Lavras
da Mangabeira é o lugar para onde volto no mapa do afeto. É certo que perdeu,
de último, os fulgores da sua tradição. Mas é para essa mágica cidade cearense
que sempre projeto a minha emoção de escritor.
Divide-se o município de Lavras em seis
pequenos distritos, a saber: o da sua sede política, de bela arquitetura
urbana, e aqueles que se denominam: Iborepi, Arrojado, Amaniutuba, Mangabeira e
Quitaiús, outrora chamado também de São Francisco.
Rosa Firmo Bezerra, uma das escritoras
lavrenses de maior talento, é natural de Quitaiús, o distrito por igual do meu
afeto e da minha primeira devoção, ribeirinho que sou do Riacho do Rosário, com
o máximo orgulho de ser um Lobo de Macedo do sítio Calabaço.
Joaryvar Macedo, meu tio paterno, estudou
como poucos as origens históricas daquele município e nos deu as linhas de
pesquisa da sua inculcada genealogia. Rejane Augusto é a continuadora da sua
tradição.
Mas o que vejo e percebo, de primeiro, é que é
vasto, muito vasto o município de Lavras. E que Quitaiús tem uma raiz social
diferente, uma comunidade fraterna e solidária e um jeito de pensar as coisas
do saber que nos escapam à observação.
E é
por isto que precisamos de alguém para explicar a sua trajetória e nos dizer o
tecido da sua evolução, com o domínio completo da palavra dos que nascem totais
para escrever.
Quitaiús é uma terra visivelmente protegida
por Deus. Nação de mulheres vigorosas. Pátria de famílias ordeiras e ilustres.
E de seres humanos que encarnam as melhores virtudes sociais.
Os
estigmas da fé em São Francisco e em Nossa Senhora do Rosário parecem que são
fortes entre os que ali mourejam, de sorte que Quitaiús tornou-se, com o tempo,
o lugar das vocações sacerdotais do município, mercê, talvez, da influência do
Padre Cícero Romão de Juazeiro sobre o destino da comunidade.
Impressiona-me que Quitaiús tenha dado onze
sacerdotes à constituição do clero cearense, contando-se entre eles duas
importantes figuras da Igreja Católica do Brasil: monsenhores José Edmilson de
Macedo e Alonso Benício Leite. E que dali sejam naturais o padre Manoel Machado
e o não menos renomado, Claírton Alexandrino de Oliveira, vigário-geral da
arquidiocese, reitor da Igreja do Rosário e orgulho máximo da colônia lavrense
em Fortaleza.
Rosa Firmo Bezerra é filha de Mãe Nina
e de Ioiô. É pedagoga de talento, poetisa, ensaísta, historiadora, líder
carismática de grande vocação comunitária e escritora de densa produção, pois
que sabe penetrar no sistema literário, com firmeza, persistência, sutileza e
determinação diuturnas.
Pertence à Sociedade dos Poetas
Vivos e Afins, de Natal, e à Academia Lavrense de Letras, onde ocupa a Cadeira
38, que tem como patrono Chiquinho Bezerra Sampaio, um dos maiores poetas de
sua região.
É autora de Nobreza de Uma
Mulher Sertaneja (2003), Cidades Históricas de Minas Gerais (2003), Prisioneira
do Sol no Ocaso (2005), Chuvas de Verão (2005), Ponderações na
Perspectiva de Luz (2006), Os Cantos do Luar (2008) e O Rosário
de Quitaiús (Fortaleza, RDS
Editora, 2010).
Nesse seu último livro estuda Rosa
Firmo Bezerra as origens, a afirmação comunitária, a evolução histórica e a
formação urbana, social, cultural e política do distrito de Quitaiús, com
absoluto domínio do seu objeto de pesquisa.
Não se trata de compêndio da
história oficial de Quitaiús, tão-somente, mas de livro que se faz, de
primeiro, uma fusão de duas categorias de pesquisa: uma que se fia na tradição
e na memória de um povo; e outra que se faz no ensejo da verificação apodítica,
repassada ao manejo de documentos e registros.
