domingo, 29 de agosto de 2021

Dois Escritores: Clèmerson e Alana

Dimas Macedo

1. Clèmerson Clève

 

          Em 2011, Clèmerson Merlin Clève presenteou os leitores com as peças reunidas no livro Teatro Inexperto, e agora, na condição de poeta, traz a lume Amor Fati, sendo para mim um prazer a leitura desse caderno de poemas.

         A estética e a linguagem literárias estão presentes nesse seu novo livro, aí transbordando a partitura poética, o verso escandido desde o seu nascedouro, e a crise existencial que perpassa a visão de mundo do autor.

         Teria Clèmerson Merlin Clève escondido o poeta para dar lugar ao constitucionalista em que se transformou? Eis uma pergunta. Mas os poetas, independentemente de sua claridade, existem para a Literatura, em qualquer tempo da juventude ou da maturidade.

   Para a minha perspectiva de crítico, vejo em Clèmerson um escritor inteiro, despersonalizado, a lutar com os seus heterônimos e com os seus dramas, difundidos entre as suas vozes, que são, indiscutivelmente, plurais e polifônicas.

         São muitos os elementos estéticos, imagéticos, filosóficos e melódicos que vejo presentes em sua poesia contida em Amor Fati. Os ritos, os ritmos e as metáforas também ressaem nessa bela construção poética.

         O poeta que habitava em Clèmerson há bastante tempo estava mesmo a merecer uma voz. Para os seus leitores, foi proveitoso que ele tenha liberado a sua voz e a sua tensa emotividade de artista.


2. Alana Alencar


Já escrevi sobre Alana Alencar e sua poesia multifacetada, externando, de público, quando do lançamento do seu livro Trago do Verbo (Fortaleza: Editora ABC, 2002), a minha opinião sobre o seu lugar na literatura cearense.

          Alana possui um domínio de linguagem que a faz única entre os poetas da sua geração: é dona de um alfabeto próprio e de uma escritura literária particularíssima.

           E é justamente disto que um artista de talento precisa: ser desigual em relação a seus contemporâneos; ser original no processo de montagem do seu universo linguístico.

Não faz por menos essa renovada e autêntica poetisa, com o seu segundo inventário de poemas, cujo título, Nunca Sei Dizer Direito, é um dos mais belos que vi, de último, na poesia brasileira que resiste à tentação das vanguardas.

É uma honra, uma imensa honra recomendar aos leitores esse livro instigante, em que Alana supera os seus desafios semânticos, a sua necessidade de formas e as suas armadilhas verbais, e se consolida como um dos nomes da poesia de boa qualidade que hoje se faz no Ceará.

 Não existe o que destacar acerca desse livro, impondo-se a sua leitura integral e o prazer que podemos tirar de seus poemas. É o que espero e o que vai acontecer com todos os leitores.

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