sábado, 24 de novembro de 2018

A Literatura de Hoffmann


          Dimas Macedo

                                                 

           Nelson Hoffmann é um dos escritores do sul do Brasil que vem chamando a atenção. Roque Gonzales (RS) é a sua melhor criação, município gaúcho do qual foi gestor, procurador e achador, sendo ele, igualmente, o sol que irradia a arte literária para toda a região das Missões.

          Sente frio, às vezes, quando a literatura não se faz a sua companheira, quando o amor que sente pelo próximo não borbulha no seu coração, ou quando não promove o intercâmbio cultural, utilizando para isso as páginas do jornal O Nheçuano.


          Trata-se de um escritor internacional, que reside em um eixo de fronteiras da América do Sul. Escreve com a alma e também com o corpo e, de último, inventou um novo gênero de escrita, reunindo os e-mails que ele troca com os seus amigos.

          Essa forma confidencial de arte literária, em São Paulo, já deu o que falar, e, no Rio Janeiro, foi transformada em literatura de modo-avião, escritura na qual as personagens apenas digitam aquilo que vai no coração.  

          Li a sua novela Companheira (Florianópolis: Ledix, 2017) mais de uma vez, assim como o seu livro Pássaros Libertos (Diário da Escrita-II), este último, num voo entre Fortaleza e Brasília, percebendo, depois, que a literatura de Hoffmann tinha feito de mim um Nheçuano, desses que desejam viver em profusão.

          Enquanto escrevo esta resenha sobre a literatura de Hoffmann, registro que me encontro adido ao sol do Ceará, neste feriado em que o Corpus Christi se faz o sal do Barro Preto com gosto de Carmel, o santuário no qual me recolho para refazer as minhas energias.

           A existência e a morte, diluídas nas páginas de Companheira, igualmente, deslizam por aqui, tingindo o céu do Barro Preto de lilás, e o horizonte, de branco e de azul. A ficção de Hoffmann é incomum no seu recorte formal, na sua urdidura literária e no seu poder de regeneração.

           E exposto sol que brilha em Aquiraz e no Carmel, vou me transformando em um pássaro liberto, sentindo este lugar chamado Barro Preto como se ele fosse a nova capital das Missões, situada entre dunas e lajedos que fazem pulsar a emoção. 

           As notas que tomei na minha última viagem, acerca dos Pássaros Libertos do Hoffmann, desapareceram, misteriosamente, desde que cheguei em Aquiraz. Aqui o sol é inclemente e uma nesga de luz entra pelo quarto e se projeta sobre o livro de Hoffmann que sempre trago nas mãos.

           O seu Diário da Escrita-II se estampa por todos os espaços e se infiltra na minha consciência de leitor, especialmente porque, em Barro Preto, a arte literária de Hoffmann tem o incrível dom de perdurar.

                                                                                                                Barro Preto (CE), 31/05/2018

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