quarta-feira, 2 de outubro de 2013

O Triunfo de Vicente Lima (Vicente de Paroca)



             Dimas Macedo
 
                                                                                                         Vicente de Paroca


             Neto do poeta Fausto Correia de Araújo Lima e da sua primeira mulher, Olímpia de Araújo Lima (Lolô), Vicente Ferrer Lima ou Vicente de Paroca, como se tornou conhecido, na sua juventude, nasceu em Lavras da Mangabeira-CE, aos 7 de março de 1921.  

            Foram seus pais: Artur Correia Lima (filho de Lolô e de Fausto) e Maria Augusto Lima (Paroca), filha de Ana de Araújo Lima (Nanu) e de Antônio Carlos Augusto, conhecido por Boboi ou Caboclo Carlos.

Contam que a sua mãe era uma mulher de religiosidade exacerbada e que muito se orgulhava dos seus antepassados, especialmente do seu avô paterno, João Carlos Augusto, antigo Deputado Provincial e fundador da oligarquia-mor do Vale do Salgado.

O avô paterno de Vicente foi um dos maiores cantadores de viola do Ceará, na segunda metade do século dezenove. Estudou com o Padre Cícero Romão de Juazeiro, no Colégio do Padre Rolim, em Cajazeiras, na Paraíba, e depois se tornou amigo e compadre desse grande taumaturgo do Nordeste.

Vicente cresceu ao abrigo dessas influências, estudou com professores públicos em sua terra, participou do cotidiano da velha Princesa do Salgado, mas a sua vocação de artista sempre falou muito alto em sua alma, levando-o inicialmente para Fortaleza, onde foi aluno do tradicional Liceu do Ceará.

Um dos seus colegas de aventura juvenil, na época, Paulo Bonavides, fala, ainda hoje, com entusiasmo, da sensibilidade cultural de Vicente, destacando os encontros em sua residência, na Rua do Imperador, a sua intuição de artista e o cuidado especial do poeta com a sua cabeleira.

A era do rádio e os eflúvios culturais do pós-guerra pegaram o destino de Vicente Lima pela mão. Começou como cantor e locutor da Rádio Iracema de Fortaleza, passou depois por João Pessoa, pela Rádio Industrial de Juiz de Fora (MG), Rádio Guarani e Rádio Capital, de Belo Horizonte, e por diversas rádios dos Diários Associados, inclusive no Rio de Janeiro.

Além de radialista, atuou Vicente Lima como teatrólogo, ator, encenador, roteirista e diretor de operetas musicais na agitada Belo Horizonte das décadas de 1950 e 1960, onde se tornou popular, recebendo, inclusive, homenagem da Câmara Municipal daquela importante capital, em 9 de maio de 1996, mercê da sua militância cultural e do seu talento de artista.

Escreveu e encenou diversas peças de teatro, entre elas Jacanã (burleta em dois atos), Retalhos do Nordeste e O Espetáculo é Assim, nas quais coloca em discussão a bravura do vaqueiro, a alvorada no Nordeste, a hilaridade do cotidiano e a força indomável das nossas raízes populares.

Vicente Ferrer Lima ou ainda Vicente de Paroca, como carinhosamente a ele se referem os seus conterrâneos, sempre se deixou envolver pelo mais puro enlevo da poesia e pelas notas musicais que arrancou da sua alma de tenor e seresteiro, de compositor e de boêmio, e de intérprete maior de Vicente Celestino.

Em 1953 a sua marchinha de carnaval, Rosalina, alcançou primeiro lugar em concorrido certame musical em Juiz de Fora, realizando Vicente, por igual, diversas apresentações como cantor, destacando-se entre elas o Festival de Vicente Lima, a temporada na Boite Acaiaca, em Belo Horizonte, e a turnê ao lado de Oswaldina Siqueira, então cognominada a Princesa do Rádio.

O seu sucesso de compositor, cantor, tenor e seresteiro invadiu a década de 1960, e o resultado desse êxito expressou-se na gravação de discos e compactos, destacando-se entre eles aquele intitulado Baú da Saudade, que foi apresentado em forma de CD.

O conjunto dos seus poemas inéditos ou publicados em jornais e revistas, foram por ele reunidos no livro – Sertão Diferente e Outros Poemas, e outras tantas criações de sua autoria, no campo literário, estão sendo compiladas no volume Poemas e Canções, graças à atuação dos seus filhos Vicente Ferrer Lima Júnior e Geralda Soares Lima.

Em ambos, o traço indelével do seu jeito de ser, da sua alma romântica e enlevada, do seu amor ao Nordeste, ao Ceará e ao Brasil, não faltando a marca registrada do profundo amor à sua terra.

Lavras da Mangabeira e a brisa do Salgado, o Boqueirão de Lavras e o fervor de todos os seus conterrâneos e amigos orgulham-se desse grande poeta, cantor e seresteiro, falecido aos 9 de setembro de 2001.

  A Academia Lavrense de Letras, ciente do seu valor no plano cultural, o elegeu patrono de uma das suas Cadeiras, e o elegeu também para brilhar, entre os lavrenses que mais distinguiram a sua terra.

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