quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Em Torno de Sinhá D ' Amora


      Dimas Macedo


                                                                                                Boqueirão de Lavras
                                                                                               Próximo ao local em que
                                                                                               Sinhá D ' Amora nasceu.

          Sinhá d’Amora tem sido considerada por críticos de arte e historiadores como a maior artista plástica do Ceará e uma das grandes pintoras do Brasil. A sua importância para as artes plásticas, portanto, é incalculável. Acho que a sua obra devia ser mais pesquisada e discutida, assim como acontece com a produção de outros artistas de renome.

         Existe uma pequena biografia de Sinhá que aqui recomendo – aquela que foi escrita pelo Túlio Monteiro. Intitula-se Sinhá D’Amora e foi publicada em 2004 pela coleção Terra Bárbara das Edições Demócrito Rocha, de Fortaleza.

         No contexto da obra produzida por Sinhá D‘Amora, ponho em destaque o apuro clássico e erudito que ela emprestou à sua arte, com trânsito livre por diversas escolas e tendências, mas sempre mantendo os traços da sua originalidade e da sua fidelidade ao Ceará.

          Mesmo com seus quadros expostos em galerias e museus da Europa e da América Latina, tinha um amor muito grande pela sua terra. A Prefeitura Municipal de Fortaleza reconheceu a sua expressão cultural e lhe dedicou um Memorial, com parte do seu acervo, mas isso foi removido posteriormente sem nenhuma explicação, até o momento.

         Sinhá D'Amora circulou muito no exterior e tornou-se bastante conhecida. Esse seu intercâmbio foi de suma importância para a difusão da sua obra. A partir de 1933, ela passou a residir no Rio de Janeiro, onde cursou a Escola Nacional de Belas Artes, complementando os seus estudos na Aliança Francesa, e seguindo, neste passo, a tradição cultural do seu pai, que foi aluno do Bacharelado de Ciências e Letras do Colégio Pedro II.

        Em 1949, transferiu-se para Itália, onde se graduou pela Academia de Belas Artes de Florença, ali tendo cursado, também, a Universidade de Estudos de Línguas e Artes e o Centro di Cultura per Stranieri.

        Em Florença, conheceu alguns nomes expressivos das artes plásticas do século XX, contando-se, dentre eles, Pablo Picasso. Em seguida, ela tomou o destino de Paris, para onde viajou em outras oportunidades e onde cursou a Acadèmie de la Grand Chaumière.

         Sinhá foi uma mulher excepcional. Teve uma formação cultural rigorosa. Foi casada com o escritor Amora Maciel, da Academia Cearense de Letras, mas sempre se mostrou livre e decidida diante dessa relação.

          Preferiu não ter filhos e se dedicou à sua arte e aos seus intercâmbios sempre com muita liberdade. Não se deixou aprisionar pelas convenções sociais. Seu nome oficial – Fideralina – constituía uma homenagem à avó paterna – Dona Fideralina Augusto –, a célebre matriarca de Lavras da Mangabeira (CE), que tanto se destacou na história política do Nordeste.

         Para a minha honra, sou conterrâneo de Sinhá d’Amora, cujo perfil foi por mim tracejado no livro Lavrenses Ilustres (1981, 3ª ed. 2012). Com ela me correspondi bastante, eu, residindo em Fortaleza; ela, no Rio de Janeiro.

          Na década de 1990, Sinhá fixou residência em Fortaleza, e aí, consolidamos uma grande amizade. Frequentei as rodas de chás que ela oferecia para seus amigos, sendo o pivô desses encontros, o Cláudio Pereira, na época, presidente da Fundação Cultural de Fortaleza.

          Sinhá D’Amora tinha uma conversa vivaz e agradável. Era acolhedora e carinhosa. Um grande ser humano, acima de tudo.



Um comentário: