Dimas Macedo
No princípio era o verbo. E o verbo,
encarnado, fez-se justo. E o verbo, soberano, se chamava Augusto, e de seus
ramos, imponentes, se ergueram as Pontes. E as fontes do saber, em Augusto, se
tornaram densas. Imensas as suas simetrias com o seu prenome, posto que
Francisco antecedia a Augusto, e uma vez que Augusto precedia a Pontes.
E Augusto Pontes, para todo o sempre, em rendas de opala,
tinha a fala mansa e o olhar agudo. E era quase surdo, o nosso personagem, para
as vilanias. Aspirava à dúvida e à pluralidade do conhecimento. E o seu
argumento, quase que socrático ou peripatético, fazia-se ascético, em tudo; e
em quase nada era viperino.
Augusto era divino num ponto: aquilo que o ligava ao
próximo, em grau de amizade. E a felicidade, para ele, consistia nisto: a vida
enquanto sinergia é o que pensamos, posto que o mundo, feito norma pura, é
expressão da arte.
Em parte, era um grego; e na outra parte, o rapaz latino
era um andarilho irresignado. E mais do que amado, com o passar do tempo, se
tornou um mito. E meio sem soberba tinha a alma acesa de hilaridades.
Era polifônico e mais do que irônico o nosso grande
Augusto. E sempre dava susto, na filosofia, com suas estocadas. E não
condescendia, em quase nada ou tudo, com a ignorância. Ou quando se fingia, em
grau de sonolência, quando conversava.
Inventou, na mocidade, a Massafeira Livre e a Scala
máxima da publicidade. E era a claridade, como marqueteiro, em coisas da
política.
Vivia qual um Buda. E era franciscano e professor de
música e de filosofia, e é certo que bebia na contracultura a sua sapiência.
Em grau de consciência e de coisas da ciência ou da
literatura tudo ele sabia. E não se permitia, o soberano Augusto, viver sem
liberdade.
Era largo o seu peito, tal como um protesto armado contra
tudo. Fez-se um grande escudo, em terras de Iracema, do socialismo e da
linguagem pura, mas a certa altura fixou um ponto e se tornou o novo Príncipe
da Cultura.
As ruas, no entanto, e o Ágora da cidade mais o acolhiam:
os bares, os clubes de conversas e as casas de ensaio.
E no mês de maio, de 2009, fez-se a overdose em noite que
chovia. E deu-se a hecatombe, no dia em que seu nome, de morte se encantava,
posto que pairava sobre Fortaleza uma nuvem densa, e mais do que imensa, para o
todo sempre, foi a sua perda.
E mais do que acesas resultaram as chamas
do conhecimento. E posto que o momento, mais do que augusto, é belo e
sacrossanto, que se erga um brinde, em grau de melodia, à sua memória. E que se
faça um corte, ressalvando a morte de Augusto Pontes: a) qual a mais solene; b)
qual a mais perene de todas as vidas.