quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Zito Lobo, Meu Pai: Perfil de Um Poeta

Dimas Macedo

                                                     

      Zito Lobo é pseudônimo pelo qual se tornou conhecido, em Lavras da Mangabeira (CE), José Zito de Macedo, nascido naquele Município, mais precisamente, no Sítio Calabaço, aos 29 de novembro de 1922, e falecido em Fortaleza, aos 24 de março de 1987.

 Filho de Antônio Lobo de Macedo (Lobo Manso) e de Maria de Aquino Furtado, era neto de Joaquim Lobo de Macedo e de Maria Joaquina de Macedo, pelo lado paterno, sendo seus avós maternos, Antônio Furtado de Menezes (Totonho) e Maria Guilhermina de Aquino.

 Durante a infância e juventude, residiu na cidade de Lavras, onde fez seus estudos primários no tradicional Grupo Escolar, sendo depois vitorioso no exame de admissão no Ginásio do Crato, aí encerrando-se a sua formação escolar.

 Aos 27 de novembro de 1945, matrimoniou-se com a minha mãe, Maria Eliete de Macedo, sua prima legítima, filha de José Furtado de Macedo e Maria das Mercês Macedo, havemdo dessa união os seguintes filhos: Rivaldo, Lúcia, José Edimar, Marta, Dimas, Zito Filho e Sandra Maria de Macedo, todos educados pelo trabalho e o estudo e pela Fé Católica por ele professada.

 No Sítio Calabaço, viveu da pecuária e da agricultura, mudando-se novamente para Lavras, em 1958, especialmente em face da seca que assolou o Ceará nesse período. Ali,  desenvolveu atividades no Sítio Cajueiro, que adquirira, por compra, do seu primo e cunhado, Vicente Favela de Macedo.

  Das terras desse pequeno sítio, localizado na margem esquerda do Riacho da Extrema, à relativa distância da cidade de Lavras, meu pai extraía o sustento da família, tendo por fontes o plantio e a colheita de grãos e os recursos da pecuária.

  Atuou também no Sítio Coqueiros, de sua propriedade, situado próximo à barragem do Rio Salgado, onde manteve uma pequena vacaria e uma vazante repleta de fruteiras e hortaliças, e com três pequenas residências.

  Seu nome remarca as tradições de sua cidade natal, onde ostentou exemplo de vida fincado na justiça e na participação, agindo sempre com serenidade, que era traço maior da sua distinção.

  Integrando-se a diversas instituições em sua terra, ali foi um dos fundadores do Círculo Operário dos Trabalhadores Cristãos, de cujo núcleo regional foi presidente, ajudando, ele próprio, a construir a sede dessa sociedade, entre o galpão da RVC e a Rua da Cajarana, edifício que ainda hoje se mantém.

  Foi um dos criadores e gestores do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, e instituidor da Cooperativa dos Trabalhadores Rurais de Lavras da Mangabeira, que igualmente dirigiu, ali defendendo os valores da agricultura e do crédito para pequenos produtores.

 Em 1966, participou da fundação do diretório municipal do MDB, ao lado de outros conterrâneos, tais como João Guedes de Araújo, Jaime Lobo de Macedo. Otoni Lopes de Oliveira e Antônio Pinto de Macedo.

 E, ao abrigo dessa vivência, teve o seu nome cogitado ao cargo de prefeito, o mesmo ocorrendo em 1976, quando o industrial João Ludgero Sobreira o quis transformar em chefe da edilidade. De ambos os encargos ele soube se eximir com elegância, afirmando não possuir interesse pelas coisas do poder.

 Relações de estima e afetividade foram valores que sempre difundiu entre os seus. O seu carisma e disposição de servir à causa comunitária marca, indelevelmente, a sua trajetória, hospedando ele em nossa casa, nas férias de julho e no início de cada ano, os seus parentes que residiam em Fortaleza.

        Integrou o Lions Clube de sua terra e, junto à Paróquia de Lavras, teve destacada atuação, especialmente, na promoção das suas festividades, dos seus novenários e festas do Padroeiro, nas quais comparecia com a sua opa, ajudando na organização das procissões e na condução do andor de São Vicente Ferrer. 

 Mudando-se para Fortaleza, em 1975, meu pai foi Cooperador Salesiano na Paróquia da Piedade, ali integrando as associações do Sagrado Coração e de Nossa Senhora Auxiliadora, e exercendo funções de direção junto ao Círculo Operário dos Trabalhadores Cristãos, vinculado ao bairro onde residia.

 Dotado de simplicidade e de expressão discreta e cativante, meu pai tinha uma forte ligação com suas raízes cearenses, sendo ele autor de um livro de poemas que atesta o seu amor à poesia e à cultura da sua região.

