terça-feira, 27 de janeiro de 2015

A Musa de Majela Colares



  Dimas Macedo
                 
                                

Faço uma advertência para lhes dizer do que pretendo falar: das confissões e do outono de Magela Colares, habitante do País do Jaguaribe e que veio ter em Fortaleza para aqui de­nunciar as muitas incertezas e misérias do ambiente sofrido do sertão.

Magela Colares, em Confissão de Dívida (Fortaleza: Biblio­teca O Curumim Sem Nome, 1993), é bem o testemunho de um autor que sabe exibir no livro de estreia a força de uma construção poética já em estádio de maturação, de um escri­tor que sabe cantar o seu drama e as contradições do ser da poesia no mundo, questio­nando assim o ato de viver e de produzir o milagre que se dissemina nas cordas da canção.

A seara poética de Magela Colares, em Confissão de Dívida, reflete a emoção profunda e consciente de uma atividade men­tal e existencial proveitosa, remarcada nos seus motivos e nos seus apelos pela saga da nordestinidade e do protesto, reve­lando-nos um universo de "reverberações nordestinas", segundo a expressão de Luciano Maia, espaço-limite no qual dialoga com as muitas necessidades do humano, buscando atingir o univer­sal com os valores e o modo de pensar e de sofrer de sua região.

Mas não se pense a sua poesia unicamente pela perspectiva da denúncia social e do conflito contingencial e emotivo. Claro que na sua poesia estão também presentes sinais da inquietação metafísica e fragmentos de interrogações, obsessões e perple­xidades.

 No seu livro – Outono de Pedra (São Paulo: Editora Giordano/Fortaleza: Biblioteca O Curumim Sem Nome, 1994) –, Magela Colares pro­jeta as suas reelaborações e as suas descobertas em busca de uma forma de expressão definitiva, forjando a construção de um estilo que tem muito em comum com as asperezas e os ícones do seu aprendizado e da sua formação.

Utilizando os metros e as muitas facetas da poesia popu­lar nordestina, Magela realiza no seu novo livro, ao lado do conteúdo e da mensagem do texto, muitos experimentos e reinvenções, inclusive na área da décima e do quase-romance de cordel, mas o que vaza da leitura de Outono de Pedra, no entanto, é a remarcação das misérias e diásporas do mundo do sertão. E a miséria do sertão e a dor de se descobrir pregoeiro das suas necessidades e dos seus conflitos é aquilo que serve de mo­tivo ao poetar cortante e ao discurso afiado da peixeira poética do autor.

Com ilustrações de Audifax Rios e Socorro Torquato, Outono de Pedra tem posfácio de Janilton Andrade, crítico literário e Professor da Universidade Católica de Recife, onde o autor é Assessor do Tribunal Regional Federal da 5a Região. Com ele Magela Colares obteve Menção Honrosa do "Prêmio Lajane Ban­deira de Poesia" - 1994, sendo que do seu texto, entre outros elementos, exsurge uma linguagem crua e ao mesmo tempo rica de imagens e simbolizações, principalmente aquelas que têm no universo do homem nordestino o seu casulo e as suas formas de disseminação.

O poema, pois, como construção da linguagem. A palavra como argamassa e cascalho. O fazer a poesia como necessidade de compreender o mundo e de sentir. O sentimento como forma de expressão do pensar coletivo. O arremate do poema como formulação do estilo. O estilo como possibilidade de um modo concreto de dizer e de participar.

Daí a necessidade do verso, a escritura e a filosofia da composição como justificação e referência de uma maneira mui­to consciente de pensar e de viver o drama do sertão. Ou não seria o sertão uma invenção e o Jaguaribe um rio que corre sem sair do lugar? Aqui é o lugar, Magela, o texto poético é o lugar da sua bem sucedida realização.

                                                                                                                   Revista Espiral.
                                                                                                          Fortaleza, nº 01, 1995

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