Dois Escritores: Clèmerson e Alana
Dimas Macedo
1.
Clèmerson Clève
Em 2011, Clèmerson Merlin Clève presenteou os leitores com as peças reunidas no livro Teatro Inexperto, e agora, na condição de poeta, traz a lume Amor Fati, sendo para mim um prazer a leitura desse caderno de poemas.
A estética e a linguagem literárias
estão presentes nesse seu novo livro, aí transbordando a partitura poética, o
verso escandido desde o seu nascedouro, e a crise existencial que perpassa a
visão de mundo do autor.
Teria Clèmerson Merlin Clève escondido
o poeta para dar lugar ao constitucionalista em que se transformou? Eis uma
pergunta. Mas os poetas, independentemente de sua claridade, existem para a
Literatura, em qualquer tempo da juventude ou da maturidade.
Para a minha perspectiva de crítico, vejo
em Clèmerson um escritor inteiro, despersonalizado, a lutar com os seus
heterônimos e com os seus dramas, difundidos entre as suas vozes, que são,
indiscutivelmente, plurais e polifônicas.
São muitos os elementos estéticos,
imagéticos, filosóficos e melódicos que vejo presentes em sua poesia contida em
Amor Fati. Os ritos, os ritmos e as metáforas também ressaem nessa bela
construção poética.
O poeta que habitava em Clèmerson há bastante
tempo estava mesmo a merecer uma voz. Para os seus leitores, foi proveitoso que
ele tenha liberado a sua voz e a sua tensa emotividade de artista.
2. Alana Alencar
Já escrevi sobre Alana Alencar e sua
poesia multifacetada, externando, de público, quando do lançamento do seu livro
Trago do Verbo (Fortaleza: Editora
ABC, 2002), a minha opinião sobre o seu lugar na literatura cearense.
Alana possui um domínio de linguagem que a faz
única entre os poetas da sua geração: é dona de um alfabeto próprio e de uma
escritura literária particularíssima.
E é justamente disto que um artista
de talento precisa: ser desigual em relação a seus contemporâneos; ser original
no processo de montagem do seu universo linguístico.
Não faz por menos essa renovada e
autêntica poetisa, com o seu segundo inventário de poemas, cujo título, Nunca Sei Dizer Direito, é um dos mais
belos que vi, de último, na poesia brasileira que resiste à tentação das
vanguardas.
É uma honra, uma imensa honra recomendar
aos leitores esse livro instigante, em que Alana supera os seus desafios
semânticos, a sua necessidade de formas e as suas armadilhas verbais, e se consolida
como um dos nomes da poesia de boa qualidade que hoje se faz no Ceará.
Não existe o que destacar acerca desse livro, impondo-se a sua leitura integral e o prazer que podemos tirar de seus poemas. É o que espero e o que vai acontecer com todos os leitores.
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