Wilson Pereira*
O poeta
cearense Dimas Macedo, com uma dezena de livros de poemas publicados, goza de
prestígio literário, com considerável fortuna crítica. Seu último livro, cujo
título, {Codicírio} (Fortaleza:
Edições Poetaria, 2018), constitui-se de neologismo criado pelo
autor, resultante da aglutinação de Códice com Círio, segue a mesma linha
temática e o mesmo modelo estrutural do livro anterior {Guadalupe}. O
primeiro foi editado em 2018, e este último, em 2012.
Em ambos os
livros há um bom número de poemas dedicados à contemplação e à exaltação de
cidades que ele visitou mundo afora, a maioria em países europeus. E os poemas são, em geral, peças curtas,
pautando-se por um lirismo contido e por uma linguagem simples e translúcida,
mas sugestiva e consistemente poética. Ambos os livros são divididos em 3
partes.
Em {Guadalupe}, a primeira parte traz diversos textos que, a
grosso modo, poderiam ser vistos como uma espécie de impressões de viagem.
Entre as cidades homenageadas pelo poeta, estão: Amsterdam, Atlanta, Bogotá,
Bruxelas, Londres e Montevidéu, que empresta o nome ao título do livro. E,
também, as brasileiras Brasília e Belém.
Em {Codicírio},
também na primeira parte, encontram-se os poemas louvando Havre, Zurich,
Dublin, Berlin, Varsóvia. E, ainda, na última parte, aparecem os poemas
"Europa", “Florença", "Toscana" e "Veneza".
É louvável a
iniciativa e a realização poética de Dimas Macedo, ao insculpir em seus versos
os encantos vistos e vivenciados nas tantas viagens. Em muitos casos, os poemas
são verdadeiras declarações de amor. Tanto é que o autor, não raro, cria
metáforas de sugestão sensual para evocar a cidade à qual se dirige como se
abordasse a mulher amada. É o caso, por exemplo, de "Berlin" (p. 18,
de {Codicírio}):
"Berlincidade,
alquimia da minha liberdade,
porque no traço do teu corpo,
o
meu verso,
porque no sal da tua língua,
o
meu braço,
e o teu abraço me consumindo em
chamas.
Porque me chamas, cidade,
com a tua identidade no cio? "
Além desse viés de cidadão do mundo, de viajante
privilegiado e perspicaz, de escriba itinerante, o poeta não
perde de vista suas origens nordestinas, enfocando e valorizando a cultura, a
natureza e a gente de sua região. Assim é que, no poema "Humildade"
(de {Codicírio}, p. 33), ele declara:
"Viver a arte da vida, viver de
cicatrizes, / buscar as nossas origens/ e deixar de ter vontade:/ eis toda a
liberdade do corpo, / eis toda a transcendência da alma".
Dimas Macedo transita também por diversos
outros temas, com destaque para o lirismo amoroso, presente em vários poemas,
alguns com traços de um erotismo moderado, mas insinuante, como se nota nos
poemas "Pronúncia" (p. 35), "Resina" (p. 37) e "Retrato"
(p. 38), esses do livro {Guadalupe}. De {Codicírio}, ocorre-me
citar os poemas: "Libido" (p. 38) e "Seios" (p. 61), este
mais ousado e explícito, do qual transcrevo os versos finais:
"Já tão acesos esses seios, / já tão
maduros seus bicos. // Esses crucifixos de carne, / essa vontade imensa/ de
mordê-los".
Outra incursão temática do poeta, que merece
ser notada e anotada, pela primorosa realização poética, é a de veio social e
político. São páginas que expressam um contundente protesto contra a opressão,
a injustiça e a exploração que se cometem, com frequência, contra os
"despossuídos e espoliados" (palavras do autor) em nosso país. Nesse sentido, recomendo, do livro {Guadalupe},
os poemas: "Aurora" (p. 50), "Utopia" (p. 51),
"Latifúndio" (p. 52), "Jangurussu" (p. 54) e,
especialmente, "Oblação", espécie de réquiem para Frei Tito, o
revolucionário frade cearense perseguido e morto no período da ditadura militar
brasileira.
Dimas Macedo vem, portanto, consolidando, com
empenho e arte, uma obra de valor literário de alcance nacional e conquistando,
a cada livro editado, o reconhecimento e a admiração de leitores e
especialistas da literatura.
*Wilson Pereira é poeta, contista, cronista, ensaísta e autor de
livros Infanto-juvenis, com 17 livros publicados.
Nenhum comentário:
Postar um comentário