quinta-feira, 10 de outubro de 2013

O Romance de Letícia Carialba


              Dimas Macedo
 
            José Gomes Magalhães é um dos melhores seres humanos que conheço. Tenho por ele uma admiração e um afeto que me fazem pensar no cultivo do amor filial, e na amizade que se constrói com os laços do tempo. Nele, a simplicidade de logo se revela, e o traço da sua humanidade é aquilo que primeiro transborda e que nos contagia.

            Dedicou o Professor Magalhães toda sua vida ao ensino da língua e da literatura, no Brasil e no exterior, fazendo-se Mestre, no Ceará, no domínio da cultura germânica; sendo também assessor dos mais qualificados da UFC, em assuntos internacionais. 

           Ensinou a muitos, no Ceará, a escrever de forma mais correta, como revisor e conselheiro no campo da política de textos, mas a poucos relevou a sua identidade de esteta, isto é, a sua condição de novelista e poeta primoroso que se impõe pela concisão e pelo domínio seguro da escrita.  

           Riacho & Cidades (Fortaleza, Expressão Gráfica, 2011) é o livro da sua diversidade criativa; e este outro livro, a novela por ele intitulada – Letícia Carialba –, é o inventário máximo da sua construção semântica e da sua pluralidade de formas. 

           Penso que essa longa ficção de José Gomes Magalhães foi construída a partir da sua trajetória no cenário internacional – residente que foi o autor deste livro em cidades como Bochum e Viena –, onde o ministério da vida se harmoniza com a leveza do corpo, e com os laços da aproximação.

           Letícia Carialba, a personagem central do enredo, é possível que seja a expressão simbólica do desejo e da reparação, tendo a estética da recepção como pano de fundo. É ela que perfaz a aventura do espírito e o apuro do texto, a partir de todas as suas dimensões. 

             A estética das formas, em Letícia Carialba, está situada no campo da memória, onde o Riacho dos Monges e São José dos Ausentes entram em contraste com cidades como Amsterdam e Colônia, onde a mística do desejo e a suntuosidade dos templos se conjugam com a busca da identidade perdida.

             Letícia Carialba (Fortaleza, Expressão Gráfica, 2013), ainda que se trate da estreia do autor, no plano da longa ficção, constitui, por igual, o livro da sua maturidade de esteta, pois se expressa qual um projeto de enredo construído com as cores da criatividade.

             Honrou-me José Gomes Magalhães oferecendo-me o lugar de escritor das orelhas desse livro, mas o que ele fez, em essência, foi privilegiar os leitores com a sua invenção de novelista, dos maiores, talvez, que se tem revelado no Brasil na atualidade.

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