Apesar de falarmos em uma tradição moderna,
sabemos que a modernidade compreende um estilo de vida que exige a presença do
novo, isto é, a presença daquilo que se abre para a criação. A vida depende dos
sentidos da imaginação e a arte é uma das formas de expressão desse movimento.
A arte não se representa por si
mesma. Ela depende da sua recepção e da sua interação com a sociedade. Desde
Platão e da alegoria do mito da caverna, a arte passou a assumir a linguagem do
desejo e a sua representação no espaço da vida social.
A retomada da Arte na época do
Renascimento somente se tornou possível tendo em vista a existência de dois
elementos que a fizeram contemporânea da sua tradição: a presença decisiva do
Mecenas e a emergência do Mercado como polos aglutinadores da sua expansão
comercial e da sua produção artesanal em escala cada vez mais acelerada.
O desenvolvimento de uma
sociedade, a partir da chegada da Idade Moderna, passou a ser medido não apenas
pela sua equação econômica, política e social, mas também e fundamentalmente a
partir da sua produção cultural, desdobrada desde as fontes antigas do
conhecimento até a produção de natureza artística, que passou, então, a definir
o sentido do novo.
Na sociedade cearense, esse
percurso não se fez de forma diferente. O aceleramento do nosso processo
industrial, a partir da modernização do seu planejamento, aparece conjugado com
a nossa modernidade artística, de princípio no plano literário e, a seguir, na
produção dos nossos artistas plásticos de maior relevo.
A partir de meados da década de
1950, as artes plásticas do Ceará começaram a encontrar o seu ponto de
inflexão, mas é com a sua acolhida, nas décadas seguintes, pelos seus promoters e marchants que elas se depararam inseridas no nosso sistema social.
Poucos apreciadores das Artes
Plásticas, no Ceará, se preocuparam, de fato, com o destino social desse
movimento, ou se mostraram dispostos a assumir uma atitude de vanguarda com
relação à sua presença nos nichos de consumo da sua produção.
Ignez Fiúza, considerada a Musa
das Artes Plásticas do Ceará, é a liderança empresarial que se destaca entre
nós nessa atitude de vanguarda, assumindo, com a sua técnica e com o seu bom
gosto, a promoção e a divulgação mercadológica dos nossos artistas plásticos de
maior talento.
Mas a sua atuação, nessa área, não
se resume apenas à promoção das artes produzidas no Ceará: o alcance da sua
visão trouxe também para a apreciação e o consumo dos cearenses as novas
tendências das artes plásticas do Brasil, possibilitando que o Ceará pudesse
conhecer novos estilos artísticos e novas formas de pesquisa que nos levasse,
ainda mais, a mergulhar nos sentidos do novo, absorvendo as suas contradições e
os seus maravilhosos jogos de luz e de tintas.
A Galeria de Artes que Ignez
Fiúza manteve em Fortaleza, durante várias décadas, em espaços nobres da
cidade; o bristô e as elegantes casas de pastos que abriu, sempre finamente
decoradas e no mais transformadas em galerias de beleza constituem um traço da
sua personalidade fascinante.
Ignez
Fiúza sempre se destacou no Ceará como mulher de visão, como marchant de gosto artístico refinado, como
Mecenas dos talentos artísticos mais jovens. Mas nos espaços que criou e
manteve ela não dialogou apenas com as artes plásticas, pois fez-se também
propagadora dos nossos valores literários e dos nossos movimentos de vanguarda,
no plano da produção artística.
Na
sua conhecida Galeria, promoveu exposições de artistas plásticos de renome,
tais como Floriano Teixeira e Aldemir Martins, mas ali também acolheu os
escritores cearenses desde o Grupo Clã até o Movimento conhecido por Poesia
Plural, no início da década de 1990.
Em 2014, Ignez Fiúza chega ao
apogeu da sua juventude, esbanjando vida e esperança, e a todos acolhendo com
os fervores do seu coração. O êxito da sua trajetória, a sua conhecida elegância
e o seu jeito agradável de conviver com os nossos artistas fazem de Ignez Fiúza
uma das figuras de maior destaque da vida cultural do Ceará.
A importância da sua atuação transborda às
páginas da sua Fotobiografia (Fortaleza,
Editora Traço, 2014), organizada por Elizabeth Fiúza e Janina Sanches, que
reúne um conjunto de imagens e de objetos culturais acerca da sua trajetória,
na qual se espelham a nossa tradição e os valores agregados por Ignez Fiúza ao
campo da nossa produção artística.
A honra que me foi conferida
pelas organizadoras desse livro de escrever a apresentação do projeto e de
louvar a grandeza de Ignez Fiúza é das maiores que eu poderia receber. E não
existem letras, no meu vocabulário, para dizer do agradecimento que tenho que
fazer.
Não sou apenas admirador de Ignez
Fiúza. Tenho o privilégio de ser seu amigo, e tenho recebido dela as suas
melhores atenções. Apesar de achar que outro poderia ter sido o escolhido para
escrever o prefácio desse livro, sou grato às autoras pela atenção, esperando
que o meu discurso tenha dito o mínimo daquilo que eu gostaria de dizer.
Fortaleza, janeiro de 2014
Amigo Dimas Macedo, somente você poderia dizer, com tanta elegância, os atributos desta bela jovem nonagenária. ambos merecem aplausos.
ResponderExcluirLucineide Souto, grande abraço.
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