domingo, 29 de agosto de 2021

                                                 Poeta Edmar Freitas 

                                                      Dimas Macedo



       Nas ilhas literárias em que o Brasil se divide, o mapeamento dos seus escritores ainda continua sendo feito pelos manuais de formação acadêmica e pela gratuidade com que seus poetas frequentam os clubes sociais e as academias.

       A literatura cearense, infelizmente, não é uma exceção nesse campo. Os nossos intelectuais também se distinguem pelos critérios acima referidos e, com raras exceções, não reconhecemos os escritores que edificaram suas trajetórias na modéstia, ou não transitam nos espaços elitistas.

          Prosadores como Nilto Maciel, Audifax Rios, Ana Miranda, Oswald Barroso ou Pedro Salgueiro é possível que não tenham sonhado ingressar em uma das nossas entidades acadêmicas, instituições que abrigam, no geral, seres considerados imortais.

         Edmar Freitas não é um poeta fabricado por essas vitrines sociais, é possível nunca tenha pensado sobre isso e que ainda não conheça (ou que conheça muito bem) as tinturas do meu coração, capazes de expressar essas verdades, desagradáveis, talvez, para seus leitores.

         Pede-me que escreva o prefácio do seu livro Metáforas de Sal e assume o risco pelas consequências daquilo que eu possa dizer. Edmar, no entanto, me parece um poeta bastante original, econômico com o uso das palavras e consciente (plenamente consciente) do extrato sintático e melódico da sua produção.

          A estética do fragmento, os valores da existência humana (nos sentidos usados pela Filosofia e a Inquietude) e a simbologia das nossas raízes sociais estão no seu livro como portas de entrada no seu universo, rico de sugestões e de gosto literário que se reinventa pela criação do poema.

          Trata-se de um poeta que tem a consciência da sua expressão, e que não faz literatura apenas como forma, mas como maneira de sonhar com a sua memória, pagando um tributo expressivo à Literatura.

          Gostei bastante de Metáforas de Sal, da sua concisão, da sua temática e da música com gosto de palavras que ele reinventa. Edmar Freitas é poeta dos bons, e escritor que sabe carregar na alma a chama da poesia que ilumina o coração humano, e que os deuses revelam apenas aos artistas eleitos.

           Poesia não é apenas sentimento artístico, nem, muito menos, um conjunto de ideias ou de ideologias. São palavras ou formas literárias que expressam uma visão de mundo, ou no sentido da sua interpretação no sentido da sua transformação.

             Não se trata de arte descritiva, mas criativa. A melodia, o ritmo e a metáfora se integram na sua estrutura polifônica e nas suas assonâncias e tonalidades. A poesia fala pelos poetas, e quem não é poeta não pode exprimir a sua voz ou auscultar as suas ressonâncias.

            Eis, portanto, o sentido das minhas impressões e o aplauso com que recebo a poesia desse excelente poeta cearense, Edmar Freitas, em cuja construção estética podemos sorver o sal da escrita que perdura no nosso coração.

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