sábado, 4 de outubro de 2014

Nuntia Morata

                 Dimas Macedo
 
                    O gozo do signo é, talvez, o ponto mais alto para o qual aponta a ordem do discurso. Os caminhos da linguagem são intrincados, e por qualquer atalho terminamos sempre em um labirinto. O símbolo não liberta a linguagem do seu absoluto; antes, ele a transforma em prisioneira do mistério.

              Dois planos de compreensão do mundo e do homem existem no campo da crítica literária: o prazer da leitura e a sua reconstrução e utilidade, tendo-se na intuição e na sensibilidade do crítico os seus elementos de maior alcance.

              A crítica é o gênero mais alto de todas as formas de criação. É poética no sentido aristotélico e nos usos que lhes foram dados pela invenção do ensaio e pela dialética com que os códigos literários foram reabertos desde a Idade Moderna.

              O Poema, a forma literária mais retrabalhada ou reconstruída durante o curso da história, somente chegou até nós, acredito, porque a crítica intuiu a perspectiva da sua morfologia e da sua semântica, deixando para a linguística os seus elementos de ordem sociológica.

              O exercício da crítica literária exige erudição e domínio do conhecimento de quem se aventura pela sua seara, por sua sedução prazerosa e pela sua pluralidade de sentidos. Não podemos comparar a crítica com os comentários apressados e com as resenhas corriqueiras de jornais e revistas.

              A produção da crítica exige do seu autor o seu fervor analítico, a sua perspectiva sócio-literária, a sua visão de conjuntura e a sua formação no campo da cultura artística, associada ao rigor do método.

             Vianey Mesquita, o autor de Nuntia Morata – Ensaios e Recensões (Fortaleza, Expressão Gráfica, 2014), é um dos melhores críticos literários que conheço. Arquiteto a Posteriori da criação literária e mestre nos domínios da correção da língua e da gramática, no Ceará poucos a ele se igualam em erudição e humildade diante das estruturas do texto.

              Hermeneuta da Literatura por imperativo da sua formação, é um decifrador humorado do texto literário ou do texto científico que desvela, pois não lhe faltam argúcia e preparo para enfrentar os diversos códigos da linguagem.

              Enquanto escritor, Vianey Mesquita prima pela correção gramatical, mas é sagaz com os recursos do seu golpe de vista, restaurando a precisão do método e a analogia filosófica e científica da escritura acadêmica por ele examinada.

              A sobreleitura do texto literário, sociológico, filosófico ou científico por ele empreendida, encontra-se permeada de um fino lavor artesanal, revestida da melhor recepção e rematada pela estética da síntese e da claridade, e tanto mais escandida pelo gozo do signo e da pontuação.

                  E de forma que Nuntia Morata, a sua nova coroa de ensaios, é a escansão melódica do seu estro, porque de música e de estilo primoroso são costuradas as suas intenções e remarcadas as suas entrelinhas.

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