Dimas Macedo
Nelson Hoffmann é um dos
escritores do sul do Brasil que vem chamando a atenção. Roque Gonzales (RS) é a
sua melhor criação, município gaúcho do qual foi gestor, procurador e achador,
sendo ele, igualmente, o sol que irradia a arte literária para toda a região
das Missões.
Sente frio, às vezes, quando a literatura não
se faz a sua companheira, quando o amor que sente pelo próximo não borbulha no
seu coração, ou quando não promove o intercâmbio cultural, utilizando para isso
as páginas do jornal O Nheçuano.
Trata-se de um escritor internacional, que
reside em um eixo de fronteiras da América do Sul. Escreve com a alma e também
com o corpo e, de último, inventou um novo gênero de escrita, reunindo os
e-mails que ele troca com os seus amigos.
Essa forma confidencial de arte
literária, em São Paulo, já deu o que falar, e, no Rio Janeiro, foi
transformada em literatura de modo-avião, escritura na qual as personagens
apenas digitam aquilo que vai no coração.
Li a sua novela Companheira (Florianópolis: Ledix, 2017) mais de uma vez, assim
como o seu livro Pássaros Libertos (Diário da Escrita-II), este último, num
voo entre Fortaleza e Brasília, percebendo, depois, que a literatura de
Hoffmann tinha feito de mim um Nheçuano,
desses que desejam viver em profusão.
Enquanto escrevo esta resenha sobre a
literatura de Hoffmann, registro que me encontro adido ao sol do Ceará, neste
feriado em que o Corpus Christi se
faz o sal do Barro Preto com gosto de Carmel, o santuário no qual me recolho
para refazer as minhas energias.
A existência e a morte, diluídas nas
páginas de Companheira, igualmente,
deslizam por aqui, tingindo o céu do Barro Preto de lilás, e o horizonte, de
branco e de azul. A ficção de Hoffmann é incomum no seu recorte formal, na sua
urdidura literária e no seu poder de regeneração.
E exposto sol que brilha em Aquiraz e no Carmel,
vou me transformando em um pássaro liberto, sentindo este lugar chamado Barro
Preto como se ele fosse a nova capital das Missões, situada entre dunas e lajedos
que fazem pulsar a emoção.
As notas que tomei na minha última
viagem, acerca dos Pássaros Libertos
do Hoffmann, desapareceram, misteriosamente, desde que cheguei em Aquiraz. Aqui
o sol é inclemente e uma nesga de luz entra pelo quarto e se projeta sobre o
livro de Hoffmann que sempre trago nas mãos.
O seu Diário da Escrita-II se estampa por todos os espaços e se infiltra
na minha consciência de leitor, especialmente porque, em Barro Preto, a arte
literária de Hoffmann tem o incrível dom de perdurar.
Barro
Preto (CE), 31/05/2018