        Sempre acompanhei a sua dedicação à escritura e à leitura, mas não me acorreu a ideia de que, no final dos seus dias, a sua criação de poeta estivesse pronta para ser publicada.

 Dessa circunstância é que nasceu a edição de Trovas e Poemas (Fortaleza: Oficina, 1990; 2ª ed. Fortaleza: Edições Poetaria, 2011), volume no qual reuni os seus poemas produzidos especialmente após a morte de minha mãe, Maria Eliete de Macedo, aos 10 de outubro de 1975.

 Da sua emoção de poeta brotaram trovas e sonetos recheados de recordações, e poemas que despertaram a atenção de Joaryvar Macedo (de quem era irmão unilateral) e José Alcides Pinto, que escreveram sobre sua obra.

 Revestindo os seus versos de fino gosto artesanal, valeu-se da trova, da décima e do repente para denunciar os contrastes do nosso esquecido sertão, seguindo, nesse passo, a influência maior da poesia popular.

Ao ensejo da criação da Academia Lavrense de Letras, o poeta Linhares Filho foi um dos primeiros a indicar o seu nome para Patrono de uma das Cadeiras, gerando, de plano, a concordância de todos os presentes.

 Honra-me o fato de ser filho desse denso e memorável Zito Lobo. A sua retidão e leveza de espírito e o seu desejo de servir ao próximo e de amar à causa de Deus e da Igreja constituem parte do que mais admiro na sua formação.

        Eu sempre o amei e venerei da forma mais sentida, e da forma mais sagrada daquilo que faz parte de mim, e que me ensina a ser, a cada instante, um servo fiel do seu amor, bastando-me o seu exemplo como modelo de amparo e proteção para todos nós.


                                                                                                                             Fortaleza, outubro de 2019                       


                                             
                                                       
                                                             Igreja de São Vicente Ferrer
                                                             Lavras da Mangabeira-Ceará


16 comentários:

  1. Respostas
    1. Aninha, você é a cunhada que primeiro chegou no meu blog, e a única que sempre está interagindo comigo neste espaço. Saiba que o meu afeto por você é muito grande e que faço questão de que fique registrado por escrito.
      Dimas Macedo

      Excluir
  2. CARO PRIMO DIMAS MACÊDO,VENHO UFANAR MINHA ALEGRIA AO LER AS PALAVRAS FEITAS EM HOMENAGEM AO SEU PAI TIO JOSÉ ZITO DE MACÊDO (ZITO LÔBO). VERDADE QUE ESTE HOMEM FOI UM SIGNIFICADO DE AMOR E RETIDÃO. PESSOA IMPAR E DE COMPORTAMENTO EXTREMAMENTE EXEMPLAR. NESSA DATA EM QUE COMEMORIA 90 ANOS DE EXISTÊNCIA, NADA MAIS JUSTO DO QUE RELEMBRAR SUAS AÇÕES, SEU DENODO PELA FÉ E CRENÇA EM DEUS. BOM DIZER, QUE AS PALAVRAS ESCRITAS E DEIXADAS POR TIO ZITO, REFLETEM UMA CONTINUIDADE DE ENALTECEMINTO A NOSSA GENTE, AOS NOSSOS COSTUMES, ONDE NOTA-SE QUE BOA PARTE DO SEU CONHECIMENTO ADVEIO DE SEU PAI ANTONIO LÔBO DE MACÊDO (O POETA LOBO MANSO DO CALABAÇO). COMO SEU PRIMO, COMO SOBRINHO DE TIO ZITO E COMO NETO DE ANTONIO LÔBO DE MACÊDO, NÃO PODERIA FURTAR-ME DESTE MOMENTO PARA TAMBÉM ENALTECER A MEMORIA DE TIO ZITO, E, POR OPORTUNO, PARABENIZA-LO DIMAS, POR TÃO BRIOSA LEMBRANÇA E COLOCAÇÕES.
    ABRAÇOS.
    CARLOS ANTONIO DE MACÊDO GOMES (CARLINHOS GOMES).

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Carlinhos, tê-lo na condição de primo é uma honra. Creio que o meu pai, se vivo estivesse,
      se orgulharia muito do sobrinho que você é, filho da minha querida Tia Nirinha e do meu tio
      Antônio Gomes de Holanda, que estarão sempre entre os meus afetos.
      Dimas Macedo.

