Com
João Ubaldo Ribeiro convivi em várias vezes oportunidades. Mas antes de me
aproximar de Ubaldo, conheci, em Salvador, ainda quando estudante, o seu
pai, o professor Manoel Ribeiro, que me fez uma bonita dedicatória do seu livro
- A Institucionalização Democrática do Poder.
Augurou, o velho Manoel Ribeiro, que eu seria
um constitucionalista, pois via no meu interesse pela Política e a Teoria do
Estado o caminho que eu viria realmente a trilhar.
O
Ubaldo tinha uma relação extremamente difícil com o pai, que praticamente lhe
impôs a condição de Professor de Ciência Política da Universidade Federal da
Bahia.
Enquanto professor e por conta
dos seus deveres acadêmicos, João Ubaldo escreveu um manual para uso dos seus
alunos, intitulado Política, que foi
várias vezes publicado pela editora Nova Fronteira.
É possível que o velho Manoel
Ribeiro, de formação francamente elitista, não tenha gostado da linguagem acessível
desse manual, destinado não apenas a estudantes de Direito, mas ao público em
geral. Esse livro de Ubaldo tem sido, até hoje, um dos seus grandes sucessos,
apesar de não constar, com regularidade, no elenco da sua produção.
Mas nesta crônica, o que pretendo é
registrar a minha admiração pelo escritor João Ubaldo Ribeiro, um dos mais
geniais romancistas do Brasil, autor de livros como Sargento Getúlio, O Albatroz
Azul, A Casa dos Budas Ditosos e Viva o Povo Brasileiro.
Encontrei-me com João Ubaldo,
pela primeira vez, na Fundação Casa de Jorge Amado, no Largo o Pelourinho, em
Salvador, e a ele fui apresentado pelo jornalista Favela Filho. Iniciamos,
então, uma boa convivência, que prosseguiu, algum tempo depois, num restaurante
do Leblon, no Rio de Janeiro.
Numa
das vezes em que viajei a Salvador, tive o privilégio de conhecer o ficcionista
baiano, Hélio Pólvora, na casa de James Amado, ao redor de um cozido de
carneiro, ao sabor da melhor cozinha regional.
James Amado e Hélio Pólvora me
deixaram ainda mais próximo de Ubaldo, a partir dos relatos das suas molecagens
e do seu jeito desprendido de ser. Segundo James, Ubaldo não se preocupou com
os esforços de Jorge Amado para leva-lo para a Academia Brasileira de Letras e,
no dia da posse, ostentava uma calça jeans e um par de tênis que se deixavam
ver por baixo do fardão.
Numa das suas viagens a
Fortaleza, entornamos algumas doses de whisky, cujo conteúdo ele utilizava para
ingerir a sua medicação coronariana e os seus reguladores de pressão. Nessa
ocasião, fizemos algumas fotos e eu perguntei a Ubaldo acerca de uma garrafinha
que ele carregava nas mãos. Ele disse-me que nela se continha o elixir da
longevidade.
Era assim João Ubaldo Ribeiro: um
ser humano fora do comum, leve nas suas relações, brincalhão no seu jeito de
ser, porém um escritor e acima de tudo um escritor, dos maiores que o Brasil
conheceu. E de forma que a sua partida deixa um imenso vazio entre nós.
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