E não
iria longe se dissesse que esse seu rosário de palavras tem, por igual, um
cheiro de romance e rapsódia. E que foi escrito com as luzes da paixão e da
ternura, e com a mansidão que dedicamos aos grandes projetos do espírito.
Rosa Firmo
sabe o que é empreender a escritura, namorar com o texto e escrever com
determinação. Sabe o que é dizer a memória e o que é acender a paixão de criar,
a partir de um ponto de observação.
Quitaiús: um ponto na geografia do extenso
mapa cearense e um estilo de vida que se pereniza pelo gosto da sua linguagem
saborosa; e um tropo, portanto, que se valoriza pela geração do tecido literário
que o divulgará e o tornará um signo do prazer.
A exercício de monta se impôs Rosa Firmo
neste livro, um rosário de casos e de gens,
um relato de memórias e dizeres a se perder de conta; e uma pesquisa da qual me
orgulho de ter sido o orientador. Não que Rosa precise de orientação, mas
porque Rosa é um rosário de sentimentos e de alteridades e sabe viver de
gratidão.
O livro
cobre um período de quatrocentos anos de história, aproximadamente, pois a
pesquisa recua às primeiras datas de sesmarias na região do Riacho do Rosário,
onde fica encravado Quitaiús. Rosa examina, em seguida, os fautores da
colonização daquela sorte de terras, o surgimento das primeiras famílias, as
origens do topônimo e as lendas que cercam a criação da comunidade,
mostrando-nos a saga e o heroísmo do Clã dos Clementes e o papel ali desempenhado
por Cazuza Clemente (1834-1918), um dos grandes civilizadores do Riacho do
Rosário.
Os
aspectos fisiográficos e a evolução sóciopolítica do distrito são também
albergados em O Rosário de Quitaiús, mas são os aspectos culturais e a
formação da religiosidade popular naquela localidade o que nos chama de perto a
atenção. Quitaiús, não podemos esquecer, foi um dos núcleos de irradiação, no
Ceará, das Comunidades Eclesiais de Base, mercê da liderança e do carisma do
Padre Manoel Machado, um dos sacerdotes, por sinal, nascido naquele glorioso
distrito de Lavras da Mangabeira.
A
participação de Quitaiús na Prefeitura e na Câmara Municipal de Lavras da
Mangabeira é também examinada por Rosa. E bem assim a composição das diversas
famílias do distrito e as suas vinculações a lugares, sítios e fazendas daquela
localidade, entre os quais podemos enumerar o Roça Velha, as Varas, o Cantinho,
o Banco e a Tapera, onde nasceu a autora deste livro.
O
processo educacional, os aspectos sociais e econômicos e as manifestações da
cultura popular em Quitaiús estão neste rosário de textos e leituras a desafiar
a curiosidade do leitor.
Orgulho-me de ter sido escolhido por Rosa
para escrever o prefácio deste livro. Orgulho-me de ser seu amigo e admirador e
de poder testemunhar, de primeiro, os acertos e os grandes desafios a que a
autora se impôs.
Rosa Firmo se junta agora a Ìria Zógob, do distrito
de Amaniutuba, a Rejane Augusto, historiadora da cidade de Lavras, e a Dias da
Silva, Bruno Pedrosa e João Gonçalves de Lemos, em Mangabeira, para louvar o
passado glorioso da velha Princesa do Salgado, uma das primeiras civilizações
do Ceará e aquela em que o amor às tradições e às coisas do passado impediu uma
nação de desaparecer.
Amigo, estou tomada de emoção e me questionando, sobre seu afeto e reconhecimento sobre meu singelo trabalho está sendo avaliado e divulgado pelo gigante da literatura cearense, (lavrense).
ResponderExcluirSei dos meus limites. Continuo engatinhando no meu caminhar de pesquisadora e memorialista. O que vale na vida é saber que podemos semear para depois alguém colher. Escalo os caminhos do riacho do Rosário tentando retirar o sumo sagrado para adubar as plantas ressequidas pela estiagem.
Rosa
Rosa Firmo, salve seu grande merecimento.
ExcluirEstou querendo saber onde é Quitanis e Rosário em CE esse registro é de 1927 e 1929.
ResponderExcluirFrederico
ResponderExcluire-mail: epi3001@gmail.com
Obrigado