O poder, inicialmente institucionalizado para
a defesa do feudo, transferiu depois o seu núcleo para o cerne mesmo do comando
administrativo do município, criado por Resolução Régia de 20 de maio de 1816 e
oficialmente instalado aos 8 de janeiro de 1818.
A velha oligarquia, fundada pelo Capitão-Mor
Francisco Xavier Ângelo Sobreira, de início teve como mentor o seu próprio
filho, o padre José Joaquim Xavier Sobreira, o qual, no posto de comando, foi
substituído pelo major João Carlos Augusto, que levou adiante a continuidade do
domínio oligárquico municipal, transferindo-o para sua filha, Dona Fideralina
Augusto, isto para que sob a égide dessa conhecida matrona o poder viesse a
alcançar o seu pedestal máximo de referência.
Grande possuidor de terras na região do médio Salgado, o capitão-mor
Francisco Xavier Ângelo Sobreira foi Comandante Geral da Vila de São Vicente
das Lavras a partir de 14 de outubro de 1820, permanecendo no posto até 1º de
março de 1827, tendo o padre José Joaquim Xavier Sobreira assumido as funções
de pároco da freguesia de Lavras aos 13 de agosto de 1813, ali desempenhando
funções até 1821, quando se tornou um dos líderes da Independência no Ceará.
A investidura de ambos no comando da vida
político-administrativa e sócio-religiosa da Vila de São Vicente das Lavras concorreu
para que viessem a se concentrar nas mãos dessa dinastia praticamente todas as
funções públicas do Município.
E desta forma, segundo Joaryvar Macedo, “despontava uma oligarquia, já turbulenta
e sangrenta, intestinamente, no seu alvorecer. Oligarquia notabilíssima, em
todo o Nordeste, a qual, continuada no mais vigoroso e expressivo ramo do Clã
do Logradouro – os Augustos –, deteria, por um século e meio, o comando
sociopolítico e administrativo da velha e malsinada terra de São Vicente
Ferrer, clã, cuja influência extrapolou para a região sul-cearense e para o
próprio Estado”.
O coronel Raimundo Augusto Lima, filho do Coronel Gustavo Augusto Lima,
e neto de Fideralina Augusto, “substituiu plenamente o genitor na política da
terra natal”, da qual, ainda segundo o historiador Joaryvar Macedo, foi a
expressão máxima num período de aproximadamente meio século, “assegurando,
através dos tempos, a oligarquia da família”.
Nasceu aos 21 de junho de 1887, para experimentar uma das mais
acidentadas existências de quantas floresceram no município de Lavras. Veio ao
mundo para desfrutar as benesses do prestígio político, da mesma forma que para
suportar o fardo da oposição que lhe moveram os seus adversários.
O início das suas atividades políticas coincide com o aparecimento das
grandes divergências internas no seio da velha oligarquia, fomentadas
especialmente pela oposição que Dulcéria Augusto de Oliveira, conhecida no seio
familiar como Pombinha, vinha fazendo à sua irmã Fideralina Augusto.
Essa conduta
oposicionista a velha Pombinha soube muito bem transmitir aos seus
descendentes, especialmente aos coronéis José Augusto de Oliveira e Antônio
Augusto de Oliveira, e ao seu genro, coronel José Leite de Oliveira, o primeiro dos quais, em Lavras, por dilatados anos,
liderou a militância oposicionista ali desencadeada contra o Coronel Gustavo Augusto
e seus comandados.
Rememorando
alguns desses episódios, iremos constatar que, aos 27 de novembro de 1907, o
Coronel Gustavo, não mais suportando a continuidade do seu irmão, Honório
Correia Lima, na chefia do partido governista local, deporia o mesmo pela força do
bacamarte; mas que em 7 de abril de 1910 veria o seu prestígio abalado, com a
invasão da cidade por um exército de homens armados, cujo chefe, Joaquim
Vasques Landim, em nome dos maiores coronéis do Cariri e com o apoio da facção
dissidente da família Augusto, exigia do Coronel Gustavo o retorno à antiga
situação.
Em 9 de
janeiro de 1922, mais uma vez, as duas faces da velha oligarquia confrontam-se,
desta feita sucumbindo novamente a facção dissidente, que na oportunidade
perdeu três dos seus integrantes, mortos em disputado tiroteio.
