quinta-feira, 1 de agosto de 2013

José Joaquim Xavier Sobreira - Primeiro Vigário de Lavras


          Dimas Macedo

                                    
                                              
                                                        Padre José Joaquim Xavier Sobreira, 
                                                    1º Vigário de Lavras da Mangabeira (CE)
              

 José Joaquim Xavier Sobreira, “de projeção indiscutível”, nasceu no sítio Logradouro, a 4 quilômetros da antiga povoação de São Vicente Ferrer, “por volta de 1777”, segundo Joaryvar Macedo. Filho do Capitão-Mor e Comandante Geral da Vila de São Vicente Ferrer das Lavras, Francisco Xavier Ângelo, e de sua primeira mulher Ana Rita de São José.

Foi aluno do Seminário de Olinda, por onde se ordenou sacerdote. Político de atuação marcante na formação do Ceará independente e célebre propulsor de movimentos libertários, José Joaquim Xavier Sobreira foi o primeiro vigário (colado) de Lavras da Mangabeira, desde a criação da freguesia, aos 30 de agosto de 1813, até o ano de 1821.

 Desde muito cedo, interessou-se pelas coisas da política, tendo-se sido, incialmente, Procurador Geral da Província do Ceará junto ao Conselho de Procuradores Gerais das Províncias do Brasil, instituído por decreto de 16 de fevereiro e instalado no Rio de Janeiro aos 2 de junho de 1822.

Por sua ação à frente das lutas pela consolidação da Independência, e pela instauração de uma ordem que viesse a representar os pressupostos da legalidade, seu nome, pelo decreto de 3 de junho de 1822, comporia a “relação dos cidadãos que mais se distinguiram” e que “mais fervorosos se portaram pela causa de Independência, e reconhecimento de Sua Majestade o Imperador” nas diversas Vilas da Província do Ceará.

Foi Presidente do Colégio Eleitoral da Comarca do Crato, reunido no Icó a 16 de outubro de 1822, que impugnou a Junta Governativa eleita em Fortaleza em 15 de janeiro do mesmo ano. Nessa oportunidade, em face da sua incontestável liderança, foi preso pelo comandante de armas, Manuel Antônio Diniz, ficando detido até ser libertado pelas tropas comandadas pelo Capitão Pereira Filgueiras.

Em ofício de 14 de novembro de 1822, enviado aos deputados em Cortes pelo Ceará, foi apontado por membros da Junta Governativa de Fortaleza, como sendo o “primeiro motor” das agitações independentistas reinantes no interior da Província e que tinha como focos de irradiação as vilas de Lavras, Crato e Icó.

Integrou o primeiro Governo Provisório do Ceará, logo após a Independência do Brasil, eleito em Icó, empossado no Crato, aos 19 de novembro de 1922, e instalado em Fortaleza, aos 23 de janeiro de 1823, cuja ideia de criação, existência e legitimidade foi ele o primeiro a proclamar, mantendo-se nesse posto, especialmente como Secretário do referido Governo Provisório, até 4 de março do mesmo ano.

  Também por conta da sua liderança, em de 27 de novembro de 1822, foi escolhido emissário da Câmara do Crato para, no Rio de Janeiro, explicar ao Imperador as razões da criação do primeiro Governo Temporário do Ceará.

   Em 27 de abril de 1823, no entanto, já se encontrava na vila de Lavras, para assistir a passagem, naquela localidade, do Comando Revolucionário liderado por Pereira Filgueiras, que se destinava ao Piauí para combater João da Cunha Fidié.

     Em 24 de outubro de 1824, presenciou o exército Republicano da Confederação do Equador ocupando a vila de Lavras, ai destruindo o Pelourinho e substituindo a Bandeira Imperial pela Bandeira Republicana. Na época, o seu pai, Francisco Xavier Ângelo Sobreira, era o capitão-mor da referida vila, mas toda a sua família estava comprometida com causa da Federação e da República.

    Eleito Deputado à primeira Assembleia Constituinte do Brasil, instalada na Corte, a 23 de maio de 1823, ali representou o Ceará com a maior distinção. Sendo, no entanto, dissolvida a Assembleia, aos 12 de dezembro de 1823, regressou à sua terra natal, onde faleceu, aos 50 anos de idade, presumivelmente envenenado por sua madrasta, Cosma Francisca de Oliveira Banhos, aos 17 de maio de 1827, sendo sepultado na igreja matriz de Lavras da Mangabeira.

   Seus serviços prestados à causa da Independência são relevantes. Empossado o Governo Provisório do Ceará, já na sessão extraordinária desse Conselho, de 24 de janeiro de 1823, tomando a direção da palavra, destacar-se-ia pelo delineamento dos planos que traçou com vistas à Independência do Piauí e Maranhão, os quais foram acolhidos por unanimidade, cabendo-lhe “um papel importante no feito das armas cearenses naquelas províncias”, segundo o historiador Geraldo Nobre.

   Era irmão de dois outros importantes vultos do clero cearense: Francisco Xavier Gonçalves Sobreira, revolucionário e líder de movimentos de independência no Piauí, onde foi vigário da freguesia de Marvão – hoje município de Castelo; e Cosme Francisco Xavier Sobreira, vigário coadjutor em Lavras e pároco de São Mateus dos Inhamuns – hoje Jucás, sendo ambos, igualmente, originários do Sítio Logradouro.

          O nome de José Joaquim Xavier Sobreira, cujos feitos são aqui sumariamente relatados, é, com certeza, uma das mais lamentáveis omissões nas tentativas de biografação de cearenses ilustres feitas por historiadores, a começar pelo Barão de Studart, com o seu Dicionário Bio-Bibliográfico Cearense.

                                                                in Dicionário de Sacerdotes Lavrenses

                                                           (Fortaleza, Edições Poetaria, 2013)

Um comentário: