terça-feira, 7 de setembro de 2021

                      Dona Fideralina Augusto – Mito e Realidade

Grecianny Carvalho Cordeiro

 

          No Dia Internacional da Mulher, achei por bem não falar em violação dos direitos das mulheres, em violência doméstica, em aumento de crimes contra as mulheres durante a pandemia. Nada disso. Escolhi escrever sobre uma mulher de fibra, à frente de seu tempo, cuja trajetória foi inspiradora, levando-a a ocupar um relevante papel na História do Ceará: Dona Fideralina Augusto.

          No excelente livro Dona Fideralina Augusto – Mito e Realidade (Fortaleza: Armazém da Cultura, 2017), o escritor, professor e poeta Dimas Macedo faz um criterioso estudo acerca da vida da matriarca de Lavras da Mangabeira-Ce, ali nascida aos 24 de agosto de 1832, cuja liderança política exercida na região do Cariri, tornou-a uma figura mítica, lendária, atributo concedido àqueles personagens que se mostram à frente de seu tempo.

          Conforme atesta o autor, Dona Fideralina nunca alimentou pretensões políticas, até porque, isso era vedado às mulheres da época, onde imperava o “patriarcalismo e a cultura machista”. Mas foi depois do falecimento de seu pai, o tenente-coronel João Carlos, que Dona Fideralina, a filha mais velha, passou a ser a provedora da família, assumindo “a condição de varão num território em que as mulheres sequer tinham direito à educação.”

          Tempos depois, com a morte de seu esposo, o major Idelfonso, que ocupou cargos influentes em Lavras, Dona Fideralina assumiu o protagonismo político, sua grande paixão. Mas seu maior rival viria a ser o próprio filho, o coronel Honório.       

          Em meio ao coronelismo reinante no Nordeste, Dona Fideralina, mulher inteligente e determinada, cooptava homens sem provisões e aspirações para serem seus jagunços, encarregados de sua proteção e de sua família, em troca, garantia-lhes o sustento.

          Mesmo sem exercer cargo algum, Dona Fideralina era detentora do poder e da força - numa época em que a lei tinha pouca valia-, para tanto, fazia alianças das mais diversas, dentre elas, com o Padre Cícero e outros líderes políticos.

          Com a projeção política de seu filho, o coronel Honório, tido por facínora, Dona Fideralina viu-se obrigada a destituí-lo do poder pela força, em 1907, então voltou a reinar soberana. Também tomou parte no Pacto dos Coronéis (1911); na Sedição de Juazeiro (1914), contra o governo de Franco Rabelo, fornecendo homens e armas; apoiou a destituição de Nogueira Accioly.

          O livro de Dimas Macedo nos faz passear pela História como se estivéssemos lendo um maravilhoso romance sobre uma mulher lendária.

Nenhum comentário:

Postar um comentário