Rosa Firmo
“A perfeição é atingida não quando há nada a
acrescentar;
mas quando
não há mais nada a tirar”(Saint–Exupéry).
Descerro
as cortinas do vasto celeiro literário cearense com muita delicadeza, na
tentativa de discorrer sobre o poeta, escritor, crítico literário e jurista,
Dimas Macedo.
Para
escalar essa jornada, com a permissão das deusas que habitam em mim, aspergirei
com ramos de rosas do mato as colinas de Lavras da Mangabeira e assim
impregnarei de aromas o rio de sua infância, o Salgado; para assim emergir o
poeta de lirismo inquieto, povoado por musas, personagens, lugares e tempo.
Nesse desafio tentarei discorrer resumidamente alguns detalhes sobre o autor e
sua obra.
Nasceu
Dimas Macedo na cidade de Lavras da Mangabeira, Ceará, Brasil, 14 de setembro
de 1956, às margens do Salgado, rio que ele canta com derramamento, sentimentos,
telurismo e com seu imensurável amor à sua Pátria Amada. Podemos conferir no
seu poema Lavras:
Longe
daqui do tumulto, / lá no meio das coisas, / prostrada para o universo, / posto
que existe, / Lavras é a cidade mais bela do mundo, pois em cada rua / nasce
uma saudade / que termina em meu corpo.
Dimas
Macedo é um ser humano de personalidade multifacetada e de extensa obra. Por
isso, falar sobre ele é para mim um exercício de ousadia, pois sua dimensão
intelectual vai afora do mundo real. Sua produção é pontuada pelo rigor
estético. O seu humanismo explora o enigma do ser humano...
Sua
densa formação literária deve-se, sobretudo, às suas vastas leituras. Conheci o
Dimas Macedo nas livrarias do centro da cidade de Fortaleza, especificamente na
livraria Livro Técnico. Ele sempre à procura de adquirir livros, na sua
inquietude pelo saber. Afirma que leu muito Dostoievski, Fernando Pessoa,
Manuel Bandeira, Cecília Meireles, Clarice Lispector, Augusto dos Anjos,
Machado de Assis, Graciliano Ramos e outros.
Pode-se
afirmar que ele é homem de múltiplos talentos; serve ao mesmo tempo à arte
literária e ao exercício de professor e jurista. Demonstra, em primeira mão,
seu amor pela poesia, daí preferir ser chamado de poeta, a despeito de jurista.
Pode-se conferir, através de seus primorosos livros de poemas, a sua forma
especial de lidar com as palavras, seu pensamento reflexivo e filosófico. Vejamos em: “Estrofes”:
Talvez
tenha dito o Eclesiastes / que nada existe sobre o Sol, / mas pouco disse da
Lua e quase não falou / do sonho que reside m cada um de nós. / A tarde
preguiçosa também se levanta e dengosa é a canção do vento que remove / o lixo
da história e a torre de Babel. / O sal do tempo se renova e passa, / assim as
escrituras todas passaram, / deixando sobre a terra a crença na expressão / e
sob os raios do sol a arte da palavra.
Poemas
e textos de sua autoria foram vertidos para o inglês e o espanhol e publicados
em Portugal, Espanha e Inglaterra, Argentina, Estados Unidos, tendo igualmente
trabalhos de sua autoria divulgados nos principais jornais e revistas do Ceará
e do Brasil.
Como
artesão da arte literária, Dimas Macedo conta com uma extensa obra. Tem
diversos livros de poemas publicados, a saber: A Distância de Todas as Coisas (Fortaleza: Secult, 1980; 2a ed.:
Fortaleza: Livraria Gabriel, 1987; 3a ed.: Fortaleza: Imprensa Universitária,
2001, 80 p); Lavoura Úmida
(Fortaleza: Editora Oficina, 1990; 2a ed.: Salvador: Editorial Seges, 1996; 3ª
ed.: Fortaleza: Edições Poetaria, 2010, 80 p.); Estrela de Pedra (Brasília: Editora Códice, 1994; 2ª ed.: Teresina:
Oficina da Palavra, 2005, 72 p.); Liturgia
do Caos (Brasília: Editora Códice, 1996, 48 p.); Vozes do Silêncio (Fortaleza: Imprensa Universitária, 2003, 92 p.);
Sintaxe do Desejo (Fortaleza: Edições
Poetaria, 2006, 132 p.); O Rumor e a
Concha (Fortaleza: Edições Poetaria, 2009, 94 p.); {Guadalupe} (Fortaleza: Edições Poetaria, 2012, 60 p.). Sua vasta obra ainda inclui: seis livros de
Crítica, cinco de ensaios, cinco de pesquisas, sete na área do direito, oito
opúsculos, dois de Separata, dois de parceria, três livros organizados, cinco
livros organizados de outros escritores, seis na área da Discografia, treze
Audiovisuais.
É
membro da Academia Cearense de Letras. Integra o Conselho Editorial de vários
jornais e revistas culturais, a saber: revistas Espiral e Literapia
(Fortaleza); revista Literatura
(Brasília); revista Morcego Cego
(Santa Catarina), entre outras. Compõe também o Conselho Editorial das Edições
UFC, o conselho de publicações da Editora Códice, o Conselho Editorial das
Edições Livro-Técnico e o Conselho Editorial do Museu – Arquivo da Poesia
Manuscrita.
Assim,
consolidando sua carreira de exímio artista, Dimas é um poeta veterano com
larga experiência na crítica literária e nos fenômenos interiores da poética. É
um dos bardos que figura na seara literária cearense, na fileira de outros
nomes, como Virgílio Maia, Giselda Medeiros, Roberto Pontes, Floriano Martins,
Adriano Espínola. Dimas
incursiona no campo da poesia com sucesso e maestria, bem como nos domínios da
prosa, com crítica literária, biografias, pesquisas, ensaios e outros.
Na
Academia Cearense de Letras, Dimas é considerado o benjamim, uma vez que, ao
ser eleito para a Academia, contava apenas trinta e dois anos de idade, e
continua sendo, nos dias atuais, o mais jovem entre seus confrades. Em
entrevista a Barros Pinho, ele afirmou que foi eleito para a mesma pelo seu
valor literário, mas por força maior do amigo Claudio Martins.
Nas sendas dessa gloriosa militância no campo
das letras, em nosso meio, com uma intensa atividade literária
artístico-cultural, Dimas Macedo fundou a Academia Lavrense de Letras – ALL, da
qual é presidente; para assim privilegiar sua terra natal, celeiro de grandes
intelectuais, escritores, poetas populares, artistas e poetas de grande porte
como Filgueiras Lima, Linhares Filho, Batista de Lima, entre outros.
Na sua jornada literária, realizou,
nos últimos meses deste ano, um trabalho inaugural, o projeto, “Literatura nas
escolas”, percorrendo diversas escolas do município de Lavras da Mangabeira com
palestras e entrevistas. Considero dignificante esse trabalho, porquanto o
escritor vai onde os leitores estão; vai até as escolas. Nossa sociedade
cearense precisa de elegância.
Da
obra de Dimas Macedo, o que mais me encanta e que considero uma oração é o
texto “Confissão de Fé e Transcendência” (Crítica
Dispersa, página 159-2003). Dimas como gênio e sábio deve ser coroado pelos
louros colhidos nos arvoredos lavrenses.
Fortaleza, 19 de outubro de 2014