Dimas Macedo
Padre José Joaquim Xavier Sobreira,
1º Vigário de Lavras da Mangabeira (CE)
José Joaquim Xavier Sobreira, “de projeção
indiscutível”, nasceu no sítio Logradouro, a 4 quilômetros da antiga povoação
de São Vicente Ferrer, “por volta de 1777”, segundo Joaryvar Macedo. Filho do
Capitão-Mor e Comandante Geral da Vila de São Vicente Ferrer das Lavras,
Francisco Xavier Ângelo, e de sua primeira mulher Ana Rita de São José.
Foi aluno do Seminário de Olinda,
por onde se ordenou sacerdote. Político de atuação marcante na formação do
Ceará independente e célebre propulsor de movimentos libertários, José Joaquim
Xavier Sobreira foi o primeiro vigário (colado) de Lavras da Mangabeira, desde
a criação da freguesia, aos 30 de agosto de 1813, até o ano de 1821.
Desde muito cedo, interessou-se pelas coisas
da política, tendo-se sido, incialmente, Procurador Geral da Província do Ceará
junto ao Conselho de Procuradores Gerais das Províncias do Brasil, instituído
por decreto de 16 de fevereiro e instalado no Rio de Janeiro aos 2 de junho de
1822.
Por sua ação à frente das lutas
pela consolidação da Independência, e pela instauração de uma ordem que viesse
a representar os pressupostos da legalidade, seu nome, pelo decreto de 3 de
junho de 1822, comporia a “relação dos cidadãos que mais se distinguiram” e que
“mais fervorosos se portaram pela causa de Independência, e reconhecimento de
Sua Majestade o Imperador” nas diversas Vilas da Província do Ceará.
Foi Presidente do Colégio
Eleitoral da Comarca do Crato, reunido no Icó a 16 de outubro de 1822, que
impugnou a Junta Governativa eleita em Fortaleza em 15 de janeiro do mesmo ano.
Nessa oportunidade, em face da sua incontestável liderança, foi preso pelo
comandante de armas, Manuel Antônio Diniz, ficando detido até ser libertado
pelas tropas comandadas pelo Capitão Pereira Filgueiras.
Em ofício de 14 de novembro de
1822, enviado aos deputados em Cortes pelo Ceará, foi apontado por membros da
Junta Governativa de Fortaleza, como sendo o “primeiro motor” das agitações
independentistas reinantes no interior da Província e que tinha como focos de
irradiação as vilas de Lavras, Crato e Icó.
Integrou o primeiro Governo
Provisório do Ceará, logo após a Independência do Brasil, eleito em Icó,
empossado no Crato, aos 19 de novembro de 1922, e instalado em Fortaleza, aos
23 de janeiro de 1823, cuja ideia de criação, existência e legitimidade foi ele
o primeiro a proclamar, mantendo-se nesse posto, especialmente como Secretário
do referido Governo Provisório, até 4 de março do mesmo ano.
Também por conta da sua liderança, em de 27 de novembro de 1822, foi
escolhido emissário da Câmara do Crato para, no Rio de Janeiro, explicar ao
Imperador as razões da criação do primeiro Governo Temporário do Ceará.
Em 27 de abril de 1823, no entanto, já se encontrava na vila de Lavras,
para assistir a passagem, naquela localidade, do Comando Revolucionário
liderado por Pereira Filgueiras, que se destinava ao Piauí para combater João
da Cunha Fidié.
Em 24 de outubro de 1824, presenciou o
exército Republicano da Confederação do Equador ocupando a vila de Lavras, ai
destruindo o Pelourinho e substituindo a Bandeira Imperial pela Bandeira
Republicana. Na época, o seu pai, Francisco Xavier Ângelo Sobreira, era o
capitão-mor da referida vila, mas toda a sua família estava comprometida com
causa da Federação e da República.
Eleito Deputado à primeira Assembleia
Constituinte do Brasil, instalada na Corte, a 23 de maio de 1823, ali
representou o Ceará com a maior distinção. Sendo, no entanto, dissolvida a
Assembleia, aos 12 de dezembro de 1823, regressou à sua terra natal, onde faleceu,
aos 50 anos de idade, presumivelmente envenenado por sua madrasta, Cosma
Francisca de Oliveira Banhos, aos 17 de maio de 1827, sendo sepultado na igreja
matriz de Lavras da Mangabeira.
Seus serviços prestados à causa da Independência são relevantes. Empossado
o Governo Provisório do Ceará, já na sessão extraordinária desse Conselho, de
24 de janeiro de 1823, tomando a direção da palavra, destacar-se-ia pelo
delineamento dos planos que traçou com vistas à Independência do Piauí e
Maranhão, os quais foram acolhidos por unanimidade, cabendo-lhe “um papel
importante no feito das armas cearenses naquelas províncias”, segundo o
historiador Geraldo Nobre.
Era irmão de dois outros importantes vultos do clero cearense: Francisco
Xavier Gonçalves Sobreira, revolucionário e líder de movimentos de
independência no Piauí, onde foi vigário da freguesia de Marvão – hoje
município de Castelo; e Cosme Francisco Xavier Sobreira, vigário coadjutor em
Lavras e pároco de São Mateus dos Inhamuns – hoje Jucás, sendo ambos,
igualmente, originários do Sítio Logradouro.
O nome de José Joaquim Xavier Sobreira, cujos
feitos são aqui sumariamente relatados, é, com certeza, uma das mais
lamentáveis omissões nas tentativas de biografação de cearenses ilustres
feitas por historiadores, a começar pelo Barão de Studart, com o seu
Dicionário Bio-Bibliográfico
Cearense.
in Dicionário de Sacerdotes Lavrenses
(Fortaleza, Edições Poetaria, 2013)
Um cara explêndido, que muito fez pelo nosso ceará!!
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