E o desfecho desses
acontecimentos, como é de todos conhecidos, foi o assassinato do próprio
Coronel Gustavo, aos 28 de janeiro de 1923, em pleno centro comercial de
Fortaleza, estando ele no desempenho do cargo de Deputado Estadual.
No posto
de comando, o Coronel Gustavo foi sucedido pelo seu filho, Coronel Raimundo
Augusto Lima, que já se encontrava no cargo de prefeito de Lavras desde 9 de
novembro de 1920, permanecendo à frente da edilidade lavrense até 9 de janeiro
de 1922, quando foi afastado do cargo, mas nunca do comando político da terra
dos seus ancestrais.
E
feito senhor absoluto da velha Princesa do Salgado, cuidou Raimundo Augusto de
ampliar consideravelmente o seu poder de barganha, projetando o seu nome nas
páginas da história como um dos mais expressivos coronéis do Nordeste.
Em
1926, por solicitação do Presidente do Estado, José Moreira da Rocha, organizou
um comando de 500 homens em armas, à frente do qual se dirigiu em demanda de
Senador Pompeu e dali até a cidade de Maria Pereira, em perseguição aos
revoltosos da Coluna Prestes.
Em junho de 1927, registra igualmente a historiografia, enfrentou com
memorável valentia o famigerado Rei do Cangaço, dando-lhe um dos mais renhidos
combates de quantos enfrentados pelo mesmo em terras do Ceará.
E
tanto repercutiu entre os cangaceiros a ousadia de Raimundo Augusto e seus
comandados, que o bando de Lampião, já em repouso na fazenda Serra da Mata, do
Coronel Antônio Joaquim de Santana, em Missão Velha, ouviria do sanfoneiro e
cantador Antônio Ferreira, irmão do Rei do Cangaço, a seguinte advertência:
“Lampião bem que disse / que deixasse de asneira / que passasse bem por longe /
de Lavras da Mangabeira”.
Em 15
de novembro de 1928, o Coronel Raimundo Augusto Lima foi eleito prefeito de sua
terra natal e, nesse posto, confirmado pelas eleições municipais de 1930,
alcançando-o a revolução desencadeada em meados daquele ano em pleno apogeu da
sua militância.
Ocupada a cidade de Lavras, aos 6 de agosto de 1930, pelo comando e todo
o efetivo do 23º Batalhão de Caçadores, dela evadiu-se o coronel Raimundo
Augusto Lima, o qual, segundo o historiador Otacílio Anselmo, “mantinha
reservadamente numeroso grupo de assalariados para lutar contra a revolução”.
E o
“ambiente arcaico e vazio” no qual mergulhou a comuna com a ausência do seu
poderoso chefe, ainda segundo Otacílio Anselmo, “era apenas o reflexo do
imobilismo enraizado nos sertões do Nordeste”, pois, em verdade, o 23º Batalhão
de Caçadores achava-se “num dos mais famosos feudos do coronelismo interiorano,
desde há muito sob o domínio absoluto de Raimundo Augusto, influente e
despótico chefe perrepista”.
E
arremata o autor de A Revolução de 30 no
Ceará: “E para que se tenha uma ideia exata do faccionismo dominante em
Lavras, eis um fato lá ocorrido, sem dúvida, inédito no País e que provocara
natural e justa repugnância até daqueles que não participavam da conspiração.
Ao chegar em Lavras o anúncio da morte de João Pessoa, um irmão de Raimundo
Augusto, apelidado de José Ferrão, cobriu a cidade com centenas de foguetes”.
Cidade que na época ainda possuía “feição rústica e aspecto patronal”,
que “nada tinha de atrativo para as centenas de jovens militares que lhe
enchiam as ruas, praças e vielas, nas suas horas de folga, a não ser a passagem
de trens de passageiros e furtivas idas ao bairro Rabo da Gata”.
Mas o coronel Raimundo Augusto, perseguido pelas tropas legalistas, é
detido em Juazeiro e dali recambiado para Lavras, onde seria recolhido à Cadeia
Pública local, para deleite dos seus adversários, que eram muitos e que já se
encontravam, ainda que, precariamente, no exercício do poder político.
