O enlace teve como palco a casa-grande
do Sítio Calabaço, e foi celebrado aos 2 de novembro de 1921, pelo Padre Manoel
de Alcântara, tendo como testemunhas os irmãos da noiva, Gustavo Lobo de Macedo
e Vicente Lobo de Macedo. Os noivos eram primos entre si, em segundo grau
simples de consanguinidade.
Maria das Mercês Macedo nasceu em
Lavras da Mangabeira, na fazenda pertencente aos seus pais, aos 29 de agosto de
1903, e foi batizada na Capela de São José daquele lugarejo, aos 6 de setembro,
segundo as pesquisas de Cristina Couto, sendo oficiante do evento o Monsenhor
Meceno Linhares, então vigário da Paróquia de São Vicente Ferrer, e tendo os
noivos por padrinhos, Marcos José de Caldas e Agostinha Guilhermina de Araújo.
Assim como o seu consorte, Maria das Mercês
Macedo, José Furtado de Macedo era descendente do capitão João Lobo e de Senhorinha
de Mendonça Barros: ela, por parte do seu genitor; e ele, pelo lado materno.
Os ancestrais do meu avô Zé Furtado
estabeleceram-se, inicialmente, na Fazenda Junco, nas proximidades do Sítio
Calabaço, e ali congregaram-se os seus familiares, constituindo ele uma
cooperativa agrícola e repartindo as terras daquela localidade com os seus
colaterais.
Com o tempo, José Furtado de Macedo foi
se tornando senhor dos sítios pertencentes a seus familiares, especialmente, a
seus irmãos e cunhados, herdando a casa-grande do Sítio Calabaço, talvez por
ser sua mulher a última filha do capitão Joaquim Lobo de Macedo e de Maria
Joaquina da Cruz, também conhecida por Maria Joaquina de Macedo.
José Furtado de Macedo tinha por
alcunha o nome de Zé de Dandão, sendo seus pais João Furtado de Menezes
(Dandão) e Rosa Quintina de Macedo, e seus avós paternos, José Furtado de
Menezes e Maria Senhorinha de Macedo (Mariquinha), naturais do Município do
Crato, de onde procediam, por igual, os seus avós maternos, Conrado Lobo de
Macedo e Juliana Perpétua do Sacramento.
No plano social, além de cuidar do engenho e de manter o paiol da sua casa sempre abastecido, teceu relações com alguns comerciantes da cidade de Lavras, ali consorciando-se com uma carteira de crédito do Banco do Brasil.
Dessa união dos meus avós maternos, são provenientes: Edílson Lobo de Macedo, nascido aos 6 de outubro de
1926, e falecido em Juazeiro do Norte, aos 9 de abril de 1999; e Maria Eliete
de Macedo, nascida aos 20 de fevereiro de 1929 e falecida em Fortaleza aos 10
de outubro de 1975.
José Furtado de Macedo morreu na
cidade do Crato, para onde viajou, com a saúde já abalada. Fazia-se, na época,
acompanhado do meu pai, José Zito de Macedo, que era seu genro e sobrinho,
tendo vindo a óbito em 6 de dezembro de 1948, trasladando-se o seu corpo para
ser sepultado no cemitério de Lavras.
Viúva, minha avó passou a controlar o
Sítio Calabaço, em consórcio com os seus irmãos. Considerada uma mulher muito
forte e com decisões que faziam tremer os seus subordinados e os seus
sobrinhos, Maria das Mercês Macedo impôs o seu nome no meio da sua
parentela.
Devota de São Vicente Ferrer e assídua
frequentadora das missas dominicais celebradas da igreja de Lavras, no mês de
janeiro ela comemorava, no Sítio Calabaço, os festejos de São Sebastião, sempre
com uma missa campal e a presença do vigário da Paróquia.
A festa de São Sebastião e as moagens
de cana, no final do inverno, faziam do Sítio Calabaço um dos pontos de atração
da cidade de Lavras. Para ali acorriam os seus familiares e os seus parentes,
inclusive aqueles residentes em Fortaleza.
Esses acontecimentos marcaram
profundamente a minha infância, até o momento em que o fogo do engenho e a sua
riqueza material começaram a declinar, mudando-se ela com o meu tio Edílson
para o Sítio Baixio, vendendo o que restou do Calabaço e mandando demolir a sua
casa-grande, por caprichos que nunca consegui entender.
Tempos depois, minha avó Maria das
Mercês, que todos nós chamávamos de Mãezinha, passou a residir em Juazeiro do
Norte, onde veio a falecer, aos 13 de setembro de 1993.
A casa que lhe servia de abrigo e
fortaleza, e que simbolizava a tradição dos nossos ancestrais, estava conjugada
com outra residência, situada no seu flanco direito. Essas vivendas de campo se
comunicavam por uma porta secreta, que se abria dentro da alcova, que ficava
próxima do paiol e da cozinha, de onde trescalava uma rica culinária.
Foi na alcova desse velho casarão,
construído pelo capitão João Lobo, que nasci aos 14 de setembro de 1956. Em sua
frente, existia um alpendre bastante dilatado, e na sua extensão superior,
achava-se um sótão de grandes proporções, cujo acesso se fazia por uma escada
com dois pavimentos, e de cujo sopé se podiam divisar os brejos de cana do
glorioso Sítio Calabaço.
Tudo isso se foi perdendo na
memória, e a memória dos Lobo de Macedo se foi também derruindo, até o momento
em que escrevo este texto. Para alguns, essa tradição é ainda um retrato na
parede, mas o Calabaço, por tudo o que representou no passado, pertence à história
social do Município de Lavras.
Dá gosto ser leitor de um grande escritor!
ResponderExcluirTexto brilhante!
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