Nilto Maciel
nasceu em Baturité (CE), aos 30 de janeiro de 1945. Bacharelou-se em Direito
pela Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará, porém nunca exerceu
a profissão, pois a Literatura, desde muito cedo, se manifestou em sua vida
como destino e vocação.
Em
1977, transferiu-se para Brasília, onde foi servidor do STF, da Câmara dos
Deputados e do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, regressando a Fortaleza
em 2002, após a sua aposentadoria, onde continuou a agitar a vida literária,
consolidando, ainda mais, o seu intercâmbio com a literatura brasileira, da
qual ele próprio, na sua época, foi um dos maiores expoentes.
Escritor de talento extraordinário,
especialmente, no domínio da curta ficção e da novela, elegeu o simbólico e o
onírico como matéria da sua visão de ficcionista, em cujos textos não faltam a
presença da loucura, do mistério e da ilusão do palimpsesto literário.
Avesso à vida acadêmica e às rodas
literárias burguesas, fez da literatura o seu campo de força e o ancoradouro da
sua solidão, tal como um existencialista condenado à miragem da sua finitude.
Lia, escrevia, mudava de endereço como quem
muda de roupa, amava as suas filhas, amava os seus amigos, quase todos da área
da literatura, para os quais destilava o seu humor e as suas ironias, mas
sempre permanecia fiel a si mesmo e à busca do seu exílio imaginário.
A morte o surpreendeu na solidão do seu
apartamento, em Fortaleza, onde foi encontrado sem vida, pelo seu amigo (e
depois biógrafo) Raymundo Neto, em 30 de abril de 2014, sendo esta a data
oficial do seu falecimento, presumivelmente, ocorrido entre 26 e 27 de abril de
2014.
Na
condição de escritor, estreou com o livro de contos Itinerário, em 1974. Dois anos depois, criou, com outros
escritores, a revista O Saco e o
Grupo Siriará de Literatura. Em Brasília e depois em Fortaleza, editou a
revista Literatura, de 1992 a 2008.
Igualmente em Brasília, criou a Editora
Códice e envolveu-se com as atividades da Associação Nacional de Escritores, em
cujo auditório, a seu convite, proferi palestra sobre Sérgio Campos, Uilcon
Pereira e Aracildo Marques, em homenagem feita pela ANE à memória desses
escritores, em 28 de abril de 2001.
Lembro-me desse momento com um
carinho muito especial, pois sempre que olhava para o auditório, eu
contracenava com escritores da maior expressão, entre os quais, destaco José
Helder de Souza e Anderson Braga Horta, este último, ainda hoje, meu mestre e meu
amigo, o que constitui uma honra para mim.
Nilto Maciel obteve
primeiro lugar em alguns concursos literários: Secretaria de Cultura do Ceará, em
1981, com Tempos de Mula Preta, e em
1986, com Punhalzinho Cravado de Ódio;
Prêmio Brasília de Literatura (1990) com A
Última Noite de Helena; Prêmio Graciliano Ramos (1992/1993) com Os Luzeiros do Mundo; Prêmio Cruz e
Sousa (1996) com A Rosa Gótica; Bolsa
Brasília de Produção Literária (1998) com Pescoço
de Girafa na Poeira; e Prêmio Eça de Queiros (1999) com Vasto Abismo.
Organizou, com
Glauco Mattoso, Queda de Braço – Uma
Antologia do Conto Marginal (Fortaleza/Rio: 1977). Participou de diversas
coletâneas, entre elas: Quartas Histórias
– Contos Baseados em Narrativas de Guimarães Rosa, org. Rinaldo de
Fernandes (Rio: Garamond, 2006); 15 Cuentos
Brasileros/15 Contos Brasileiros, edición bilingue
español-português, org. Nelson de Oliveira e tradução de Federico Lavezzo
(Córdoba, Argentina: 2007); e Capitu
Mandou Flores, org. Rinaldo de Fernandes (São Paulo: Geração Editorial,
2008).
Textos literários
de sua autoria foram publicados em esperanto, espanhol, italiano e francês. Seu
livro O Cabra que Virou Bode foi
transposto para o cinema por Clébio Ribeiro, em 1993.
É autor dos livros de contos: Itinerário
(Fortaleza: Edição do Autor, 1974); Tempos
de Mula Preta (Fortaleza: Secretaria da Cultura, 1981); Punhalzinho Cravado de Ódio (Fortaleza:
Secretaria da Cultura, 1986); As
Insolentes Patas do Cão (São Paulo: João Scortecci, 1991); Babel (Brasília: Códice, 1997); Pescoço de
Girafa na Poeira (Brasília: Secretaria de Cultura do Distrito
Federal, 1999); A Leste da Morte
(Porto Alegre: Bestiário, 2006; Contos
Reunidos: volume I (Porto Alegre: Bestiário, 2009; Contos Reunidos: volume II (Porto Alegre: Bestiário, 2010): e Luz Vermelha que se Azula (Fortaleza:
Expressão Gráfica, 2011).
No terreno da longa
ficção, publicou: A Guerra da Donzela
(Porto Alegre: Mercado Aberto, 1982); Estaca
Zero. (São Paulo: Edicon, 1987); Os
Guerreiros de Monte-Mor. (São Paulo: Contexto, 1988); O Cabra que Virou Bode (São Paulo: Atual, 1991); Os Varões de Palma (Brasília: Códice,
1994); A Rosa Gótica (Florianópolis:
Fundação Catarinense de Cultura, 1997); Vasto
Abismo (Brasília: Códice, 1998); A
Última Noite de Helena (Campinas: Komedi, 2003); Os Luzeiros do Mundo (Fortaleza: Códice, 2005); Carnavalha (Porto Alegre: Bestiário,
2007).
Nos campos da poesia, da crônica e
do ensaio, é autor de: Navegador
(Brasília: Códice, 1996); Panorama do
Conto Cearense (Fortaleza: Códice, 2005);
Contistas do Ceará: D’A Quinzena
ao Caos Portátil (Fortaleza: Imprece, 2008); Menos Vivi do que Fiei Palavras (Aparecida/SP: Penalux, 2012); Gregotins
de Desaprendiz (Porto Alegre: Bestiário, 2013); Como me Tornei Imortal (Fortaleza: Armazém da Cultura, 2013); Quintal dos Dias (Porto Alegre:
Bestiário, 2013); Sôbolas Manhãs
(Porto Alegre: Bestiário, 2014).
A obra de Nilto Maciel, eu a considero
uma das mais expressivas da nova literatura brasileira. Como seu amigo, e na
condição de leitor e de crítico, eu sempre li os seus livros com o maior
interesse e acerca de três desses livros eu escrevi resenhas ou impressões de
leitura.
João Carlos Taveira, um dos seus
grandes admiradores, organizou um livro exemplar sobre a sua obra, A Arquitetura Verbal de Nilto Maciel
(Fortaleza: Editora Imprece, 2012), e, em 2017, o romancista Raymundo Neto
publicou a sua biografia, no âmbito da coleção Terra Bárbara, da Fundação
Demócrito Rocha, de Fortaleza, com o título Nilto
Maciel.
Mas tudo isso ainda me parece pouco
em face da universalidade da sua escritura, do valor intrínseco e
do universo semântico, estético e polifônico da sua visão de escritor e de
arquiteto do texto literário de alta qualidade.
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