Acredito ser impossível apreciar a
arte de boa qualidade e não desejar tê-la para si, uma vez que a arte é a
extensão do nosso imaginário e do nosso desejo de estar-no-mundo e de lutar até
onde as energias da vida possam permitir.
A arte atravessa os caminhos escuros do nosso
inconsciente e, na proporção em que se vai tornando soberana, projeta no espaço
do nosso exterior o caleidoscópio no qual nos espelhamos. E não há como fugir
da sua linguagem sedutora, da sua tentação desafiante e dos lençóis de linho
com os quais ela nos envolve.
Ana Costalima é uma artista plural e multifacetada.
Toca todos os instrumentos da escansão poemática, e transita da escultura do
ferro e da gravura à pintura de linhagem clássica que aponta para o limite de
todos os desejos.
E sabe manipular, com esmero, o desenho de linhas
abstratas e a alquimia das formas como se fosse uma equilibrista que caminha
por fios de arame sem a necessidade de nenhum elemento de apoio.
A escultura parece ser, de plano, o seu supremo campo
de domínio, mas não o é. Ana Costalima é mais do que aquilo que aparenta ser; e
é muito mais ainda do que aquilo que a respeito dela se pode imaginar.
Em sua exposição – Linhas
da Alma –, por exemplo, ela demonstra o quanto é possível transformar as
estruturas pesadas dos materiais resistentes em folhas laminadas em branco e em
linhas que apontam para as grandes levezas da vida.
A dança das formas resistentes, a leveza significante
do traço, o desenho simbólico da sinergia da alma, a comandar o prazer e o
deleite dos apreciadores, são valores e achados com os quais Ana Costalima nos
encanta.
Todos os recursos da criação artística que lhes foram
facultados, ela os reuniu nos objetos que constituem essa exposição, pois o
prazer estético que ela nos revela a partir de suas esculturas é dos mais
intrigantes que até hoje se fez no Ceará.
Um crítico de arte talvez quisesse inventar teorias ou
escolas, tendências estéticas ou didáticas para enquadrar a perspectiva de
trabalho de Ana Costalima, como se ela fosse um artista que necessita de classificação.
Mas não é isto o que penso a respeito da sua produção.
Acho que Ana Costalima é uma artista de traços
criativos que primam pela leveza da forma e do desenho, e que nos dizem também,
com muita sutileza, que a arte de viver implica, necessariamente, em tomar a
criação como ponto de partida.
E a criação como ponto de partida é
tudo o que importa a Ana Costalima, especialmente quando ela se debruça sobre o
ofício de escrituração do poema, pois essa grande artista cearense é também
poetisa, e poetisa no sentido mais justo da palavra.
Ana
Costalima, como poucos artistas que conheço, trafega, com esmero, pelas linhas
do imponderável. Não é uma engenheira do poema, no sentido cabralino do termo.
Não escreve pela emoção, mas pelo ouvido.
Compreende sinais, interpreta signos, fixa a
atenção num ponto qualquer do horizonte, desce o olhar sobre o papel e o poema
explode em forma de canção e de resguardo de sua doce sensibilidade.
Faz poemas como se estivesse ouvindo
alguma partitura. Vozes musicalizadas. Melodias sonoras. Texto preparado para a
virtuose e para as grandes energias do corpo.
A palavra, em Ana Costalima,
constitui a sedução de todos os prazeres. O movimento, o alento, o alimento,
nesta ordem de partida do zen oriental, integram a sinergia do texto que ela
nos dirige.
É impossível olhar para Ana
Costalima e não sentir. Olhar para Ana Costalima e não criar. Quem a percebe,
pela primeira vez, não tem como evitar os seus olhos e a sua efusão em abraçar.
Tudo nela é poesia e determinação. Tudo, em Ana Costalima, me parece a
expressão poética do desejo, assim como se tece a melodia que se perfaz na
concha e no rumor.
Artista de traçados inimagináveis, de lampejos fortíssimos de formosura frente ao insculpível. É beleza rara tirada do óbvio, do concreto, do reto, da matéria prima a qual se fez Adão... É talento oriundo da mesma terra de Chico Anysio, de Aldemir Martins, de Franzé d'Aurora e de tantos outros artistas nativos, autóctones que o tempo trata de esquecer, mas que tratamos de aclamar!!! parabéns
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