Com efeito, pelo decreto nº 6, de 16 de outubro de 1930, de Fernandes
Távora, chefe em exercício do governo da revolução vitoriosa, o padre Raimundo
Augusto Bezerra havia sido nomeado Interventor Municipal de Lavras, a ele se
seguindo o tenente José Pinheiro Barreira e o farmacêutico José Gonçalves
Linhares, bem como o Dr. Manoel Pinheiro de Sousa.
Perseguido pelo alto comando revolucionário, dilapidado o seu patrimônio
e incendiadas as suas propriedades, o coronel Raimundo Augusto não teve outra
alternativa, ao sair da prisão, senão aquela de assassinar, em 26 de junho de
1932, em Lavras da Mangabeira, ao tenente Veríssimo Gondim, que ali desembarcou
por solicitação dos seus opositores e com ordens do Chefe de Polícia do Ceará
para trazê-lo algemado até Fortaleza.
E, igualmente para satisfação dos seus adversários, que anteriormente
haviam preparado o desfecho do incidente acima referido, foi novamente
recolhido à prisão e levado ao Tribunal do Júri, em 13 de novembro de 1932,
quando foi absolvido por unanimidade, com defesa confiada aos advogados Olavo
Oliveira, Kerginaldo Cavalcanti e Raimundo Gomes de Matos, na época os
causídicos de maior nomeada do Ceará.
Em 1934, vitoriosa a Liga Eleitoral Católica, que no Ceará restaurou as
prerrogativas do antigo regime, a estrela política do coronel Raimundo Augusto
Lima voltou mais uma vez a brilhar, desta feita com a nomeação, em 5 de junho
de 1935, do seu irmão João Augusto Lima para a chefia da edilidade lavrense.
O coronel João Augusto seria confirmado no
poder pelas eleições municipais de 26 de março de 1936, mantendo-se nesse posto
até 14 de dezembro de 1937, quando o comando político município passou para o
Dr. Vicente Augusto Lima, que dirigiu o governo de Lavras da Mangabeira até 17
de novembro de 1945.
Na data acima referida, assumiu, inteiramente,
a Prefeitura Municipal lavrense o Dr. Vicente Bessa, então Juiz de Direito da
Comarca, que passou o poder a Oswaldo Férrer Sobrinho. A este último,
seguiram-se os interventores Alexandre Benício Leite, Gustavo Augusto Lima e
Emar Matos Rolim.
Nas eleições de 8 de dezembro de 1947, foi
eleito Prefeito de Lavras o Dr. Gustavo Augusto Lima, com exercício no período
de 6 de janeiro de 1948 a 31 de janeiro de 1951, quando transferiu o poder ao
próprio coronel Raimundo Augusto Lima, seu tio paterno, vitorioso nas eleições
de 3 de outubro de 1950.
Durante
o período acima referido, Raimundo Augusto Lima exerceu as funções de Vereador,
bem como as de Presidente da Câmara Municipal, assegurando, assim, a
continuidade da sua liderança.
Administrando o município de Lavras de 31 de janeiro de 1951 a 25 de
março de 1955, o coronel Raimundo Augusto retornou à chefia do executivo
lavrense por força das eleições de 3 de outubro de 1958, dirigindo o seu
município de 25 de março de 1959 a 25 de março de 1963.
De 25 de março de 1955 a 25 de março de 1959, e de 25 de março de 1963 a
25 de março de 1967, o governo municipal lavrense coube ao Dr. Aloysio Teixeira
Férrer; e de 25 de março de 1967 a 25 de março de 1971, ao industrial João
Ludgero Sobreira, o qual, apesar de conhecido opositor da velha oligarquia, aos
seus encantos não soube resistir durante o pleito de 15 de novembro de 1966,
tampouco nas eleições de 15 de novembro de 1970.
Durante cinquenta anos, aproximadamente,
Raimundo Augusto Lima reinou de forma soberana em Lavras da Mangabeira,
sobrepujando todos os seus adversários e confirmando a linha de comando traçada
pela sua avó, Dona Fideralina, e brilhantemente sustenta pelo seu pai, o famoso
Coronel Gustavo.
