sexta-feira, 29 de agosto de 2014

João Ubaldo Ribeiro

                  Dimas Macedo

 
 
Dimas Macedo e Joao Ubaldo 

                   Com João Ubaldo Ribeiro convivi em várias vezes oportunidades. Mas antes de me aproximar de Ubaldo, conheci, em Salvador, ainda quando estudante, o seu pai, o professor Manoel Ribeiro, que me fez uma bonita dedicatória do seu livro - A Institucionalização Democrática do Poder.

                 Augurou, o velho Manoel Ribeiro, que eu seria um constitucionalista, pois via no meu interesse pela Política e a Teoria do Estado o caminho que eu viria realmente a trilhar. 

                 O Ubaldo tinha uma relação extremamente difícil com o pai, que praticamente lhe impôs a condição de Professor de Ciência Política da Universidade Federal da Bahia.

                Enquanto professor e por conta dos seus deveres acadêmicos, João Ubaldo escreveu um manual para uso dos seus alunos, intitulado Política, que foi várias vezes publicado pela editora Nova Fronteira.

                É possível que o velho Manoel Ribeiro, de formação francamente elitista, não tenha gostado da linguagem acessível desse manual, destinado não apenas a estudantes de Direito, mas ao público em geral. Esse livro de Ubaldo tem sido, até hoje, um dos seus grandes sucessos, apesar de não constar, com regularidade, no elenco da sua produção.

                Mas nesta crônica, o que pretendo é registrar a minha admiração pelo escritor João Ubaldo Ribeiro, um dos mais geniais romancistas do Brasil, autor de livros como Sargento Getúlio, O Albatroz Azul, A Casa dos Budas Ditosos e Viva o Povo Brasileiro.

                Encontrei-me com João Ubaldo, pela primeira vez, na Fundação Casa de Jorge Amado, no Largo o Pelourinho, em Salvador, e a ele fui apresentado pelo jornalista Favela Filho. Iniciamos, então, uma boa convivência, que prosseguiu, algum tempo depois, num restaurante do Leblon, no Rio de Janeiro.

                Numa das vezes em que viajei a Salvador, tive o privilégio de conhecer o ficcionista baiano, Hélio Pólvora, na casa de James Amado, ao redor de um cozido de carneiro, ao sabor da melhor cozinha regional.

               James Amado e Hélio Pólvora me deixaram ainda mais próximo de Ubaldo, a partir dos relatos das suas molecagens e do seu jeito desprendido de ser. Segundo James, Ubaldo não se preocupou com os esforços de Jorge Amado para leva-lo para a Academia Brasileira de Letras e, no dia da posse, ostentava uma calça jeans e um par de tênis que se deixavam ver por baixo do fardão.

               Numa das suas viagens a Fortaleza, entornamos algumas doses de whisky, cujo conteúdo ele utilizava para ingerir a sua medicação coronariana e os seus reguladores de pressão. Nessa ocasião, fizemos algumas fotos e eu perguntei a Ubaldo acerca de uma garrafinha que ele carregava nas mãos. Ele disse-me que nela se continha o elixir da longevidade.

              Era assim João Ubaldo Ribeiro: um ser humano fora do comum, leve nas suas relações, brincalhão no seu jeito de ser, porém um escritor e acima de tudo um escritor, dos maiores que o Brasil conheceu. E de forma que a sua partida deixa um imenso vazio entre nós.

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