Lobo Manso
Leitores eu vou
narrar
Uma nova profecia
De um garrote que
falou
No Estado da Bahia
Andando um
fazendeiro
No campo com seu
vaqueiro
Um garrote lhe deu
bom dia
Foi isto em
quarenta e três
A quatro de fevereiro
Na fazenda São
José
Assim me disse o
vaqueiro
Que viu o animal
falando
Ele e o homem
escutando
Debaixo de um
juazeiro
O garrote era zebu
De tamanho
descomunal
Bem-feito como no
mundo
Não pode haver
outro igual
Com quatro letras
escritas
Com tinta muito
bonita
No lombo desse
animal
O garrote assim
falou
Bom dia, meu
capitão
Com és o
fazendeiro
Mais nobre deste
sertão
Agora eu vou lhe
dizer
E o senhor vai
escrever
A minha declaração
O capitão quando
viu
Aquela cena
horrorosa
Ficou de queixo caído
E a fala muito
tremosa
Disse muito
admirado:
Aquele 4 dobrado
Já vi que letra mimosa
Disse o garrote
estas letras
Cravadas aqui em
meu lombo
São iniciais da
guerra
Que traz o mundo
em assombro
Desta vez a
Alemanha
Bota fora toda a
manha
Deixando no mundo
um rombo
Falou que o 4
dobrado
É sinal de
acidente
Oito países
oprimidos
Em um grande
continente
Ficam sujeitos ao
Japão
Ficam sendo outra
nação
Um só rei ou
presidente
Esse M quer dizer
Muito país
derrotado
Muita riqueza
destruída
Muito barco
naufragado
Muito homem
enlouquecido
Muita mulher sem
marido
Muito sangue
derramado
A letra N quer
dizer
Não conhecemos o
futuro
Não sabemos pra
onde vamos
Não temos planos
seguros
E o mais tudo se
some
Não sei como é que
os homens
Na terra querem ser
duros
A letra P quer
dizer
Pedimos com
piedade
Pedimos a Nossa
Senhora
Pra nos dar
felicidade
Pedimos a Nosso
Senhor
Por ser grande
protetor
Que proteja a
orfandade
Temos um superior
Que a todo mundo
domina
Escreve em linhas
tortas
E o direito discrimina
É Deus grande e
valoroso
Só ele é poderoso
E nunca mudou seu clima.
Esta guerra onde atingir
No lugar onde
passar
É como rede de
arrasto
Quando o dono vai
pescar
Tiro de peça e
canhão
Bombardeios de
avião
Feliz de quem
escapar
Vê-se gente
espedaçada
De uma e outra
nação
Uns sem perna
outros sem braço
Rolados pelo
canhão
Uns doidos e
outros sem fala
Todos varados de
bala
Rolando frios no
chão
Na água os
submarinos
Torpedeando os
navios
Na terra o tanque avançando
Com os outros em
desafio
Fazendo grande
explosão
Pelos ares o avião
Solta bombas sem
desvio
De repente este
garrote
Transformou-se em
um pavão
Com umas pintas
doiradas
E outras
cor-de-carvão
Tornou-se um
pássaro bonito
E no peito estava
escrito
Meu Padim Ciço
Romão
Disse adeus meu
fazendeiro
Não posso mais
demorar
Meu Padrinho está
em Roma
Ouço ele me chamar
E o mais tudo se
move
Até em noventa e
nove
Quando o mundo se
acabar
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