta e
historiador maior do nosso passado literário, e orelhas de Francisco Carvalho,
o que honra e distingue a crítica e a teoria formuladas por esse grande
pensador e arauto da nossa estética literária.
E a nova crítica, “que se fundamenta não apenas no new-criticism anglo-americano,
mas também na estética de Croce, na explicação de textos francesa, no
formalismo russo e na estilística espanhola”, segundo Sânzio de Azevedo,
encontra nesse último livro de Pedro Paulo Montenegro uma de suas instâncias
máximas de representação no Brasil. É obra que confirma, por certo, “o domínio
pleno que Pedro Paulo Montenegro tem da crítica literária”.
Sou um admirador discreto de Pedro Paulo Montenegro. Mantenho-me à
distância dele porque possuo formação cultural diferente da sua. Não me
enquadro no perfil de crítico por ele elaborado. Sou um autor de textos
literários, tão-somente. Ele é um mestre: talvez o maior de todos aqueles que
lidamos com a literatura e com as formas estéticas que os criadores literários
nos ensinam a cada nova descoberta.
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