terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Origens da Família Férrer

                 Dimas Macedo

                                         Irmã Aurélia Ferrer

             Em 1804, na primitiva Povoação de Lavras, ainda não elevada à condição de Vila, o Governador do Ceará, João Carlos Augusto de Oyenhausen-Gravenburg (o Marquês de Aracati), descendente de uma das principais nobrezas da Europa, levou à pia batismal um dos filhos de Francisco de Oliveira Banhos e Ana Rosa de Oliveira Banhos.

             E, certamente por impulsos de sangue, permitiu que o menino levasse o seu nome para a posteridade. João Carlos Augusto, o filho afortunado de Ana Rosa, foi, assim como o seu qualificado padrinho, um dos grandes políticos da época em que viveu. Mas foi grande, fundamentalmente, porque reproduziu na descendência o sobrenome ilustre que herdara, por via de consanguinidade e veracidade que ainda não foram comprovadas.

              A família Augusto, portanto, da cidade de Lavras da Mangabeira (CE), segundo Joaryvar Macedo, no seu livro Os Augustos (Fortaleza: Imprensa Universitária, 1971), é originária daquele município, onde nasceu o menino João Carlos, cujos prenome, nome e sobrenome lhe foram confirmados pelo rito sagrado do batismo.

               Essa singularidade, contudo, na pátria de Linhares Filho e Sinhá D’Amora, não é um privilégio dos Augustos, tão-somente: o major Antônio Raymundo Duarte (ou Raimundo de Araújo Lima, para o historiador Joaryvar Macedo) e Anna da Luz do Sacramento (ou Ana Gonçalves da Silva ou ainda Naninha dos Pereiros) também geraram um varão que se tornou uma espécie de Abraão daquele município.

              Seu nome: Vicente Ferrer de Araújo Lima. A ele coube o privilégio de batizar os filhos com o prenome que recebera em homenagem ao padroeiro da freguesia – São Vicente Ferrer.

               Férrer (com acento agudo na primeira sílaba) e não Ferrer, como são conhecidos os componentes dessa tradicional família da Ibéria, foi o artifício encontrado por Vicente Férrer de Araújo Lima e sua mulher Maria Teixeira Mendes para preservar um jeito de ser, lavrense, muito especial.

                No que tange à ancestralidade do coronel Vicente Férrer, já se afirmou que seria ele, por da avó o do avô maternos, segundo uma versão e uma tradição que ainda não pude comprovar (mas nas quais vivamente acredito), bisneto de Vitorino Gomes Leitão e de Joana Batista de Jesus e neto de Pedro Ribeiro Campos e Ana Maria Bezerra.

                Não tenho elementos para confirmar ou negar essa afirmação, mas posso assegurar que nem o seu nome nem os nomes dos seus ascendentes maternos figuram em Os Gomes Leitão – Ramos de Lavras, Crato e Cajazeiras, de Deusdedith Leitão (João Pessoa: Companhia Editora A União, 1982).

                O     que posso aqui afirmar (e o faço com a mais absoluta certeza), é que esse notável lavrense era filho de Anna da Luz do Sacramento e do major Antônio Raymundo Duarte, o qual foi vereador em Lavras da Mangabeira, nos períodos de 1870-1873, 1873-1876 e 1877, tendo assumido a presidência do Legislativo lavrense em 1873, 1875, 1876 e 1877, verificando-se a sua morte em 1878 e ocorrendo a morte da sua mulher aos 21 de setembro de 1900.

           Segundo a historiadora Rejane Augusto, em 1877, então com dezoito anos, Vicente Férrer de Araújo Lima “residia com a família no sítio Unha de Gato, onde vivam a maior parte do tempo, porém com residência na cidade de Lavras: na casa separada da Igreja por um beco”.

           Com a morte do seu pai, o coronel Vicente Férrer ficou com a propriedade da casa residencial da família, adquirida por herança e por compra realizada junto aos herdeiros, o mesmo ocorrendo com os sítios  Cachoeira o Pereiros, este último, herdado da sua mãe, Anna da Luz do Sacramento.

          Vocacionado para a vida política, foi componente da Guarda Nacional da Comarca de Lavras, tendo, em fevereiro de 1890, na condição de republicano histórico, assumido o Conselho de Intendência Municipal.

           Em fase posterior da sua militância política, de forma serena, porém sempre firme e conciliatória, ocupou os cargos de vereador e Presidente da Câmara, tendo exercido o cargo de prefeito municipal de Lavras, em pelo menos duas oportunidades: desde 3 de maio de 1925 e a partir de 20 de setembro de 1926, segundo pude constatar em Lavras da Mangabeira – Um Marco Histórico, de Rejane Monteiro Augusto Gonçalves (2ª ed. Fortaleza: Tiprogresso, 2004).

