Tela de Ana Costalima
FORMAS
A lua e as estrelas
o sol e os alabastros,
as cicatrizes de Deus
e as mulheres nuas
são formas puras de amor
que reconheço,
são como cactos
que me ferem os olhos
na distância,
tais os mistérios densos,
as perdas preciosas,
a dor de não viver a vida
presa na garganta.
MISTÉRIO
o sol e os alabastros,
as cicatrizes de Deus
e as mulheres nuas
são formas puras de amor
que reconheço,
são como cactos
que me ferem os olhos
na distância,
tais os mistérios densos,
as perdas preciosas,
a dor de não viver a vida
presa na garganta.
MISTÉRIO
Não sei por que destino vago
ou se vegeto.
Minha vida é qual um livro aberto
que atravesso a nado.
Minha solidão tem bases de concreto
e as minhas ânsias claras intenções.
Com as lições da dor eu teço
uma canção ao vento
e reinvento a vida.
A morte é um vendaval e em tudo
o cosmos é uma interrogação.
Meu corpo a fuga. Meu prazer o medo.
E a minha dúvida uma alucinação.
Se vago ou se vegeto, escrevo:
Minha vida é qual um livro aberto.
ou se vegeto.
Minha vida é qual um livro aberto
que atravesso a nado.
Minha solidão tem bases de concreto
e as minhas ânsias claras intenções.
Com as lições da dor eu teço
uma canção ao vento
e reinvento a vida.
A morte é um vendaval e em tudo
o cosmos é uma interrogação.
Meu corpo a fuga. Meu prazer o medo.
E a minha dúvida uma alucinação.
Se vago ou se vegeto, escrevo:
Minha vida é qual um livro aberto.
ENIGMA
O tempo-enigma
é o que enclausurou-se
no fundo da memória
e no sol está gravado.
O tempo-eternidade
é o que fincou-se
no arco dos meus olhos
um pouco fatigados.
Não posso ver o tempo
pois tempo é inespaço
e o espaço que sinto
é sempre o tempo.
Espaço intemporal
tempo inespaço
estão plantados
entre os elementos:
O tempo é fogo.
O espaço é o oceano.
O tempo-espaço
é calmaria e vento.
CIRANDA
A luta pela vida
me deu uma úlcera
na garganta
E já não me espanta
que a minha aorta
esteja obstruída.
Sou um pastor de sonhos
e isso me diz tudo:
o lodo, o sangue, a pátina,
a euforia do jogo e da ciranda.
Quem me comanda é a morte,
tais esses cortes fatais
em minha vida:
essas feridas sangrando no esôfago,
esse composto plural em minha cama,
esses cardumes de linho em minha boca.
O tempo-enigma
é o que enclausurou-se
no fundo da memória
e no sol está gravado.
O tempo-eternidade
é o que fincou-se
no arco dos meus olhos
um pouco fatigados.
Não posso ver o tempo
pois tempo é inespaço
e o espaço que sinto
é sempre o tempo.
Espaço intemporal
tempo inespaço
estão plantados
entre os elementos:
O tempo é fogo.
O espaço é o oceano.
O tempo-espaço
é calmaria e vento.
CIRANDA
A luta pela vida
me deu uma úlcera
na garganta
E já não me espanta
que a minha aorta
esteja obstruída.
Sou um pastor de sonhos
e isso me diz tudo:
o lodo, o sangue, a pátina,
a euforia do jogo e da ciranda.
Quem me comanda é a morte,
tais esses cortes fatais
em minha vida:
essas feridas sangrando no esôfago,
esse composto plural em minha cama,
esses cardumes de linho em minha boca.
ESCUDO
Deus mudou de residência
quando eu o procurei no meu corpo.
Eu o quis novamente no cérebro
e ele já se havia plantado na alma.
Ele tinha sossegado o meu busto.
Ele fazia escrituras nos dedos
e acariciava os meus olhos
que viviam completamente tontos de enganos.
As minhas miragens morriam
quando ele chegou muito perto e me disse:
a luz é a que fica gravada na memória,
e o sol é o que nasce brilhando a cada dia,
pois a tua honra e a tua lâmina,
pois a tua glória e o teu escudo
são essas rugas de paz
e essas dálias brancas
e essas tardes mágicas
e essas plantas nobres
que se deixam cair na correnteza.
E Deus já se havia chegado
por entre os fios do sonho
e se havia anunciado leve
como as espumas e os cristais de rocha,
mas ainda não se havia desnudo,
porque as marcas ficam na alma,
porque o vórtice e as vértebras
às vezes me levam para a morte.
Mas a luz de Deus chegou
para ficar dançando no silêncio
e o silêncio
para ficar gravado nas palavras
e as palavras para serem
faladas para o próximo,
porque no próximo o instante,
porque no próximo o quadrante
e as sarças de fogo da espera.
O amor não se compraz no pranto.
A alma é como a música do bosque.
Porque maduro e belo é o encanto
dos que se vão serenos pela vida.
E Deus mudou de residência na mente.
E ficou comigo na frente do espelho.
Deus e suas vestes toscas de cambraia.
A carregar nos braços minha sombra
e a carregar a nuvem dos meus passos.
A me vestir de linho na varanda.
A me jogar confete no espírito.
A me fazer escravo do seu jogo.
A me dizer que o mundo é uma festa
quando se tem a paz e a dor é branda.
Quando se vive sozinho no deserto
buscando o amor / sentindo a esperança.
Dimas Macedo (Lavras da Mangabeira, Ceará, Brasil, 14 de setembro de 1956) é um poeta, crítico literário e jurista brasileiro.É professor do Faculdade de Direito de Universidade Federal do Ceará, onde obteve o título de mestre, sob a orientação do professor Paulo Bonavides.
É membro da Academia Cearense de Letras. Integra
o Conselho Editorial de vários jornais e revistas culturais: revistas: Espiral e Literapia (Fortaleza), revista
Literatura (Brasília) e revista Morcego Cego (Santa Catarina), entre outros.
Compõe também o Conselho Editorial das Edições UFC, o conselho de publicações
da Editora Códice, o Conselho Editorial das Edições Livro-Técnico e o Conselho Editorial
do Museu – Arquivo da Poesia Manuscrita.
Nos idos
de 1990/1991, participou do Movimento Poesia Plural e, em maio de 1995, com
Inez Figueiredo, João Dummar, Beatriz Alcântara, Juarez Leitão e outros
escritores cearenses, criou o Grupo Espiral de Literatura, fundando,
posteriormente, com José Telles, as Edições Sobrames (2001) e, com Pedro Henrique
Saraiva Leão (1998), a revista Literapia
e as Edições Poetaria.
Poemas e textos literários de sua
autoria foram vertidos para o francês, o inglês e o espanhol e publicados em
Portugal, Espanha, Inglaterra, Argentina e Estados Unidos. É autor também de
trabalhos estampados em jornais e revistas do Ceará e do Brasil.
Fonte: Wikipédia
"Minha solidão tem bases de concreto
ResponderExcluire as minhas ânsias claras intenções."
Quão bom é ler um poema e sentir que é ele quem me ler. A poesia é mais que um texto, é mais que união de palavras, mais que arte. A poesia é alma. E como tal, reconhece a alma de quem a lê e à trás para mais perto da alma de quem a fez,
Fernanda França, grato.
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