      Excluir
  3. Conheci muito Sr. Zito Lobo, homem íntegro, honesto, amigo fiel, dedicado a família e muito apaixonado por Dona Eliete. Amor como o deles não tem igual. Parabéns ao amigo Dimas Macedo por ser filho de uma figura tão respeitada e a nós, lavrenses, por sermos seus conterrâneos.
    Cristina Couto.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Cristina, tendo sido você bastante sintética, acertou na coisa maior: o grande amor vivido
      pelo meu pai e a minha mãe.
      Gratíssimo.
      Dimas Macedo.

      Excluir
  4. Dimas; quero parabenizar pela atitude nobre, em nos presentear com este texto rico de informações sobre o seu pai.
    Eu ainda menino, sentado nos degraus do patamar da Igreja de São Vicente Ferrer das Lavras da Mangabeira, após a missa dominical celebrada pelo Pe Alzir Sampaio, observava o movimento dos fieis que deixavam aquela catedral, rememoro o casal Zito Lobo e Da Eliete conduzindo a prole que acabara de participar do ato litúrgico. Seu Zito, cordeiro com sobrenome de Lobo. Ao celebrar 90 anos, elevamos um hino de louvor e ação de graças a Deus, por termos tido esse irmão conosco durante 65 anos, tempo dado por Deus em que usou ensinando a verdade e denunciando a mentira. Minha palavra de gratidão a Zito Lobo, é pelo seu testemunho de amor, carinho, dedicação, zelo pela família, pelo povo, pelas lideranças de pastorais e movimentos por ele organizadas, estruturadas, firmes e radicada na palavra da fé em Deus. Exemplo legado a seus descendentes que hoje honorificam como podemos comprovar neste seu texto. Os anos ensinam muitas coisas que os dias desconhecem. É o que posso concluir após a leitura de “Zito Lobo, Meu pai: 90 anos de um poeta”. Obrigado pela sua vida e mesmo distante de nós, que você continue sendo luz a brilhar no meio de nós, entusiasmando e encorajando como discípulos na arte de poetar. Obrigado por nos ter ofertado: Dimas, Lúcia, Zé Zito, Marta, Sandra, Rivaldo e José Edmar (in memorian) e toda uma descendência. Com grande admiração. Abraços
    JBMoura

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Jeová, lendo o seu texto, sentir por você o mesmo amor que tenho pelos meus irmãos, que você enumera tão bem. Isto se não fosse também a grande amizade que tenho por você.
      Dimas Macedo

      Excluir
  5. A Verdade é que meu avô Zito Lobo era um homem vocacionado à eternidade. Estes 90 anos fazem ecoar no seio de toda a nossa família o mistério que foi sua vida, vivida sempre sob a ótica de um amor pascal e mariano, centralizado no mistério de Cristo e da Igreja, e que transbordou concretamente no amor à sua família, filhos, netos e todos os seus semelhantes. Este foi o grande e verdadeiro segredo deste homem. Suas virtudes e sua sensibilidade brotam desde campo fecundo onde as raízes de sua fé e religiosidade foram lançadas e cultivadas.
    Obrigado Vovô Zito! Sua vida e sua lembrança são um Dom de Deus para todos nós!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Diego, meu filho, você é luz para o mundo, e carrega, com certeza, o maior componente genético da
      fé edificante, do amor incondicional e da espiritualidade vivida pelo seu avô Zito Lobo. Especialmente na condição de cristão e católico, saiba que me orgulho muito de você, e que o
      meu pai transmitiu, sim, para um neto, a força indestrutível da sua religiosidade.
      Dimas Macedo

      Excluir
  6. Li e reli o texto de homenagem a seu pai pela passagem dos noventa anos de nascimento. Não conheci o Poeta Zito Lobo pessoalmente, porém pude ver naquele texto o retrato perfeito de homem íntegro, humano, inteligente e servidor. Além de tudo, dedicou sua vida à causa comunitária, idealizando agremiações, tentando facilitar a vida dos outros e pensando o social em primeiro lugar. Feliz do homem cujo filho o reconhece como verdadeiro herói, espelho de vida e motivo de eterna lembrança. Pelo que você revela de seu pai nesta homenagem, pude descobrir a origem de tantas qualidades boas que você também possui, a partir de sua índole altruísta, busca da valorização dos semelhantes e defesa dos princípios de justiça e humanismo, através da grande capacidade que tem em expressar-se pela escrita.
    Parabéns,
    Vicente Lemos.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Meu caro Vicente Lemos, ter um pai digno e generoso é um virtude divina, mas manter-se nos limites da Ética e da busca incessante da Justiça, como faço cotidianamente, exige decisões
      diuturnas, amor ao reino de Deus e da verdade e fé no triunfo do Bem e de todas as virtudes
      mais nobres. Saiba que sou feliz também por tê-lo na cobta de amigo.
      Dimas Macedo

