O nome de Artur Eduardo Benevides
representa um dos momentos mais expressivos da história literária do Ceará. E
mais, muito mais do que isso: pela transcendência metafórica da sua alocução
criativa e pelo domínio quase absoluto da linguagem e dos ingredientes formais
do poema, esse grande escritor cearense não deixa de se revelar como um dos
mais importantes poetas do Brasil.
E se faço esta afirmação inicial,
esclareça-se, é para testemunhar não propriamente a minha admiração pela
luminosidade da sua produção, mas para ratificar um juízo crítico que, como
estudioso do fenômeno literário, trago dentro de mim. Não é, pois, produto de
uma inspiração momentânea, posta em discussão para fazer efeito ou
impressionar.
Quem, aliás, com a argúcia de
crítico, se der ao trabalho de examinar a sua produção, constatará, por
exemplo, que da estreia de Artur Eduardo Benevides, em 1944, com Navio da Noite, até a publicação de Os Deltas do Sonho (Prêmio Bienal
Nestlé de Literatura – 1988) uma ascendente trajetória literária foi conscientemente
executada, através da feitura de poemas tocados pela sensibilidade e pelo traço
original e genuíno de um refinado escritor.
É claro e de conhecimento notório
que da poesia de Artur Eduardo Benevides alguns
setores da literatura cearense têm cobrado um mais decidido engajamento e um
mais contundente discurso social.
A falácia do engajamento, entretanto, pelo
menos para a minha visão de produtor de cultura, é um dilema que somente as
pequenas províncias literárias ousam discutir. Contra ele são incisivos tanto
os pronunciamentos de Engels ou de Marx, quanto os de Lucien Goldman e,
especialmente, os de Georg Lucáks, para quem a literatura consiste na
tipificação figurativa da realidade com vistas à transfiguração metafórica do
concreto real.
Neste sentido é que Homero e que
Dante, é que Camões ou Petrarca se propuseram ficar, metamorfoseando a
realidade que as circunstâncias históricas os induziram a experimentar. É nesse
universo misterioso, igualmente, que Artur Eduardo Benevides, mapeando os
espaços imaginários e a solidão coletiva do homem de hoje também se autoriza
inserir.
Sua construção literária parece
toda ela recortada por um sopro da mais sublime iluminação. Em livros como A Rosa do Tempo e A Rosa do Caos, principalmente, dividindo-se entre o intérmino partir
e o quase amanhecer, Artur Eduardo Benevides expõe a face mais decisivamente
madura da sua produção.
Em Os Deltas do Sonho (São Paulo, Editora Scipione, 1988), Artur
Eduardo Benevides convence-nos de que é um poeta que experimenta o seu voo
maior, num percurso que somente os mistérios da linguagem e as exigências
estéticas da sua intuição um dia saberão integralmente avaliar.
Eleva-se, pois, nesse novo
inventário de Artur Eduardo Benevides, a face criativa de um poeta comprometido
com as possibilidades do seu engajamento e com a consciência da sua dimensão de
produtor cultural. Imensa a sua grandeza de poeta universal e sincero e, por
isto mesmo, perdidamente humano e social.