sábado, 17 de novembro de 2018

Pré-Leitura do livro Direito e Literatura, de Dimas Macedo


Osvaldo Euclides Araújo

Bons Momentos

— Contraditoriamente instalada no Brasil, em 1889, por um autêntico golpe de Estado, desfechado por uma elite autoritária e ansiosa por influir no aparelho do Poder, a forma republicana que nos serve de modelo tem sido, infelizmente, balcão de despachos de uns poucos em detrimento dos grandes interesses da nação.
— Boa parte dos magistrados e dos detentores do poder, desde os primórdios da civilização, têm-se revelado seres potencialmente corruptos e tresloucados pela perda da clarividência, tais os casos de juízes e chefes de Estado que, renunciando às suas trajetórias, assumiram a falta de postura ética como modelo de sua atuação.
— As dívidas sociais são monumentais no Brasil e o nosso patrimônio público tem sido dominado e também degradado por empresários, chefes do Executivo e parlamentares inescrupulosos, em tudo amparados pela convivência dos Tribunais de Contas e do Poder Judiciário.
— É poeta de vários instrumentos, viajante lírico dos melhores e arauto de uma épica que se quer, a qualquer custo, incrustada em nossos corações. A emoção coloca-se no centro das suas preocupações. O tecido amoroso o envolve. E a poesia por ele praticada é toda ela uma imensa jitirana de luz, brilhando entre veredas de sol, iluminando os cafundós de nosso empedernido sertão.
— Sei que sou suspeito para falar do talento musical de Diego Macedo, mas sei também que não posso mentir com relação às minhas preferências musicais. E Diego Macedo é uma delas, como se ele não fosse uma das grandes expressões do meu amor.
— Como jurista e professor de Direito, eu acuso o sistema político brasileiro e os seus dirigentes pela manutenção das nossas desigualdades e pelo aprofundamento do crime organizado, no âmbito do aparelho do Estado, e faço isso em nome dos que sonham com um mundo novo e com um Poder Judiciário mais justo e menos omisso com relação à aplicação da Constituição.
— No princípio era o verbo. E o verbo, encarnado, se fez justo. E o verbo, soberano, chamava-se Augusto, e de seus ramos, imponentes, ergueram-se as Pontes. E as fontes do saber, em Augusto, tornaram-se densas. Imensas as suas simetrias com o seu prenome, posto que Francisco antecedia a Augusto, e uma vez que Augusto precedia a Pontes. E Augusto Pontes, para todo o sempre, em rendas de opala, tinha a fala mansa e o olhar agudo.

Curtas
— A violência é também resultante dos preconceitos de nossa elite social, e em grande escala é produto do silêncio daqueles que deixam de lutar pela afirmação da verdade, ou que trocaram a sua consciência por uma migalha de conforto pessoal.
— Sei que a palavra e o seu significado me seduzem até a exaustão, e que a ética e os valores supremos da beleza estão na raiz do meu equilíbrio psíquico, mas sem a busca incessante da Justiça sei também que não faz sentido viver.
— A violência que grassa em Fortaleza e em todo o Brasil é produto da arrogância dos nossos governantes. Não podemos ser tolerantes com essa elite predatória, e não há por que silenciar.
— Ser livre, para os autores, seria o mesmo que ser revolucionário e alegre.
— Precisamos da política e da sua regeneração, antes do triunfo do caos e da desordem; e do predomínio da corrupção, praticada pelos governantes e pela falta de postura do Judiciário.

O Autor
       Poeta, jurista, historiador e crítico literário, Dimas Macedo é mestre em Direito e Livre Docente em Direito Constitucional. É professor da Universidade Federal do Ceará e Procurador do Estado. É cearense, filho de Lavras da Mangabeira. Na área do Direito tem oito livros publicados, nas outras, nove.

A Publicação
       O livro Direito e Literatura, de Dimas Macedo, em sua segunda edição, pela editora Lumen Juris, de 2017, tem 196 páginas, prefácio do próprio autor.

Circunstâncias
        O livro reúne setenta e sete textos, entre crônicas e artigos, que Dimas Macedo publicou como colaborador em variados meios de comunicação (jornais e revistas) ao longo de anos. Do total, quarenta e sete são focados no Direito. Os trinta outros, que o título do livro sugere pertencerem ao campo da Literatura, abrem-se em crônicas e memorialismo.

O Livro
      O livro Direito e Literatura, de autoria de Dimas Macedo está estruturado em dois grandes blocos de texto. A primeira parte apresenta o maior número de textos, e está dedicada ao Direito. Dimas enfrenta temas como corrupção, história e reforma política, filosofia do Direito, Processo e Constituição, Cidadania e Participação. Como ele mesmo diz, no prefácio, a obra expõe os “eixos mediante os quais minha obra se sustenta”. Na segunda parte do livro, as crônicas falam principalmente de personalidades do mundo da arte e da cultura. Como diz o autor, ele se “deixou conduzir pelos afetos e pelos sentimentos emocionais”.

A Importância da Obra
       Dimas Macedo expõe neste livro uma parte importante do seu pensamento como observador da cena jurídica, política, cultural e social. Conduz o leitor a viajar pela história e pelos assuntos delicados de sua inserção na cena de sua terra, de seu país. Diz como vê e como sente a realidade de seu tempo, mostra a quem dirige seus afetos, posiciona-se com clareza sobre o poder e fala dos poderosos com rara firmeza.

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