Dimas Macedo
Faço uma advertência para lhes dizer do que pretendo
falar: das confissões e do outono de Magela Colares, habitante do País do
Jaguaribe e que veio ter em Fortaleza para aqui denunciar as muitas incertezas
e misérias do ambiente sofrido do sertão.
Magela Colares, em Confissão
de Dívida (Fortaleza: Biblioteca O Curumim Sem Nome, 1993), é bem o
testemunho de um autor que sabe exibir no livro de estreia a força de uma
construção poética já em estádio de maturação, de um escritor que sabe cantar
o seu drama e as contradições do ser da poesia no mundo, questionando assim o
ato de viver e de produzir o milagre que se dissemina nas cordas da canção.
A seara poética de Magela Colares, em Confissão de Dívida, reflete a emoção
profunda e consciente de uma atividade mental e existencial proveitosa,
remarcada nos seus motivos e nos seus apelos pela saga da nordestinidade e do
protesto, revelando-nos um universo de "reverberações nordestinas",
segundo a expressão de Luciano Maia, espaço-limite no qual dialoga com as
muitas necessidades do humano, buscando atingir o universal com os valores e o
modo de pensar e de sofrer de sua região.
Mas não se pense a sua poesia unicamente pela
perspectiva da denúncia social e do conflito contingencial e emotivo. Claro que
na sua poesia estão também presentes sinais da inquietação metafísica e
fragmentos de interrogações, obsessões e perplexidades.
No seu livro – Outono de Pedra (São Paulo: Editora Giordano/Fortaleza:
Biblioteca O Curumim Sem Nome, 1994) –, Magela Colares projeta as suas
reelaborações e as suas descobertas em busca de uma forma de expressão
definitiva, forjando a construção de um estilo que tem muito em comum com as
asperezas e os ícones do seu aprendizado e da sua formação.
Utilizando os metros e as muitas facetas da poesia
popular nordestina, Magela realiza no seu novo livro, ao lado do conteúdo e da
mensagem do texto, muitos experimentos e reinvenções, inclusive na área da
décima e do quase-romance de cordel, mas o que vaza da leitura de Outono de Pedra, no entanto, é a
remarcação das misérias e diásporas do mundo do sertão. E a miséria do sertão e
a dor de se descobrir pregoeiro das suas necessidades e dos seus conflitos é
aquilo que serve de motivo ao poetar cortante e ao discurso afiado da peixeira
poética do autor.
Com ilustrações de Audifax Rios e Socorro Torquato, Outono de Pedra tem posfácio de Janilton
Andrade, crítico literário e Professor da Universidade Católica de Recife, onde
o autor é Assessor do Tribunal Regional Federal da 5a Região.
Com ele Magela Colares obteve Menção Honrosa do "Prêmio Lajane Bandeira
de Poesia" - 1994, sendo que do seu texto, entre outros elementos, exsurge
uma linguagem crua e ao mesmo tempo rica de imagens e simbolizações,
principalmente aquelas que têm no universo do homem nordestino o seu casulo e
as suas formas de disseminação.
O poema, pois, como construção da linguagem. A palavra
como argamassa e cascalho. O fazer a poesia como necessidade de compreender o
mundo e de sentir. O sentimento como forma de expressão do pensar coletivo. O
arremate do poema como formulação do estilo. O estilo como possibilidade de um
modo concreto de dizer e de participar.
Daí a necessidade do verso, a escritura e a filosofia
da composição como justificação e referência de uma maneira muito consciente
de pensar e de viver o drama do sertão. Ou não seria o sertão uma invenção e o
Jaguaribe um rio que corre sem sair do lugar? Aqui é o lugar, Magela, o texto
poético é o lugar da sua bem sucedida realização.
Revista Espiral.
Fortaleza, nº 01,
1995
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