quarta-feira, 6 de março de 2013

Amores e Clamores da Cidade


               Dimas Macedo

 
  

                                                                                       Tela de Rosa Firmo


              Desde a minha juventude, lembro que a defesa da Justiça e da democracia se interpôs na minha caminhada. É por isso, com certeza, que escolhi a profissão que exerço: ser advogado. Sei que a palavra e o seu significado me seduzem até a exaustão, e que a ética e os valores supremos da beleza estão na raiz do meu equilíbrio psíquico, mas sem a busca incessante da Justiça sei também que não faz sentido viver. 
 
            Sempre me aproximei daqueles que defendem esses valores, que lutam pela afirmação da cultura popular, que clamam no deserto contra a injustiça e a perversão do capital, que sabem palmilhar seus caminhos, instalando neles a iluminação, sem nunca reclamar a busca do tempo que se foi.

          A afirmação da cultura, para a minha visão pessoal, não está nas Universidades, tampouco nas Academias, esses nichos de petulância e de quase nenhuma produção, mas naqueles que fazem a cultura prosperar, em todos os quadrantes do mundo e especialmente no sertão. 

           Os grandes produtores de cultura do Ceará não estão somente em Fortaleza, como pensavam, até bem pouco tempo, os pesquisadores eruditos, mas em toda extensão da terra de Alencar. Patativa do Assaré, Dideus Sales, Oswald Barroso e Gilmar de Carvalho conhecem o Ceará e suas tradições muito mais do que os poetas que mourejam no Ideal; ou muito mais do que os eruditos que estudam a extensão da sua ignorância nos corredores do Benfica. 

          Júnior Bonfim, poeta e pastor de estrelas nas margens do Poty, com banca de advogado em Fortaleza, é um dos nomes da cultura cearense que resplende em todo o Ceará. Sabe os ofícios da Justiça e da reparação da Igualdade, o alfabeto da Ética e os inventários máximos que se plantam nos rios da cultura.

           É poeta de vários instrumentos, viajante lírico dos melhores e arauto de uma épica que se quer, a qualquer custo, incrustada em nossos corações. A emoção se coloca no centro das suas preocupações. O tecido amoroso o envolve. E a poesia por ele praticada é toda ela uma imensa jitirana de luz, brilhando entre veredas de sol, iluminando os cafundós do nosso empedernido sertão.

          E para além de poeta e de autor de livro de poemas que se impõe aos ofícios da leitura, Júnior Bonfim é produtor de cultura que não para nunca de criar. Exemplo desse seu desassombro de esteta é o seu livro de crônicas e ensaios Amores e Clamores da Cidade (Fortaleza, Expressão Gráfica, 2008), que agora tive o privilégio de reler.

            Trata-se de uma radiografia e de um inventário de amores (e de clamores) da cidade que o viu nascer, em que se mesclam personagens e cenários, e paisagens e fulgores de um estilo de vida que se quer, também, fazer representar, tamanha a verossimilhança dos afetos e o recorte à clef dos atores com os quais o escritor Júnior Bonfim interage.

          Não me vou alongar nesta exposição. Digo tão somente que Júnior Bonfim para mim é irmão, porque preza o Direito, sabe defender a Justiça e sustentar a Ética do desejo pela urbe, como se o tecido das relações urbanas fosse a morada do ser e a reprodução da cena social.

2 comentários:

  1. Meu caro Dimas:

    Com emocionada alegria mirei a postagem em que, com a tinta da genialidade que lhe é característica, você me deferencia.

    Desprovido de quaisquer dotes para receber tal laurel referencial, sei que isso é fruto da cativante gratuidade que transpira por todos os poros de um poeta maiúsculo.

    De coração, muito obrigado!

    E, mais uma vez, repito: Dimas Macedo é o mais doce rebento que o rio Salgado já deu ao mundo!

    Júnior Bonfim

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  2. Junior Bonfim, lhe sou grato por tudo.Forte abraço

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