Dimas Macedo
Tela de Vando Figueiredo
Sou amigo e admirador de Luiz Teixeira. Fui seu cliente na década de 1980, quando ele ainda assustava o Ceará com os passos pioneiros da Homeopatia. Acompanhei, com curiosidade, o surgimento e o impacto do seu livro – A Dialética da Doença –, acho que em 1983.
Sou amigo e admirador de Luiz Teixeira. Fui seu cliente na década de 1980, quando ele ainda assustava o Ceará com os passos pioneiros da Homeopatia. Acompanhei, com curiosidade, o surgimento e o impacto do seu livro – A Dialética da Doença –, acho que em 1983.
Reencontrei-me com ele, em circunstância diferente, no primeiro semestre
de 2002. Eu havia, então, rompido com a alopatia e com os seus métodos de cura
tradicionais e o Luiz já era, de longe, um dos novos pilares da psicoterapia
cearense.
Passamos,
então, a conversar, algumas vezes, sobre as nossas trajetórias e, certa feita,
perguntei ao Luiz se ele podia me aceitar na condição de cliente da sua nova
especialidade. Luiz me respondeu falando sobre os métodos nos quais acreditava
e eu argumentei, em defesa do seu ponto de vista, que a transcendência e a
farmacologia, quando conjugadas, podem oferecer à psicoterapia, à psiquiatria
ou à medicina curativa, excelentes respostas em qualquer dos seus campos de
observação ou de experiência.
Falei,
em seguida, da minha afeição pela psicanálise de formulação junguiana, e Luiz
Teixeira surpreendeu-me citando passagens de um dos meus textos de que mais me
orgulho – “Confissão de Fé e Transcendência”. Entramos em templos antigos e
modernos e repassamos oráculos e tradições religiosas: de Buda a São Francisco
de Assis, da constituição da loucura, no alto Medievo, até a abertura das
portas da percepção e das viagens lisérgicas que a arte moderna proporciona aos
seus consumidores.
Em
seguida, a paixão derivou para a arte literária mais pura, para o meu lugar de
crítico e de poeta e para a necessidade, por mim questionada, de que a sua
produção de poeta viesse a ser divulgada, ainda que de forma atenuada. Luiz
resistiu, dedicou-me os seus “Dois Poemas Quase
Espirituais Para o Poeta Dimas Macedo” e encurtou a conversa sobre a
legitimidade da sua criação.
Descobri,
com o tempo, que ele, Luiz, tinha introduzido o meu texto acima referido entre
as leituras preferenciais dos seus pacientes e que “Confissão de Fé e
Transcendência” era uma leitura de extensão nacional, no ambito da Vila Serena,
com o meu consentimento, é claro, mas com o meu orgulho e a gratidão de estar
servindo a uma causa na qual acreditava.
Insisti
na republicação do seu livro de ensaios – A
Dialética da Doença – e percebi que devia recorrer a um amigo comum para
retirar o poeta Luiz Teixeira da gaveta. O professor Henrique Beltrão, uma das
maiores sensibilidades de músico e de poeta que conheço, aceitou o desafio.
Beltrão amassou o pão que o diabo nunca quis amassar e arrancou do Luiz
o seu caderno de poemas intitulado – Bissextos
(Fortaleza: Edições Poetaria, 2007) –, que não é, propriamente, o seu livro de
estreia, mas que não deixa de ser o livro com o qual o poeta se autoriza
revelado.
O que fez com a sua poesia que ainda não
conseguimos acessar, é certo que não sei. Mas é certo também que não me esqueci
de lhe dizer que não deixasse nada para as traças e o cupim.
A literatura é possível que não sirva mesmo
para nada, como já afirmei em outra ocasião, pois trocar a vida por palavras é
um absurdo, para aqui me valer do pensamento de Kafka.
Publicar um livro é sempre um ato de insanidade que nunca podemos
prever. Quando não, será um desvio de rota do autor. No caso de Luiz Teixeira,
no entanto, acho que é um ato de extrema lucidez, pois a sua arte, quando muito
pouco, já constitui, em si mesma, uma bela aventura da razão.
No entanto, se parasse por aqui a apresentação, o leitor, com certeza,
iria talvez alegar que eu nada afirmei acerca da virtuose poética do autor, da
sua escansão poemática ou da legitimidade dos seus procedimentos semânticos. É
que os leitores acham que um prefaciador é alguém que se presta a fazer um
resumo das intenções do autor ou do proveito que a escritura pode causar
naqueles que dela se acercam.
Mas
não é isto o que penso e não é isto o que acontece na maioria dos casos. O
prefaciador ou é um conhecido do autor ou é alguém contratado por uma Editora
para fazer o elogio de um livro. No caso deste conjunto de Bissextos, acho que não sou uma coisa nem outra, pois prefiro
assumir neste texto a minha condição de Editor. Mas o organizador deste livro,
o poeta Henrique Beltrão, quis que o Luiz Teixeira soubesse o quanto eu o
admiro como poeta, e o quanto eu considero um crime ele manter os seus poemas
sob restrição.
O
resto é tarefa que cabe ao leitor. Um criador de textos literários, por menor
que seja o seu alcance, jamais se aventura a publicar um livro sem que não
espere a leitura que o recepcionará. Luiz Teixeira sabe disso. E eu acho que
ele quer saber agora se vale a pena remoer palavras e expressões e esticá-las
sobre tiras de papel, ou se vale a pena ser lido de verdade, superando assim a
sua condição de escritor bissexto.
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