Dimas Macedo
Entre os fundadores da teoria social do Brasil,
no século XX, destacamos o nome de Joaquim Pimenta. Sociólogo, jurista,
pensador da cultura e memorialista, Pimenta foi um dos raros intelectuais,
entre nós, que fez da sua práxis política, um exemplo de vida e um testemunho
de ação a serviço do bem.
Nascido no Município de Tauá (CE),
aos 13 de janeiro de 1886, e órfão de mãe aos nove anos de idade, Pimenta fez
da sua inquietude um projeto de atuação social e intelectual que sempre deixou
em polvorosa o poder institucional e político de vários governantes da
Federação.
Vítima da oligarquia acciolina no
Ceará, quando ainda estudante de Direito, em Pernambuco enfrentou reveses ainda
mais ferrenhos e desafiadores. Se em Fortaleza fundou jornais e revistas e
liderou a juventude universitária do seu tempo, no Recife, sua atuação se fez
no campo da resistência política à opressão.
Em 1910, conclui o Curso de Ciências
Jurídicas e Sociais e foi nomeado Promotor Público do Recife, mas em seguida
renunciou ao cargo para lutar contra a tirania política do governador Rosa e
Silva. Ferido de morte por bala de revólver, disparada por pistoleiro de
aluguel, deixa a liderança da revolução social que pretendia implantar em
Pernambuco e seguiu para o Rio de Janeiro, como forma de preservar a sua vida
então ameaçada.
Ainda no Recife, protagoniza uma das
disputas mais célebres em torno de um concurso público no Brasil: aquela
travada com Assis Chateaubriand, em torno da cadeira de Direito Romano e do
título de professor Livre Docente da Faculdade de Direito do Recife. Não ganhou
a Cadeira, mas nada impediu que ele se tornasse depois professor substituto da
mesma Faculdade, regendo as disciplinas Economia Política e Direito
Administrativo.
No Rio, tornou-se jornalista
profissional e fez-se professor catedrático da Universidade do Brasil. Mas, se
do Recife foi defenestrado a bala e impedido de exercer o mandato parlamentar
de deputado, no Rio encontrou o caldo de cultura para implementar a sua
atuação.
Joaquim Pimenta foi um dos ideólogos
da Aliança Nacional Libertadora no Nordeste, em 1930, e, naquele mesmo ano, foi
nomeado consultor jurídico do Ministro do Trabalho, juntamente com Evaristo de
Moraes.
Procurador do Trabalho, no Rio, optou,
desde 1937, pelo cargo de professor de Direito Industrial e Legislação do
Trabalho. E faz-se então e pelo resto da vida o teórico consumado e o ideólogo
fervoroso da Sociologia do Trabalho e do Direito Trabalhista, sem nunca perder
o gosto pela militância política.
O escritor de texto social poderoso,
o filósofo da ideologia trabalhista, o jornalista da veemência analítica e da
reportagem com poder de dinamite e destruição é, no entanto, aquilo que vai
definir a sua estatura no campo da reflexão e da enciclopédia que a sua
produção representa.
Entre os seus livros, cabe enumerar
os seguintes: Ensaios de Sociologia e Direito (1915), Sociologia e Direito (1928), Golpes de
Vista (1930), A Questão Social e o Catholicismo (1936), Cultura
de Fichário (1940), Sociologia
Jurídica do Trabalho (1948), Retalhos do Passado (1949), Enciclopédia
de Cultura (1955), Sociologia Econômica e Jurídica do Trabalho
(1957), O Homem de um Olho Só (1962) e Ensaios Sobre Ivan Lins, Djacir Menezes e Alcântara Nogueira
(s.d.).
Dos livros acima, um deles constitui
um monumento da cultura brasileira. Trata-se da Enciclopédia de Cultura
(1955), o qual foi republicado, em dois volumes, em 1962, pela Livraria Freitas
Bastos do Rio de Janeiro.
Esse trabalho de Joaquim Pimenta
compreende, talvez, o maior esforço de um intelectual brasileiro para fixar em
livro um testemunho plural e instigante de um tempo histórico e sua
significação social e cultural, de forma abrangente e totalizadora.
Sendo Joaquim Pimenta um monumento
da Sociologia Jurídica no Brasil, lógico seria esperar que alguém se
interessasse por escrever a sua biografia. E é justamente isso o que fez um
conterrâneo e discípulo vigoroso de Joaquim Pimenta, o advogado, escritor e
professor universitário Edmilson Barbosa, traçando o seu perfil cultural em Joaquim
Pimenta (Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2004).
O livro de Edmilson Barbosa tem uma
virtude que o destaca dos demais: nele, o retrato político do homenageado se
sobrepõe ao traço biográfico de cunho pessoal. É uma biografia de ideias, como
de ideias e ações culturais proveitosas é o perfil acadêmico do autor: um dos
intelectuais mais talentosos da sua geração e um dos nomes de ponta que o
município de Tauá legou à cultura jurídica do Brasil.
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