Geraldo Jesuíno da Costa
Alcides Pinto por Geraldo Jesuino
Quando, em 2002, fez-se à lume A
Face do Enigma – José Alcides Pinto e
sua Escritura Literária -, JAP, que em sua branca e quixotesca armadura,
cavalgava solene, amparado pela inquietude do seu gênio, arrefeceu o passo,
rendeu-se, arremessou braços aos céus numa prece e, com sua draconiana aura,
rompeu um silêncio.
O opúsculo que se lançava ao
mercado editorial, em esmerada e limitada edição de exemplares numerados,
continha em seu corpus o resultado de
longa e minuciosa pesquisa de Dimas Macedo na busca de traçar um perfil daquele
enigmático escritor. Exibia, ainda, além dos decassílabos e entrevista nos
quais o autor confessa inconteste admiração, 12 gravuras exclusivas, reveladas
na madeira pelo dom de renomados artistas cearenses que, com elas, gravavam
para a posteridade, ao criador de O Amolador de Punhais, as suas reverências.
Agora, vencida uma curta
calmaria e em tempo de memórias, rompe-se outra vez o silêncio. Embora já não
se escute mais o urro do desaquietado dragão, ainda é possível e necessário
ouvir o ruflar das suas asas, quase quietas, mas ainda a sacudir os ares das
terras escaldantes de São Francisco do Estreito. De lá, JAP, O Enigma, embora recluso, ainda deixa à
mostra a força da sua energia, ainda exerce o fascínio exuberante da sua
literatura e ainda mantém acesa a aura que o envolve em mistério.
Louco, maldito, mítico, místico,
monge, ícone, gênio ou simplesmente um homem que se atreveu a trazer para esta,
aquela esfera só permitida aos deuses e aos poetas? Talvez suas tantas identidades sejam
necessárias para entendê-lo, talvez não lhe reconhecer nenhuma seja a chave
para desvendar-lhe o mistério. Relevantes, sabemos, são: a sua obra e a incessante
investigação crítica da sua identidade.
Reedita-se agora o evento –
relevando seus entes, sua vida, suas inquietas e desafiadoras letras e suas
insólitas páginas – e se o conclama do seu curto descanso a colocar-se entre
nós, a ocupar o seu lugar de direito nos degraus mais altos da literatura
brasileira.
Outra vez, A Face do Enigma.
Agora, Dimas Macedo, alforjado somente de sua argúcia de pesquisador, qual
franciscano, despe-se solenemente das suas merecidas vestes de poeta, despoja
sua obra e a republica como uma prenda
rara, assumindo-se admirador, guardador das memórias e amigo incondicional de
José Alcides Pinto.
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