            Nascido na então Vila de Lavras, em 1858, ali faleceu aos 22 de novembro de 1929, contando 71 anos de idade. E para muito além de político e cidadão exemplar, senhoreou, em seu município, propriedades agrícolas e várias fazendas de criar, entre elas a Cachoeira, a Cabaceiras, os Pereiros, o Poço e a Várzea Cumprida, consorciando-se ali com Maria Teixeira Mendes ou Maria Teixeira de Araújo ou  ainda Mariinha Férrer, como ficou conhecida pelos seus conterrâneos.

               Mariinha Férrer, por via do avô paterno, era descendente dos Teixeira Mendes, da vizinha cidade do Icó. Já por via de sucessão da avó paterna (Ana Rosa Joaquina) e da avó materna (Pulquéria Bernardina Sobreira), possuía ascendência nas casas dos grandes patriarcas que povoaram o município de Lavras, e que foram, coincidentemente, seus bisavós: Francisco Xavier Ângelo Sobreira, senhor da Fazenda Logradouro (margem esquerda do Salgado), capitão-mor e comandante geral da Vila de São Vicente das Lavras; e Antônio José Correia, senhor da Fazenda Mangabeira (margem  direita do Salgado) – sede da primitiva povoação de São Vicente Ferrer.

              Seu pai, Vicente Teixeira Mendes, nasceu em Lavras da Mangabeira, aos 21 de outubro de 1842, e faleceu na mesma cidade, aos 24 de fevereiro de 1884. Era filho de Antônio José Teixeira e Ana Rosa Joaquina Xavier Sobreira. Teve por esposa Silvéria Bernardina Sobreira: ela, filha de Pulquéria Bernardina Sobreira e do tenente-coronel Manuel Antônio Correia Favela.

             Pulquéria Bernardina Sobreira era filha de Maria Silvéria de Almeida e de Antônio José Correia, acima nominado. Já Ana Rosa Joaquina Xavier Sobreira era filha de Francisco Xavier Ângelo Sobreira e da sua segunda mulher, Cosma Francisca de Oliveira Banhos, irmã, esta última, de João Carlos Augusto, pai de Fideralina Augusto e fundador da oligarquia-mor do Vale do Salgado.

              Manuel Antônio Correia Favela, avô materno de Mariinha Férrer, era natural de Várzea Alegre e pertenceu à Guarda Nacional de Lavras, no posto de tenente-coronel. Rendido aos encantos da mulher e ao patrimônio desmedido do sogro, Antônio José Correia, fixou-se na gleba adotiva e ali contraiu relações sociais duradouras.

               Entre os seus descendentes, além de todos os integrantes da família Férrer, estão os membros da família Favela, contando-se entre eles o poeta popular lavrense, João Favela de Macedo, os ex-vereadores e líderes políticos daquele município, Vicente Favela de Macedo e Manuel Favela Saraiva (Nelzinho), e o monsenhor José Edmilson de Macedo, orador sacro de renome e Cônego Catedrático do Cabido da Sé da Bahia.


               Vivenciando um dos casamentos mais duradouros e eficazes da história de Lavras, o coronel Vicente Férrer de Araújo Lima e sua consorte Mariinha Férrer foram pais de uma prole de desesseis filhos, pelo menos – oito homens e oito mulheres, assim discriminados em ordem cronológica: Aurélia (a primeira deste nome), Maria Cira (consorte do Coronel Raimundo Augusto Lima), Elza (falecida ainda criança), Luís (Lêla Férrer, consorte de Guilhermina Augusto de Aquino), Maria, conhecida por Marian (consorte do Dr. José Gonçalves Linhares), Oswaldo (cognominado Teixeira, consorte de Augusta Benevides), Ana (cognominada Sinhara, consorte de José Lindolfo Bezerra), Celi (consorte de José Augusto Banhos), Benedicto (doutorando da Faculdade de Medicina da Bahia, falecido aos 19 de agosto de 1928), Anselmo (consorte de Guiomar de Holanda Cavalcanti), Silvéria (Soubé, sem descendência), Sandoval (sacerdote da ordem secular), Amâncio (falecido criança), Aurélia (Irmã Férrer, a segunda deste nome), Dorimedonte (Dori, consorte de Necita de Sousa Férrer) e Vicente Férrer de Araújo Lima Filho (Ferrim, sem descendência).

                                                                                                                                               Fortaleza, janeiro de 2014

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