sábado, 1 de dezembro de 2018

Dimas Macedo, Poeta Itinerante


Wilson Pereira*



            O poeta cearense Dimas Macedo, com uma dezena de livros de poemas publicados, goza de prestígio literário, com considerável fortuna crítica. Seu último livro, cujo título, {Codicírio} (Fortaleza: Edições Poetaria, 2018), constitui-se de neologismo criado pelo autor, resultante da aglutinação de Códice com Círio, segue a mesma linha temática e o mesmo modelo estrutural do livro anterior {Guadalupe}. O primeiro foi editado em 2018, e este último, em 2012.

           Em ambos os livros há um bom número de poemas dedicados à contemplação e à exaltação de cidades que ele visitou mundo afora, a maioria em países europeus.  E os poemas são, em geral, peças curtas, pautando-se por um lirismo contido e por uma linguagem simples e translúcida, mas sugestiva e consistemente poética. Ambos os livros são divididos em 3 partes.

        Em {Guadalupe}, a primeira parte traz diversos textos que, a grosso modo, poderiam ser vistos como uma espécie de impressões de viagem. Entre as cidades homenageadas pelo poeta, estão: Amsterdam, Atlanta, Bogotá, Bruxelas, Londres e Montevidéu, que empresta o nome ao título do livro. E, também, as brasileiras Brasília e Belém.

            Em {Codicírio}, também na primeira parte, encontram-se os poemas louvando Havre, Zurich, Dublin, Berlin, Varsóvia. E, ainda, na última parte, aparecem os poemas "Europa", “Florença", "Toscana" e "Veneza".

            É louvável a iniciativa e a realização poética de Dimas Macedo, ao insculpir em seus versos os encantos vistos e vivenciados nas tantas viagens. Em muitos casos, os poemas são verdadeiras declarações de amor. Tanto é que o autor, não raro, cria metáforas de sugestão sensual para evocar a cidade à qual se dirige como se abordasse a mulher amada. É o caso, por exemplo, de "Berlin" (p. 18, de {Codicírio}):

         "Berlincidade,
           alquimia da minha liberdade,
           porque no traço do teu corpo,
                                             o meu verso,    
            porque no sal da tua língua,
                                            o meu braço,
            e o teu abraço me consumindo em chamas.
            Porque me chamas, cidade,
            com a tua identidade no cio? "
                         
         Além desse viés de cidadão do mundo, de viajante privilegiado e perspicaz, de escriba itinerante, o poeta não perde de vista suas origens nordestinas, enfocando e valorizando a cultura, a natureza e a gente de sua região. Assim é que, no poema "Humildade" (de {Codicírio}, p. 33), ele declara:

         "Viver a arte da vida, viver de cicatrizes, / buscar as nossas origens/ e deixar de ter vontade:/ eis toda a liberdade do corpo, / eis toda a transcendência da alma".

            Dimas Macedo transita também por diversos outros temas, com destaque para o lirismo amoroso, presente em vários poemas, alguns com traços de um erotismo moderado, mas insinuante, como se nota nos poemas "Pronúncia" (p. 35), "Resina" (p. 37) e "Retrato" (p. 38), esses do livro {Guadalupe}. De {Codicírio}, ocorre-me citar os poemas: "Libido" (p. 38) e "Seios" (p. 61), este mais ousado e explícito, do qual transcrevo os versos finais:

      "Já tão acesos esses seios, / já tão maduros seus bicos. // Esses crucifixos de carne, / essa vontade imensa/ de mordê-los".

        Outra incursão temática do poeta, que merece ser notada e anotada, pela primorosa realização poética, é a de veio social e político. São páginas que expressam um contundente protesto contra a opressão, a injustiça e a exploração que se cometem, com frequência, contra os "despossuídos e espoliados" (palavras do autor) em nosso país.  Nesse sentido, recomendo, do livro {Guadalupe}, os poemas: "Aurora" (p. 50), "Utopia" (p. 51), "Latifúndio" (p. 52), "Jangurussu" (p. 54) e, especialmente, "Oblação", espécie de réquiem para Frei Tito, o revolucionário frade cearense perseguido e morto no período da ditadura militar brasileira.

        Dimas Macedo vem, portanto, consolidando, com empenho e arte, uma obra de valor literário de alcance nacional e conquistando, a cada livro editado, o reconhecimento e a admiração de leitores e especialistas da literatura.
 
*Wilson Pereira é poeta, contista, cronista, ensaísta e autor de livros Infanto-juvenis, com 17 livros publicados.

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