segunda-feira, 1 de outubro de 2012

A Arte de Ana Costalima

             Dimas Macedo
                                            
 
              Entre todas as linguagens com as quais a sociedade reveste as suas intenções e as suas formas, parece ser a arte aquela que agrega o melhor conjunto de valores e o mais sofisticado de todos os apelos.

            Acredito ser impossível apreciar a arte de boa qualidade e não desejar tê-la para si, uma vez que a arte é a extensão do nosso imaginário e do nosso desejo de estar-no-mundo e de lutar até onde as energias da vida possam permitir.

A arte atravessa os caminhos escuros do nosso inconsciente e, na proporção em que se vai tornando soberana, projeta no espaço do nosso exterior o caleidoscópio no qual nos espelhamos. E não há como fugir da sua linguagem sedutora, da sua tentação desafiante e dos lençóis de linho com os quais ela nos envolve.

Ana Costalima é uma artista plural e multifacetada. Toca todos os instrumentos da escansão poemática, e transita da escultura do ferro e da gravura à pintura de linhagem clássica que aponta para o limite de todos os desejos.

E sabe manipular, com esmero, o desenho de linhas abstratas e a alquimia das formas como se fosse uma equilibrista que caminha por fios de arame sem a necessidade de nenhum elemento de apoio.

A escultura parece ser, de plano, o seu supremo campo de domínio, mas não o é. Ana Costalima é mais do que aquilo que aparenta ser; e é muito mais ainda do que aquilo que a respeito dela se pode imaginar.

Em sua exposição – Linhas da Alma –, por exemplo, ela demonstra o quanto é possível transformar as estruturas pesadas dos materiais resistentes em folhas laminadas em branco e em linhas que apontam para as grandes levezas da vida.

A dança das formas resistentes, a leveza significante do traço, o desenho simbólico da sinergia da alma, a comandar o prazer e o deleite dos apreciadores, são valores e achados com os quais Ana Costalima nos encanta.

Todos os recursos da criação artística que lhes foram facultados, ela os reuniu nos objetos que constituem essa exposição, pois o prazer estético que ela nos revela a partir de suas esculturas é dos mais intrigantes que até hoje se fez no Ceará.

Um crítico de arte talvez quisesse inventar teorias ou escolas, tendências estéticas ou didáticas para enquadrar a perspectiva de trabalho de Ana Costalima, como se ela fosse um artista que necessita de classificação. Mas não é isto o que penso a respeito da sua produção.

Acho que Ana Costalima é uma artista de traços criativos que primam pela leveza da forma e do desenho, e que nos dizem também, com muita sutileza, que a arte de viver implica, necessariamente, em tomar a criação como ponto de partida.

            E a criação como ponto de partida é tudo o que importa a Ana Costalima, especialmente quando ela se debruça sobre o ofício de escrituração do poema, pois essa grande artista cearense é também poetisa, e poetisa no sentido mais justo da palavra.

           Ana Costalima, como poucos artistas que conheço, trafega, com esmero, pelas linhas do imponderável. Não é uma engenheira do poema, no sentido cabralino do termo. Não escreve pela emoção, mas pelo ouvido.

          Compreende sinais, interpreta signos, fixa a atenção num ponto qualquer do horizonte, desce o olhar sobre o papel e o poema explode em forma de canção e de resguardo de sua doce sensibilidade.

            Faz poemas como se estivesse ouvindo alguma partitura. Vozes musicalizadas. Melodias sonoras. Texto preparado para a virtuose e para as grandes energias do corpo.

            A palavra, em Ana Costalima, constitui a sedução de todos os prazeres. O movimento, o alento, o alimento, nesta ordem de partida do zen oriental, integram a sinergia do texto que ela nos dirige.

            É impossível olhar para Ana Costalima e não sentir. Olhar para Ana Costalima e não criar. Quem a percebe, pela primeira vez, não tem como evitar os seus olhos e a sua efusão em abraçar. Tudo nela é poesia e determinação. Tudo, em Ana Costalima, me parece a expressão poética do desejo, assim como se tece a melodia que se perfaz na concha e no rumor. 

Um comentário:

  1. Artista de traçados inimagináveis, de lampejos fortíssimos de formosura frente ao insculpível. É beleza rara tirada do óbvio, do concreto, do reto, da matéria prima a qual se fez Adão... É talento oriundo da mesma terra de Chico Anysio, de Aldemir Martins, de Franzé d'Aurora e de tantos outros artistas nativos, autóctones que o tempo trata de esquecer, mas que tratamos de aclamar!!! parabéns

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