quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Josué Guimarães - Amor de Perdição


                       Dimas Macedo

                                                                               Josué Guimarães

          Amor de Perdição (Porto Alegre: L&PM, 1986), de Josué Guimarães, conta-nos uma história de amor e guerra ambientada no Rio Grande do Sul, na primeira metade do século dezenove, entre o italiano Giuseppe Garibaldi e a sua namorada Manuela Gonçalves.

         Giuseppe, conhecido como Herói de Dois Mundos, foi, no seu tempo, considerado um anarquista, mas destacava-se como marinheiro e contador de histórias. Em 1836, quando da sua transferência para o Uruguai, Garibaldi era procurado em toda a Europa, pois tinha participado de um movimento que pretendia a unificação da Itália.

          Ao chegar ao Rio Grande do Sul, para comandar a Marinha da Revolução Farroupilha, Garibaldi se apaixonou pela jovem Manuela, sobrinha do então presidente Bento Gonçalves, que lhe devotava muita confiança e que aspirava, como a maioria dos gaúchos, a independência política do extremo-sul do Brasil.

          Contam os historiadores que Giuseppe Garibaldi, juntamente com Matru, seu irmão, dirigiu-se para a casa da bela Manuela, a fim de pedir a mesma em casamento. A família de Manuela, no entanto, resolveu consultar Bento Gonçalves, que afirmou ser Garibaldi um homem de muito valor, mas que se tratava de um aventureiro de futuro incerto. Ele temia, portando, que Manuela viesse a sofrer com a morte iminente do marido.

          Depois de saber que não mais se casaria com a sua amada Manuela, Garibaldi resolveu assumir totalmente à guerra; e Manuela dedicou-se somente à solidão. Não falava com ninguém, respondia às perguntas com monossílabos e quase não mais se alimentava.

          Ainda segundo Josué Guimarães, no enredo de Amor de Perdição, a musa de Giuseppe Garibaldi, após a morte da mãe, passou a residir em Pelotas, quando Manuela já não olhava mais para homem nenhum, tendo morrido, tresloucada e demente, sem saber se o seu amado ainda estava vivo.

          Giuseppe Garibaldi, como sabemos, depois veio a conhecer Anita, e poucos anos depois voltou para a Itália com ela, pensando que Manuela fizera opção por um novo casamento.

          Paulo Markun, no seu livro Anita Garibaldi – Uma Heroína Brasileira (São Paulo: Editora Senac, 2ª ed., 1999), quando se refere a passos de dança e políticas de enlevo, trocados entre Giuseppe Garibaldi e sua namorada Manuela Gonçalves, personagens centrais de Amor de Perdição, de Josué Guimarães, comete displicência inadmissível.

           Apesar de valer-se de uma das fontes mais autorizadas sobre a formação política e social gaúcha, no caso, o livro de Lindolfo Collor, Garibaldi e a Guerra dos Farrapos (Rio: Civilização Brasileira, 1977), registra Markun que “um romancista poderia reconstruir a cena toda, com Garibaldi e Manuela nos papéis principais, sob os olhares preocupados da mãe, de Bento Gonçalves e, quem sabe, com a discreta anuência de Dona Ana”.


          Se Markun não leu essa novela, perdidamente terna e deslumbrante, de Josué Guimarães, cabe ao leitor agora preencher o vazio, pois Amor de Perdição, com acerto, é uma obra que chama a atenção; e Paulo Markun, com certeza, um jornalista desatencioso.

                                                                                                                                                                       Amor de Perdição.
                                                                                                                                                            Porto Alegre: L&PM, 1986

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