      Excluir
  7. AO LER A BIBLIOGRAFIA DESSE HOMEM GRANDE,DESSE GRANDE HOMEM ME VEM À MEMÓRIA UM TRECHO DA CARTA AOS HEBREUS QUE, APÓS ENALTECER OS ANTEPASSADOS DO POVO DE DEUS, O AUTOR, COMO QUE EM ÊXTASE DIANTE DE TANTOS ATOS HERÓICOS DAQUELE POVO,PROCLAMA: " HOMENS DOS QUAIS O MUNDO NÃO ERA DIGNO"( Hb 11,38). TIVE A HONRA DE CONHECER TIO ZITO. DIZEM QUE OS "OLHOS SÃO A JANELA DA ALMA" E AO OLHAR, MESMO CRIANÇA COM 7 ANOS, PARA OS SEUS OLHOS, FACILMENTE SE PERCEBIA QUE ERA UM GRANDE HOMEM. HOMEM DE FIRMEZA, DE CARÁTER. O MEU PAI RAIMUNDO MACÊDO PINTO, SOBRINHO E AFILHADO DE CRISMA DE TIO ZITO, FALAVA DELE POR DEMAIS, E NUNCA ERA DEMAIS, ENALTECENDO SUAS QUALIDADES. TINHA O PRAZER EM DIZER QUE ERA SEU AFILHADO. LOGO QUE DESCOBRI O SIGNIFICADO DE PADRINHO(SEGUNDO PAI) ENTENDI O ORGULHO DO MEU PAI EM TÊ-LO COMO PADRINHO, DIGO PAI. HOJE HOMENS COMO TIO ZITO SÃO RARIDADE. TALVEZ SEJA ESSA A JUSTIFICATIVA PARA TANTOS ATOS DESUMANOS PRATICADOS HOJE. COMEMORANDO 90 ANOS DE EXISTÊNCIA DE TIO ZITO CELEBRO, ME ALEGRO CADA VEZ MAIS COM A CERTEZA DA EXISTÊNCIA DO CÉU. DE UMA VIDA ETERNA. POIS PRA MIM É INCONCEBÍVEL QUE HOMENS COMO TIO ZITO, ILIMITADO NA SUA MANEIRA DE SER, DE SERVIR POSSAM ESTAR CONTIDOS NO QUE É LIMITADO. PARABÉNS TIO ZITO,PARABÉNS CIDADÃOS DO CÉU POR TAMANHA AQUISIÇÃO! DOTEUSOBRINHO E PORQUE NÃO DIZER AFILHADO ALBERTO MAGNO MACÊDO PINTO(BETO)

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Alberto Magno, meu primo e irmão na fé e na graça de viver segundo o modelo dos cristão, seu
      testemunho sobre o meu pai e seu tio-avô Zito Lobo, tem a coloração das grandes virtudes. Que Deus continue iluminando a sua caminhada. Um Forte abraço.
      Dimas macedo

      Excluir
  8. não tenho muitas lembranças imagéticas de tio zito, talvez porque eu fosse ainda menino, mas meu pai raimundo macedo pinto avivou sempre o desenho de sua alma para nós seus filhos, com a ajuda de minha mãe, socorro macedo, acervo de bolso do peito de nossa memória. guardo-o então como um homem alto, das alturas de fora e de dentro; um homem sereno e claro; um homem bem amado por meu pai, que o amava como a um pai. guardo a cor de seus cabelos, a profundidade de seu olhar, a fala mansa de neto de Lobo e as rugas, histórias escritas na face. o nome zito para minha pequenez era música pura, hoje entendo essa poesia toda. quando partiu, vi meu pai partir, mas logo vi meu pai voltar e zito voltou a ser tocado e cantado em nossa casa. orgulho-me de ter estas coisas em mente e essas pessoas no coração. orgulho-me de ver em minha familia um balaio cheio de homens e mulheres de bem, de antes e durante, frutos colhidos para inspiração e esperança do tempo dos depois. grande abraço dimas querido. paulo emilio, das terras de pernambuco.

    ResponderExcluir
  9. Caro primo amigo Dimas; entrei direto no seu blog, para apreciar a sua moção em homenagem a seu pai, e me emocionei em ver citado alí todas as qualidades que um cidadão de bem como era seu pai pode possuir e ele possuia.
    Era honesto,íntegro, humano, ético, justo e amigo dos amigos.
    Tenho o prazer de dizer que era o meu melhor amigo dos que possuí na epoca; era como se diz homem com H maiusculo.
    Dados que herdou do pai seu avô; católico fervoroso.
    Quero associar-me a sua moção com muito carinho e devoção
    Forte abraço.

    ResponderExcluir