A derrocada dessa oligarquia ainda teria que
esperar a eleição de 15 de novembro de 1972, quando foi eleito Prefeito de
Lavras da Mangabeira Vicente Pinto de Macedo, o qual, apesar da obscura
militância, soube catalisar a atenção dos redutos oposicionistas do Município.
Nessa época, a Família Augusto e a oligarquia
por ela titularizada já haviam saído de cena, quer pelo aniquilamento de sua
força e de suas propostas políticas, quer pela fragmentação do latifúndio, ou
ainda pelo aparecimento de novos agentes políticos no velho município de Lavras
da Mangabeira.
O coronel Raimundo Augusto Lima, que faleceu
em sua terra de berço, aos 3 de julho de 1971, foi casado, em primeiras
núpcias, com Maria Cira Férrer Augusto Lima, sua conterrânea, nascida aos 15 de
janeiro de 1891 e falecida aos 18 de outubro de 1958, filha do Coronel Vicente
Férrer de Araújo Lima e de Maria Teixeira de Araújo.
Em
segundas núpcias, casou-se com Valdecy Dantas Augusto, natural de Brejo Santo e
ex-vereadora à Câmara Municipal de Lavras. Entre os seus filhos, destacam-se o
Dr. Vicente Férrer Augusto Lima, Bacharel em Direito, Deputado Estadual,
Deputado Federal e Senador da República; e a Dra. Maria Augusto Férrer Lima,
formada em Serviço Social no Rio de Janeiro e chefe do Departamento Nacional do
Serviço Social da Indústria.
Com filiação aos postulados ao Partido
Republicano Conservador Cearense, ainda na República Velha, depois do ciclo
revolucionário que o destronou vinculou-se ao Partido Social Democrático (PSD),
agremiação da qual, em terras cearenses, foi um dos mais destacados
integrantes.
Quando quis, foi recebido por Governadores,
Senadores, Deputados Federais e até Presidentes da República, autoridades com
as quais manteve relações de amizade ou de cumplicidade política.
Com
algumas façanhas de sua vida cantadas em folhetos de cordel, e hoje com o seu
nome referido em farta bibliografia, regional e nacional, o coronel Raimundo
Augusto Lima pode ser considerado, de forma incontestável, como um dos maiores
coronéis do Nordeste, em todos os tempos.
Chalet pertencente ao Coronel Raimundo
Augusto em Lavras da Mangabeira (CE).
Dona Cira Férrer Augusto Lima,
primeira esposa do Coronel RA.
Coronel Gustavo Augusto,
pai de Raimundo Augusto.
No início da década de 1960, estarrecido
diante de uma milagre de Frei Damião
vendo-se à sua direita
o Dr. Aloysio Férrer,
Prefeito de Lavras da Mangabeira.
No Distrito de Mangabeira (julho de 1961),
encerrando o Seminário Sobre Cooperativismo
na Região Centro-Sul do Ceará,
organizado pelo Vereador Pedro Luiz Sobrinho.
Raimundo Augusto está na testa da mesa,
de paletó branco, e o menino que vemos
em pé à sua esquerda é aquele que tornar-se-ia
depois o maior violonista do Brasil:
Nonato Luiz.
Senhores falar do coronel raimundo augusto lima pra nos ciganos do mundo e como falar de deus porque pra nos ciganos o coronel vai ser e sempre serar o deus do cigano e do pobre ......obs eu tenho um filho ja tem novi anos e o nome dele e raimundo augusto lima em omenagem o coronel raimundo augusto lima ja tentei falar com raimundinho ou com luiz carlos pra ver se um deles batisar essa criança dimas macedo mim ajude porque minha criança ja tem novi anos ....meus amigo dimas coronel raimundo e como o padre cicero disse a ele vai raimundo e deus no ceu e tu na terra ninguem poderar contigo ...meus nome e frank cigano moro em sousa pb .. meus telefone e esse 04183 996697241
ResponderExcluirKrank Cigano, estou repassando o seu telefone para o Luiz Carlos Augusto,
ResponderExcluirque mora em Lavras da Mangabeira. Conheci o Coronel Raimundo Augusto e sei
do seu grande amor aos ciganos, que ele tanto admirava e protegia. Abraço.
dimas.macedo@hotmail.com