Codicírio é um neologismo criado por
Dimas Macedo para dar título a esse seu livro de 2018. São 38 poemas publicados
pelas Edições Poetaria, trabalhados graficamente por Geraldo Jesuíno. O
prefaciador é Rodrigo Marques que, através de texto bem elaborado, analisa com
muito zelo o livro do Dimas, mas não encontra nos dicionários alguma alusão ao
termo título. Também Jesuino, em texto de capa, não consegue dizer o que é {Codicírio}, apesar da excelente análise
produzida. Já o autor, este silencia sobre o real significado de sua invenção.
Os poemas desse novo livro ainda
trazem momentos do telurismo, que tem sido a principal temática macedeana ao
longo da sua produção literária. Lavras da Mangabeira e o rio Salgado da
infância e da adolescência ainda pulsam na sua poética. Feliz quem canta sua
terra antes de cantar o mundo. E Lavras é farta em motivações literárias. É
tanto que dizem que os escritores daquela terra são marcados pela cidade porque
se banharam e beberam a água do Salgado. Até parece que Dimas Macedo exagerou
na sua beberagem, pois o rio e a cidade não saem do seu poetar.
Outra vertente temática que tem
acompanhado esse poeta conterrâneo é o erotismo. Há muitos "seios",
"pelos", "colos" e "conchas" nos seus versos. Há
sempre uma cavalgada no relevo sensual da mulher amada. É evidente que a
culminância desse erotismo está no seu livro de 2009, que nos veio com o título
de O Rumor e a Concha. É um erotismo
que contamina esteticamente sua obra inteira. Até as cidades e suas ruas,
quando andadas, apresentam e trescalam o cheiro da sensualidade.
Como a linguagem é a casa do ser,
não é de admirar que é nos seus recônditos que o poeta se recolhe e se
transfigura. Parece que quanto mais se esconde nessas metáforas, mais se
apresenta como poeta. O seu existencialismo vai, pois, de encontro às suas
metáforas. O poeta e o jurista se digladiam esteticamente, pois a racionalidade
do operador do direito nos seus pareceres bate de frente com as figurações que
robustecem a poesia. Objetividade e subjetividade estão presentes no seu
cotidiano.
Nesse novo livro, o poeta Dimas
corre riscos ao trazer vários poemas de circunstâncias. Acontece que esses
poemas não comprometem seu desempenho porque ele mostra contornos poéticos de
várias cidades europeias. Ele deixa seus olhos e parte do coração em Havre. Em
Dublin, ele se encandeia com "a face acesa de Joyce". “Berlim” se
torna seu melhor poema por se apresentar como uma dama no cio, com quem ele se
relaciona e termina por lhe enviar "um bilhete e mais um ramalhete de
versos". É o poema em que o erotismo se apresenta mais latente.
São poemas que vêm vestidos a rigor,
graças à parceria do autor com o estilista Geraldo Jesuíno, que preparou a
roupagem da coletânea para a grande festa da leitura. Também apresenta um Dimas
Macedo cada vez mais multifacetado, investindo em várias frentes poéticas.
De Lavras a Veneza, as águas se dão as
mãos para que o poeta navegue tranquilo no seu manifesto aquático. Esse seu novo
itinerário, feito aquarela, cativa o leitor pela beleza da superfície e o
instiga a mergulhar em busca de uma estrutura profunda possuidora de muito
ainda a ser devassado.
{Codicírio} é bem apresentado, revela um Dimas Macedo cada vez mais
multifacetado, investindo em várias frentes poéticas.
Diário
do Nordeste
Fortaleza
– 23/10/ 2018
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