sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Venda Grande D'Aurora

              Dimas Macedo
                                                   

                  Nenhuma das globalizações levadas a efeito pelo historicismo conseguiu eliminar da vida social aquilo que lhe é intrínseco: a afirmação das sociedades regionais e desenvolvimento das instituições municipais. A globalização corresponde a um modelo de organização material, mas é incapaz de deter o curso da vida e a expansão criativa daqueles que se associam em nome de uma nova conquista social.

             Na região centro sul do Ceará, entre meados do século dezoito e final do século dezenove, firmou-se uma de nossas melhores civilizações, cuja capital localizou-se na velha Princesa do Salgado, a malsinada terra dos Augustos e do oráculo de São Vicente Ferrer.

              Ao seu redor, várias comunidades foram surgindo e se afirmando a partir de capelas e oratórios, construídos por núcleos civilizatórios de caráter parental, com o fim de preservar a religião católica romana e expandir o poder político do Império.

             A Povoação da Venda, hoje município de Aurora, é um desses núcleos civilizatórios a que me referido. Liga-se à cidade de Lavras da Mangabeira pelo duto cavado pelo Rio Salgado e é recortada por vales e baixos que fariam a glória

de qualquer comuna cearense.

            Surgiu do oratório ali levantado pelo Padre Antônio Leite de Oliveira, que em torno de si, a um só tempo, reunia as condições de pastor, proprietário, criador e reprodutor da gênese humana que se foi expandindo para toda a região do Cariri.

           Vários acontecimentos históricos fizeram de Aurora uma comuna bastante conhecida em todo o Ceará. Cito o rumoroso caso das Minas do Coxá e as agitações que cominaram com a Questão do Oito, especialmente porque esses episódios foram escritos com sangue e com o tecido de diversos conflitos que se tornaram traços da história de toda a região.

             Aurora também se destaca por ser Pátria de Aldemir Martins e Hermenegildo de Sá Cavalcante e por ser a Terra Natal de Paulo Quezado e Lúcio Brasileiro, e por estar vinculada à história de Marica Macedo do Tipy, a brava cearense que enfrentou a polícia de Nogueira Accioly e se fez respeitada para além da sua região.

            Os historiadores do Sul do Ceará sempre se referiram a Aurora com entusiasmo, alguns condenando o seu banditismo, outros louvando a sua tradição ou exaltando a sua história gravada com fogo e heroísmo, outros ainda destacando a sua vocação econômica e social; mas nenhum deles pensou em Aurora como personagem principal ou como boca de cena de uma grande narrativa.

              O território de Aurora, enquanto objeto de pesquisa, agora está minado, e já não tem como ser diferente, pois João Tavares Félix Júnior assumiu a condição de arauto da história de Aurora, a condição de seu pesquisador, privilegiando o seu burgo e a sua gente com a abertura de uma grande janela, voltada para a memória e para o registro de caráter cultural.

            Um método escolheu o autor para o registro da sua narrativa: a cronologia dos acontecimentos, com destaque para a louvação do calendário histórico e para a verificação apodítica, fazendo da história de Aurora uma ciência de grande interesse acadêmico, porque permeada pelos fatos e comprovada pelo rigor da pesquisa.

             Venda Grande D’aurora (Fortaleza, Expressão Gráfica, 2012) é um livro que já nasce aberto para a louvação, pois foi escrito a partir de uma linguagem vigorosa, e com a paixão e o denodo dos que querem tomar a história em suas mãos, fazendo do sentido da vida a sua experiência.

            Trata-se, no caso do autor desse livro, de um historiador que sabe respeitar as suas linhas de pesquisas, que tem a história do Cariri gravada no seu sangue e o orbe do Salgado insculpido na sua consciência.

           Não me compete neste texto fazer a apresentação do autor nem resumir para o leitor a vertente dos acontecimentos. Cumpre-me, isto sim, falar da importância deste livro, da sua precisão histórica e da sua utilidade para os aurorenses e para os historiadores de todo o Ceará.

           Honrou-me o autor com o convite para escrever o prefácio desse livro, mas o que ele fez, em essência, foi homenagear a sua terra e distinguir a sua gente qual a espécime da raça cearense que ainda faz o Ceará renascer, pela tradição do seu povo e pelas lições de vida e de história que deu ao Nordeste do Brasil.

3 comentários:

  1. JOÃO TAVARES CALIXTO JUNIOR, é hoje um emergente historiado, dotado de grande saber e dedicação. Ao ler suas publicações notamos o trato fácil com as palavras, o que leva ao leitor a ter maior facilidade interpretativa e usufruir de maneira clara do que é escrito por ele. A nossa história de uma maneira geral, ganhou um grande presente: "João Tavares Calisto Junior". Parabéns pelas publicações.

    ResponderExcluir
  2. Valioso comentário a propósito de obra incomparável da história do próspero município de Aurora.

    ResponderExcluir
  3. Gostaria de saber como faço para adquirir o livro. Grato pela informação.

    ResponderExcluir