sábado, 24 de novembro de 2018

A Tragédia de Princesa


  Dimas Macedo

                                                                                                  Cristina Couto
                                                    
           A civilização do Médio Salgado, no sul do Ceará, deu ao Nordeste uma das suas maiores oligarquias, cujo apogeu efetivou-se com o domínio de Dona Fideralina Augusto, que sempre se manteve no poder utilizando os velhos bacamartes e os eflúvios da sua inteligência.

            A despeito dos conflitos e sobressaltos com os quais se envolveu, especialmente, no campo da política, nada foi maior, na sua vida, do que a decisão de invadir a vila de Princesa, no Estado da Paraíba, para vingar a morte do seu neto Ildefonso Augusto, em 1902.

            Ildefonso Augusto Lacerda Leite, assim como o tio materno, Ildefonso Correia Lima, carregava um nome luminoso no seio da família. Ambos receberam o título de Doutor em Medicina, no Rio de Janeiro, e destacaram-se como intelectuais e cientistas.

            Nascido Vila de Lavras, em 1876, Ildefonso Augusto teve sólida formação. Estudou no Seminário do Crato e no Seminário da Prainha em Fortaleza e, no Rio de Janeiro, agitou a cena cultural como cientista e livre pensador, tornando-se, ao lado de Oswaldo Cruz, pioneiro no estudo das nossas doenças tropicais.

            Com a missão que lhe foi confiada por Oswaldo Cruz, veio para o Nordeste pesquisar as endemias que, na época, assolavam esta região do País. Fixou-se na terra natal, mudando-se depois para Cajazeiras e, em seguida, para Princesa, na Paraíba, onde seria brutalmente assassinado, em janeiro de 1902.

            Os seus Ensaios de Filosofia Natural, publicados no Rio de Janeiro, em 1900, e resgatados, em 2016, pela autora deste livro, constituem um marco na sua trajetória, agora apresentada ao público pela pena de Cristina Couto, no seu ensaio biográfico A Tragédia de Princesa (Fortaleza: Expressão Gráfica, 2018).

            Trata-se de livro no qual se assenta o contexto social de uma época, remarcado por uma tragédia e entrelaçado pelos poderes de uma oligarquia, tendo as cidades de Princesa, na Paraíba, e Lavras da Mangabeira, no Ceará, como epicentros de suas ações.

           Cristina rastreou a vida de Ildefonso desde o seu nascimento, passando pelos seus estudos em Fortaleza e no Rio de Janeiro, e pela sua vida de clínico, inicialmente, no Rio, e de clínico e farmacêutico, no interior da Paraíba, legando-nos com o seu talento, um livro há muito reclamado pela nossa história social.

           Sobre a tragédia de Ildefonso Augusto, cito o Dicionário Bio-Bibliográfico Cearense, do Barão de Studart, o Império do Bacamarte, de Joaryvar Macedo, o romance de Sebastião Lucena, Peste e Cobiça: A Inveja e o Ódio Tramam Contra o Amor no Alvorecer do Século XX, e o Memorial de autoria do seu sogro, Erasmo Campos, publicado em Fortaleza, em 1902.

             Com a publicação desse livro, firma-se Cristina Couto como historiadora e amplia os horizontes da sua visão de ensaísta e de guardiã da história do Nordeste, em cujo coração está o Cariri, a mais bela de todas as regiões do Brasil.

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